Andy Wachowski, que realizou Matrix, é agora Lilly Wachowski
"Portanto, sim, sou transgénero. E sim, fiz a transição", escreveu num jornal LGBT de Chicago.
Esperava ser surpreendida um dia com uma notícia dada contra a sua vontade em cujo título se leria “Mudança de sexo surpreendente – os irmãos Wachowski são agora irmãs!” Foi para impedir que acontecesse, para ser ela a anunciá-lo, que Lilly Wachowski publicou esta terça-feira um comunicado no Windy City Times, o mais antigo jornal LGBT de Chicago. “Portanto, sim, sou transgénero. E sim, fiz a transição”, escreveu. Lilly Wachowski disse-o quatro anos depois de a irmã, Lana Wachowski, com quem forma a celebrada dupla de realizadores de ficção-científica responsável pela trilogia Matrix, ter feito a mesma revelação.
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Esperava ser surpreendida um dia com uma notícia dada contra a sua vontade em cujo título se leria “Mudança de sexo surpreendente – os irmãos Wachowski são agora irmãs!” Foi para impedir que acontecesse, para ser ela a anunciá-lo, que Lilly Wachowski publicou esta terça-feira um comunicado no Windy City Times, o mais antigo jornal LGBT de Chicago. “Portanto, sim, sou transgénero. E sim, fiz a transição”, escreveu. Lilly Wachowski disse-o quatro anos depois de a irmã, Lana Wachowski, com quem forma a celebrada dupla de realizadores de ficção-científica responsável pela trilogia Matrix, ter feito a mesma revelação.
Reconhecidamente avessa à exposição mediática, tal como a irmã – “considero que falar sobre a minha arte é frustrantemente entediante e falar sobre mim um tormento”, escreveu no comunicado –, Lilly Wachowski, nascida Andy, decidiu comunicar à imprensa ser uma mulher transgénero depois de ser abordada à porta de casa por um repórter do jornal britânico Daily Mail, que lhe propôs encontrarem-se nos dias seguintes para lhe tirar uma fotografia e contar a sua história "tão inspiradora”. Não era a primeira vez que a realizadora era abordada com o mesmo propósito. Porém, o facto de, desta vez, o jornalista ter surgido à porta de sua casa levou-a a agir. Além disso, explica, a recordação que tinha do Daily Mail não era a mais favorável. “Este é o grupo noticioso que desempenhou um grande papel no assumir público de Lucy Meadows, uma professora primária e mulher trans no Reino Unido”, que se suicidaria meses depois de a história ter sido publicada. “E agora aqui estavam eles, à porta de minha casa, quase que a dizer – ‘Cá está outra! Vamos arrastá-la para cá para fora para que todos possam dar uma espreitadela’”.
Em comunicado, o Daily Mail defende não ter sido responsável pelo sucedido a Lucy Meadows, cuja história terá chegado à imprensa local através dos pais de alguns alunos. Refere ainda que, na nota de suicídio da professora, esta apontava uma série de razões que a levaram a tomar a trágica decisão, sem que a imprensa fosse referida uma única vez.
No comunicado no Windy City Times, Lilly refere que, apesar do progresso dos últimos anos, as pessoas transgénero “continuam a ser demonizadas e vilipendiadas nos media, onde anúncios pagos”, denuncia, as "retratam como potenciais predadores" para as "impedir até de usar o raio da casa-de-banho”. Escreve ainda que ser transgénero continua a ser entendido de uma forma dogmática, num mundo dominado pela dicotomia masculino-feminino. “A minha realidade é que tenho estado em transição e continuarei em transição toda a minha vida, através do infinito que existe entre o masculino e o feminino, tal como acontece no infinito entre o binário de zero e um. Precisamos de elevar o diálogo além da simplicidade do binário”, defendeu.
A saga Matrix, cujo primeiro filme foi estreado em 1999, tornou Lilly e Lana Wachowski (então Andy e Larry Wachowski) duas das mais celebradas realizadoras de Hollywood, estatuto cimentado pela conclusão da trilogia e por V de Vendetta. Cloud Atlas, em 2012 (Lana Wachowski assumiu-se transgénero num spot promocional do filme), antecedeu o último projecto da dupla, a série do Netflix Sense8.