Com a Rota dos Balcãs entupida, vários países reforçam segurança nas fronteiras

Governo búlgaro enviou 400 soldados para junto da fronteira com a Grécia e a Macedónia e pretende agora prolongar a barreira na sua fronteira terrestre com a Turquia.

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a segurança está a ser freforçada em várias fronteiras Ognen Teofilovski/Reuters

Barreiras, helicópteros, soldados… O Governo búlgaro fez no passado fim-de-semana uma demonstração de força junto à sua fronteira com uma mensagem destinada aos candidatos a asilo: sigam o vosso caminho, mas não por aqui.

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Barreiras, helicópteros, soldados… O Governo búlgaro fez no passado fim-de-semana uma demonstração de força junto à sua fronteira com uma mensagem destinada aos candidatos a asilo: sigam o vosso caminho, mas não por aqui.

A Bulgária, tal como a Albânia, países vizinhos da Grécia, não excluem o surgimento de novos itinerários migratórios que passem pelos seus territórios, agora que a actual rota dos Balcãs está praticamente fechada.

Durante um exercício conjunto das forças de ordem, no sábado, na fronteira entre a Bulgária e a Grécia, o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borissov, anunciou o envio de 400 soldados suplementares para esta zona situada a menos de duas horas de carro da fronteira entre a Grécia e a Macedónia, onde estão bloqueados há mais de dez dias milhares de sírios e iraquianos.

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“Dispomos de equipamentos de vigilância sofisticados que permitem travar uma vaga migratória”, disse depois, na segunda-feira, frente aos seus homólogos europeus na cimeira UE-Turquia.

Interrogado esta terça-feira pela rádio austríaca A-1, o líder da Autoridade Nacional contra o Tráfico Humano, Gerald Tatzgern, testemunhou um “aumento de actividade” dos passadores “a partir dos grandes campos de refugiados na fronteira turco-síria”, com destino “não apenas à Grécia, mas também directamente da Turquia para a Bulgária, para depois continuarem para a Roménia”.

Mais a sul, as rotas clandestinas dos migrantes poderão também bifurcar em direcção à Albânia e a Itália. “Esta possibilidade não deve ser ignorada”, reconheceu no sábado o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni, apesar de considerar que o risco pode ser minimizado graças “à cooperação, activa há já muito tempo, com o governo albanês”.

A rota do Adriático
Roma deverá em breve fornecer os meios logísticos e humanos suplementares para ajudar Tirana a controlar as suas fronteiras, segundo disseram fontes concordantes à AFP.

A “rota do Adriático”, entre a costa albanesa e a região italiana da Apúlia, já foi utilizada por vagas de imigração massiva. Em 1991, dezenas de milhares de albaneses viajaram por mar até às costas italianas dentro de embarcações precárias e superlotadas.

Entre a Grécia e a Albânia, os itinerários clandestinos através das montanhas também serviram de passagem para milhares de migrantes albaneses em direcção à Grécia nos anos 1990 e 2000 e são bem conhecidos dos passadores.

Mas será que os candidatos a asilo, entre eles mulheres e crianças em grandes números, se vão lançar por caminhos perigosos, fisicamente muito exigentes e cada vez mais vigiados?

“Ainda é cedo para dizer”, considera Leonard Doyle, um porta-voz do Gabinete Internacional de Migrações interrogado pela AFP. “A pressão da Europa para reduzir as partidas da Turquia é enorme, e isso pode funcionar.”

Os países da EU endureceram o tom na segunda-feira, na cimeira de Bruxelas, e estão dispostos a reconduzir para a Turquia todos os migrantes que chegarem ilegalmente às ilhas gregas, uma decisão que está ainda pendente de um acordo final com a Turquia.

Muitos obstáculos
O “corredor” migratório que conduziu em 2015 mais de 850 mil migrantes da Grécia a países da Europa do Norte como a Alemanha, a Áustria ou a Suécia, passando pela Macedónia e outros países da ex-Jugoslávia, ainda não foi oficialmente declarado encerrado, mas a verdade é que só têm conseguido passar nas últimas semanas umas centenas de sírios e iraquianos.

Do seu lado, a Bulgária já ergueu na sua fronteira terrestre com a Turquia (cerca de 260 quilómetros) uma barreira de 30 quilómetros e tem como objectivo prolongá-la ao longo de 130 quilómetros. Cerca de 2000 polícias já foram enviados para a zona.

Os camiões que transportam clandestinos nas barbas de polícias búlgaros que são corrompidos pelos passadores continuam a ser uma realidade mas a Frontex já aumentou a sua presença do lado búlgaro da fronteira e a Turquia também reforçou o número de guardas fronteiriços, explicou o analista Vladimir Tchoukov.

Da Bulgária, a via mais directa para chegar à Europa ocidental passa pela Sérvia. Mas é preciso atravessar uma região montanhosa e o governo de Belgrado está pouco inclinado a tolerar passagens massivas pelo seu território.

Mais a norte, uma entrada pela Roménia é ainda mais difícil: apenas dois pontos ligam este país à Bulgária e uma travessia por barco do Danúbio “não escaparia aos guardas fronteiriços”, considera Vessela Tcherneva, do centro europeu de análise de política externa em Sofia.

E há um obstáculo suplementar: a Hungria, que já fechou as fronteiras com a Croácia e a Sérvia, lançou já trabalhos preparatórios para fazer o mesmo com a fronteira com a Roménia.

A Bulgária, o país mais pobre da UE, ganhou a reputação de um país pouco hospitaleiro para os imigrantes. Em 2015, perto de 30 mil migrantes foram registados, enquanto milhares de outros passaram clandestinamente. As organizações de defesa dos direitos humanos denunciam frequentes casos de violência e maus-tratos contra os migrantes por parte das forças de ordem.