O duelo republicano é entre Donald Trump e Ted Cruz
O resultado da votação do "Super-Sábado" foi um pesadelo para o Partido Republicano, que viu os dois concorrentes anti-sistema coleccionar delegados. Marco Rubio ainda acredita numa reviravolta.
Se ainda restavam dúvidas sobre a natureza contestatária e oposicionista, e o forte sentimento anti-sistema que actualmente vigora entre as hostes conservadoras, estas foram dissipadas pelos resultados das últimas votações para a nomeação republicana à Casa Branca, que deram a vitória ao senador Ted Cruz no Kansas e no Maine e ao milionário Donald Trump (Luisiana e Kentucky).
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Se ainda restavam dúvidas sobre a natureza contestatária e oposicionista, e o forte sentimento anti-sistema que actualmente vigora entre as hostes conservadoras, estas foram dissipadas pelos resultados das últimas votações para a nomeação republicana à Casa Branca, que deram a vitória ao senador Ted Cruz no Kansas e no Maine e ao milionário Donald Trump (Luisiana e Kentucky).
O “Super-Sábado” – designação que exagera a importância dos caucus, onde estão em jogo um número reduzido de delegados – consolidou a ideia de que o duelo no lado republicano será entre Donald Trump e Ted Cruz, os dois candidatos que melhor representam a tendência desafiadora, populista e até nacionalista que anima uma parte substancial do eleitorado.
À medida que a corrida avança, começa a ser cada vez menos plausível o cenário desejado pelos barões do Partido Republicano, que finalmente cerrou fileiras em torno da candidatura do senador da Florida, Marco Rubio. De resto, a intensa campanha anti-Trump iniciada por comités de acção política diversos, inúmeras organizações conservadoras e pelos media norte-americanos, também não produziu o efeito desejado: os votos das bases continuaram a fugir dos representantes do establishment e a dividir-se pelos dois concorrentes que mais se desviam do modelo politicamente correcto.
O magnata do imobiliário e estrela da reality tv, principal “insurrecto” da corrida, continua na frente, tanto no número de estados conquistados e de delegados arrecadados até ao momento, como nas projecções sobre as intenções de voto. No sábado, apesar de alguns sinais de desgaste da sua campanha, prevaleceu nos estados do Luisiana e do Kentucky, os maiores e mais diversos da noite e onde a votação não está restrita a independentes; o seu estatuto de favorito permanece inalterado.
Mas a surpresa da noite foram as vitórias do ultra-conservador Ted Cruz nos caucus (votações em assembleias) do Maine e do Kansas, que são profundamente reveladoras: mostram o nível de organização e a capacidade de mobilização da sua campanha, que já extravasa os limites do bloco de evangélicos, e – principalmente – confirmam que é possível explorar as vulnerabilidades de Donald Trump e baralhar a dinâmica da corrida. De acordo com as sondagens à boca da urna, a grande maioria dos eleitores que decidiram à última hora em quem iam votar preferiram Cruz, que feitas as contas até recolheu mais apoios do que o seu rival (64 delegados contra 49 de Trump).
Além das primárias, Ted Cruz ganhou no concurso de popularidade promovido pela Conferência da Acção Política Conservadora (CPAC), a influente reunião anual convocada pela União Conservadora Americana e que decorreu em Washington no fim-de-semana. O texano foi escolhido por 40% dos conferencistas, enquanto o seu principal rival, Marco Rubio, obteve 30% das preferências.
Previsivelmente, o candidato texano – uma das figuras predilectas do movimento Tea Party – fez pontaria contra o homem do sistema, Marco Rubio, no seu triunfante discurso pós-eleitoral em que se posicionou como o único capaz de fazer frente a Trump. “Enquanto o campo continuar dividido, a vantagem é dele”, disse. O seu argumento para o afastamento de Rubio é poderoso: “Para vencer Trump, não se pode esperar pela Convenção, tem de se ganhar nas urnas. Essa conversa de que o partido pode impor o seu candidato na Convenção só mostra como o establishment de Washington está confuso, e não entende o que está a acontecer”, observou.
Marco Rubio continua a acreditar ser o candidato mais bem posicionado para derrotar Trump e fazer frente a Hillary Clinton em Novembro. Mas olhando para o estado da corrida republicana, é cada vez mais difícil conciliar a crença com a realidade: tirando uma vitória extemporânea no Minnesota, o dinâmico senador republicano de 44 anos ainda não conseguiu impor-se a nenhum dos seus concorrentes em nenhuma votação – e até agora, já foram 19. Pior: só em duas delas Rubio conseguiu terminar em segundo.
No domingo, os títulos da imprensa americana variavam entre “uma má noite” e “uma péssima noite” na descrição da performance de Rubio, e das suas aspirações presidenciais. A classificação final do jovem senador foi tão má que no Luisiana e no Maine não conseguiu sequer os mínimos que lhe permitem coleccionar delegados. Mas ignorando as evidências, Marco Rubio repetia este domingo que já sabia que a fase inicial da campanha era a “mais desfavorável” e que “daqui para a frente" a corrida iria melhorar para o seu lado.
O seu estado natal da Florida, que vota a 15 de Março, será a sua última oportunidade: nada mais do que uma vitória retumbante permitirá manter a sua candidatura. “Vamos ganhar a Florida e conquistar só de uma vez mais delegados do que os que estavam em jogo nestes quatro estados juntos", garantiu.
A Florida é o primeiro que atribui os seus representantes num sistema de winner takes all (o que fica em primeiro ganha tudo). O último republicano a apostar toda a sua campanha numa vitória na Florida foi o antigo mayor de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, em 2008: a sua candidatura acabou na noite das eleições, quando o senador John McCain ganhou o a Florida – e todos os seus 99 delegados.
Mais vitórias para Sanders
No campo democrático, apesar da “simpatia” pela revolução prometida pelo senador Bernie Sanders, a caminhada de Hillary Clinton para a nomeação parece já imparável: a ex-secretária de Estado só venceu num dos três estados que foram a votos no "Super-Sábado", o Luisiana, que era o grande “prémio” da noite – o estado mais populoso e onde 30% do eleitorado é afro-americano. O processo democrata, com a atribuição de delegados proporcionalmente aos votos e a escolha dos super-delegados, beneficia a candidatura de Clinton, que muito facilmente pode converter uma derrota numa vitória em termos matemáticos.
Ainda assim, o autoproclamado socialista do Vermont não pretende sair de cena. “Ganhámos no Nebraska e esmagámos no Kansas, o caminho para a vitória continua aberto. Temos a dinâmica, a energia e o entusiasmo do nosso lado, vamos em frente até à Convenção nacional de Filadélfia”, garantiu Sanders. Muitos analistas vêem na campanha de Sanders um desejo genuíno de influenciar a plataforma política democrata, desviando o seu eixo para a esquerda – ao contrário dos candidatos que se mantêm em contenda para obter um cargo numa futura Administração, esse será o verdadeiro propósito da candidatura do veterano político do Vermont.
As campanhas já estão no Michigan, um dos estados mais importantes. As eleições são terça-feira, e os dois favoritos gozam de uma vantagem confortável nas sondagens: Donald Trump segue com 41%, segundo a projecção da NBC News/WSJ/Marist para a primária republicana; o mesmo inquérito coloca Hillary Clinton 17 pontos à frente de Bernie Sanders, com 57% das intenções de voto entre os democratas.
Uma semana mais tarde, vota-se na Florida e no Ohio, os dois swing-states (estados que não são fiéis a um partido) que decidem eleições nos Estados Unidos.