Polícia turca usa balas de borracha e gás lacrimogénio para controlar jornal
Tribunal nomeou administrador para grupo do diário Zaman, investigado por terrorismo e ligações ao imã Gülen. UE e Washington criticam Governo de Ancara.
A polícia turca disparou balas de borracha e usou gás lacrimogénio e canhões de água para obrigar a dispersar uma manifestação de cerca de 500 pessoas que protestavam contra a tomada de controlo pelo Estado do jornal Zaman, próximo da oposição e, sobretudo, do imã Fethullah Gülen, outrora um aliado do Presidente Recep Tayyip Erdogan mas agora seu inimigo.
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A polícia turca disparou balas de borracha e usou gás lacrimogénio e canhões de água para obrigar a dispersar uma manifestação de cerca de 500 pessoas que protestavam contra a tomada de controlo pelo Estado do jornal Zaman, próximo da oposição e, sobretudo, do imã Fethullah Gülen, outrora um aliado do Presidente Recep Tayyip Erdogan mas agora seu inimigo.
O jornal de sábado saiu ainda com a manchete “Um dia de vergonha”. Mas a polícia entrou no edifício do jornal pela meia-noite de sexta-feira, com gás lacrimogénio e um canhão de água, para forçar a passagem. O director do Zaman, Abdulhamit Bilici, foi despedido, bem como o colunista Bulent Kenes, e Sevgi Akarcesme, principal editor do Today’s Zaman, o jornal em língua inglesa do grupo. A agência noticiosa Cihan, do mesmo grupo, foi igualmente abrangida pela ordem de um tribunal que nomeou um administrador judicial para estes órgãos de comunicação social, que estão a ser investigados – em processos relacionados com terrorismo.
Na verdade, todos estes estes media são vozes incómodas para o regime cada vez mais autoritário de Erdogan e do seu Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), há uma década no poder. O AKP e Erdogan relacionam-nos com o imã Gülen, que vive nos Estados Unidos, e é neste momento procurado por “terrorismo”, até com uma oferta de recompensa, acusado de ter tentado patrocinar um golpe de Estado na Turquia.
Não é a primeira vez que órgãos de comunicação social críticos são intervencionados desta forma – poucos dias antes das eleições antecipadas, o mesmo aconteceu aos jornais Millet e Bugün e a duas televisões, do grupo Koza-Ipek, ligado à oposição e a Gülen. Defensor da modernização do islão, Gülen construiu a sua influência graças a uma rede de escolas e universidades que formaram boa parte da moderna elite turca.
Na mesma altura, Can Dundar, o director do Cumhuriyet, outro diário, e um outro jornalista, foram também presos, por terem divulgado um vídeo em que diziam revelar imagens dos serviços secretos turcos a entregar armas aos islamistas na Síria.
O Zaman também já fora atacado anteriormente. Agora, após ter passado para o controlo do Estado, a União Europeia e os Estados Unidos criticaram mais uma vez a actuação das autoridades turcas. “A Turquia fez outro ataque contra a liberdade de imprensa”, afirmou Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, que prometeu falar do caso com o primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, quando se encontrar com ele, na segunda-feira, na cimeira UE-Turquia sobre a crise dos refugiados.
“A UE tem sublinhado muitas vezes que a Turquia, enquanto país candidato à adesão, deve respeitar e promover normas e práticas democráticas elevadas, como a liberdade dos media”, diz um comunicado da União Europeia. “Todos os países, e em particular os que negociam a adesão à UE, devem garantir os direitos fundamentais, tal como a liberdade de expressão, e os procedimentos judiciais regulares.”
Washington, que tem sido mais crítico com a Turquia, lamentou “a última de uma série de inquietantes acções judiciais e policiais” do Governo turco contra os media e “contra os que o criticam”.
Ahmet Davutoglu defendeu as acções do Governo. “A Turquia tem o direito de interrogar quem participa numa clara tentativa de golpe, seja ele económico ou jornalístico, contra um Governo eleito.”