Nenhum republicano quer Trump, mas também ninguém o rejeita

Depois de mais um debate rico em insultos, todos os candidatos republicanos prometeram apoiar Donald Trump caso ele vença a nomeação do partido.

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Trump contestou a ideia de Rubio, que diz que as mãos do magnata são pequenas e que, por isso, o seu pénis também o deve ser. Rebecca Cook/Reuters

Não foi sempre esse o caso, mas desde que Donald Trump provou ser capaz de transformar a liderança nas sondagens em votos reais, a cada semana colecciona novas vitórias e solidifica a sua aura de inevitabilidade, começou também a tornar-se o alvo consensual nos debates republicanos, como aconteceu novamente na noite de quinta-feira, em Detroit. Horas antes de subir ao palco, o líder das primárias republicanas já fora atacado por Mitt Romney, que, encarnando um partido assustado e fracturado diante da ascensão de Trump, o acusou de ser uma “fraude”. Os concorrentes seguiram-lhe a deixa em directo para a televisão.

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Não foi sempre esse o caso, mas desde que Donald Trump provou ser capaz de transformar a liderança nas sondagens em votos reais, a cada semana colecciona novas vitórias e solidifica a sua aura de inevitabilidade, começou também a tornar-se o alvo consensual nos debates republicanos, como aconteceu novamente na noite de quinta-feira, em Detroit. Horas antes de subir ao palco, o líder das primárias republicanas já fora atacado por Mitt Romney, que, encarnando um partido assustado e fracturado diante da ascensão de Trump, o acusou de ser uma “fraude”. Os concorrentes seguiram-lhe a deixa em directo para a televisão.

Como figura preferida do establishment, Marco Rubio defendeu a ideia consensual — mas não necessariamente certa — de que Trump será incapaz de vencer as eleições gerais norte-americanas por nem sequer conseguir o apoio do seu próprio partido. “Dois terços das pessoas que votaram numa primária ou caucus republicano fizeram-no contra ti”, acusou Rubio. A principal razão para isso, disse, coincidindo com o argumento-chave de Ted Cruz — ele próprio um nome vilificado no partido —, é que Trump é “alguém cujas posições não são conservadoras”.

Trump esteve uma vez mais no centro das atenções. E acusações. Não só vindas dos seus opositores directos, que o questionaram novamente sobre o seu carácter, escândalos empresariais e desconhecimento sobre as suas próprias propostas políticas, mas também por uma severa equipa de moderadores da Fox News, que o confrontaram com mais dureza do que qualquer outra estação: exibiram vídeos em que Trump surgia dizendo o contrário do que defende agora, obrigaram o milionário a admitir que terá de ser “flexível” no assunto da imigração e demonstraram fragilidades no seu plano económico.

Entre os jornalistas estava Megyn Kelly, a quem Trump acusou — pouco disfarçadamente — de estar menstruada depois de um confronto intenso entre os dois no primeiro debate emitido pela Fox. Trump usou-a como razão para boicotar o segundo encontro televisivo no canal, mas o conflito não se repetiu na noite desta quinta-feira, mesmo depois de várias perguntas exigentes de Kelly. “Como estás?”, começou por dizer a jornalista, que durante anos entrevistou regularmente Donald Trump. “É óptimo estar contigo, Megyn”, respondeu-lhe o magnata, acrescentando: “Estás com óptimo aspecto.”

Os candidatos foram menos civilizados. Ted Cruz foi persistente, embora novamente menos explosivo que Marco Rubio, que tenta replicar o tom ágil do último debate mesmo que muitos o acusem agora de estar a imitar os insultos vulgares de Trump — nos primeiros dez minutos, Trump respondia pelo tamanho das suas mãos e pénis, que Rubio questionou num comício. Mas no terreno da seriedade, foi o senador do Texas quem parece ter conseguido reforçar melhor o argumento de que é ele, e não Rubio (que depende das primárias na Flórida a 15 de Março para se manter na campanha) o candidato conservador mais indicado para uma corrida a dois contra Trump. “Conta até dez, Donald, conta até dez”, disse Cruz a Trump, enquanto ele lhe chamava “Ted, o mentiroso”. “Respira, respira, respira — tu consegues fazê-lo.”

Donald Trump tem o apoio de algumas figuras importantes do Partido Republicano, como o governador de Nova Jérsia, Chris Christie, que parece assumir já o papel de seu candidato a vice-presidente. Mas o grosso do establishment vê Trump como um candidato potencialmente desastroso para a sobrevivência do partido.

O alarme torna-se mais evidente à medida que Trump se mostra cada vez mais inevitável. É um fenómeno facilmente documentado pela dureza — por vezes pandemónio — dos últimos debates. Mas, no mesmo dia em que os dois candidatos republicanos derrotados por Obama em 2008 e 2012 — Romney e John McCain — apelaram a uma frente unida contra Trump, nenhum outro se mostrou disposto a rejeitar o magnata por completo.

Os quatro concorrentes republicanos disseram na noite de quinta-feira estarem dispostos a apoiar o vencedor das primárias republicanas na corrida à Casa Branca quando chegar o momento de enfrentar o candidato democrata, mesmo que este seja Trump, que todos — com a notável excepção de John Kasich, o moderado governador do Ohio — acusaram na noite de quinta-feira de ser um desastre antecipado.

Para Rubio, as alternativas são piores: seja Hillary Clinton “que mentiu às famílias das vítimas de Benghazi”, ou Bernie Sanders, “um socialista”. Cruz prometeu o seu apoio pelo facto de “ter dado a sua palavra” e Kasich parece ter conseguido resumir a disposição geral no interior do Partido Republicano, que considera a possibilidade de não apoiar Trump mesmo que este vença as primárias: “Ele às vezes faz com que isso seja um pouco difícil, mas vou apoiar quem quer que seja o nomeado.”