Caixabank e Isabel dos Santos confirmam conversações sobre BPI, mas sem acordo "até agora"

Acções foram suspensas durante a manhã desta quarta-feira pelo regulador do mercado de capitais.

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Empresária Isabel dos Santos tem travado algumas decisões ligadas ao BPI Fernando Veludo/NFACTOS

Através de dois comunicados que foram divulgados em simultâneo ao final da tarde desta quarta-feira, o Caixabank e Isabel dos Santos vieram confirmar a existência de conversações entre as duas partes e o BPI, mas sem que tenham resultado ainda num acordo. Ambos os comunicados são curtos, mas têm pequenas diferenças. O do banco espanhol (maior accionista do BPI) diz que “até agora” não foi encontrada uma solução para resolver o que o Banco Central Europeu (BCE) considera ser o excesso de risco pela exposição da instituição liderada por Fernando Ulrich a Angola. Isto após as duas partes terem explorado “várias alternativas para alcançar uma solução”.

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Através de dois comunicados que foram divulgados em simultâneo ao final da tarde desta quarta-feira, o Caixabank e Isabel dos Santos vieram confirmar a existência de conversações entre as duas partes e o BPI, mas sem que tenham resultado ainda num acordo. Ambos os comunicados são curtos, mas têm pequenas diferenças. O do banco espanhol (maior accionista do BPI) diz que “até agora” não foi encontrada uma solução para resolver o que o Banco Central Europeu (BCE) considera ser o excesso de risco pela exposição da instituição liderada por Fernando Ulrich a Angola. Isto após as duas partes terem explorado “várias alternativas para alcançar uma solução”.

Quanto ao comunicado da Santoro, empresa através da qual Isabel dos Santos detém cerca de 19% do BPI (sendo o seu segundo maior accionista), refere-se que “têm sido mantidos contactos entre os principais accionistas do banco com vista a encontrar uma solução equilibrada”, mas que não há “qualquer acordo”. A nota de pressão surge quando o accionista angolano diz que “acompanha com preocupação a aproximação do termo do prazo” fixado pelo BCE para resolver a exposição a Angola, que termina a 10 de Abril. 

Os comunicados surgiram em resposta a um pedido de esclarecimentos por parte do regulador do mercado de capitais, a CMVM, que interrompeu a negociação das acções do BPI nesta quarta-feira de manhã. Os títulos foram suspensos pelas 11 horas, altura em que estavam a negociar com uma valorização de  10,2%. Ganhos que ocorreram na sequência de uma notícia da Bloomberg que dava conta de que a Santoro, de Isabel dos Santos, estaria a negociar a venda da sua participação ao Caixabank. O supervisor dizia esperar a divulgação de informação relevante, ou seja, esclarecimentos por parte das partes envolvidas, de modo a poder autorizar o regresso das acções à negociação em bolsa. As acções do banco chegaram a subir mais de 12% logo na abertura da bolsa e foram transaccionados 7,4 milhões de títulos no arranque.

A concretizar-se esta operação, o Caixabank aumentaria a sua posição para 65% do capital da instituição portuguesa, o que o obrigaria a lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) a um preço idêntico ao que for acordado com a empresária. Os dois maiores accionistas têm assumido posições divergentes em relação a várias decisões estratégicas para o banco, a última das quais está relacionada com a solução para a exposição do BPI a Angola.

De acordo com a notícia da Bloomberg, a negociação entre o Caixabank e a Santoro abrange não só os 18,58% de Isabel dos Santos, mas também os 2,28% do angolano BIC Angola (do qual a empresária é a principal accionista, embora a existência desta posição só tenha sido revelada há poucos dias).

De acordo com a agência, nas conversações está ainda em causa o futuro da participação do BPI em Angola, onde o banco português detém 50,1% do BFA. A Unitel, controlada por Isabel dos Santos, detém as restantes acções do BFA.

O BCE impôs como data-limite o dia 10 de Abril para o BPI reduzir a exposição a Angola. Em cima da mesa já esteve uma proposta da administração de cisão dos activos africanos (Angola e Moçambique) numa nova holding, que ficaria também na bolsa de Lisboa (com uma réplica das posições accionistas hoje existentes na instituição financeira liderada por Fernando Ulrich).

No entanto, Isabel dos Santos chumbou a solução, que, para passar na assembleia-geral, necessita dos seus votos (os estatutos do BPI blindam o capital de voto a 20%, independentemente da posição accionista ser superior, como acontece no caso do Caixabank). A administração do BPI avançou com uma proposta para acabar com a blindagem, mas ainda não foi marcada a assembleia-geral para debater esta questão, que também têm tido resistências por parte de Isabel dos Santos.

Nesta quarta-feira, as acções do BCP também foram alvo de uma forte subida, tendo os títulos da instituição liderada por Nuno Amado crescido 10,5% para 0,04 euros. “Qualquer coisa que mexa com o BPI acaba por mexer com o BCP. Em comum, têm accionistas angolanos. Resolvendo-se a situação no BPI, poderá olhar-se para o BCP de outra forma”, disse Gualter Pacheco, corretor da GoBulling no Porto, à agência Reuters.

O principal accionista do BCP é a Sonangol, petrolifera estatal angolana (aliada de Isabel dos Santos na Galp Energia). A empresária angolana já defendeu uma proposta de fusão entre o BPI e o BCP.