Quem quer matar o debate da eutanásia?
As declarações da bastonária dos Enfermeiros toldaram uma discussão que devia ser normal.
O tema da eutanásia, antigo na sociedade portuguesa, voltou à ribalta por via de um manifesto cívico, assinado por pessoas de várias áreas ideológicas (da esquerda à direita) e voltou de um modo cordato. Trata-se de trazer essa discussão para a esfera pública e fazer a sociedade participar nela, independentemente das posições de cada um, condicionalmente concordantes ou rigorosamente adversas.
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O tema da eutanásia, antigo na sociedade portuguesa, voltou à ribalta por via de um manifesto cívico, assinado por pessoas de várias áreas ideológicas (da esquerda à direita) e voltou de um modo cordato. Trata-se de trazer essa discussão para a esfera pública e fazer a sociedade participar nela, independentemente das posições de cada um, condicionalmente concordantes ou rigorosamente adversas.
Ora sobre essa discussão paira uma declaração, da bastonária dos Enfermeiros, que disse, num debate na Rádio Renascença textualmente isto: “Nós trabalhamos em equipa, médicos e enfermeiros, e houve médicos que sugeriram, por exemplo, administrar insulina àqueles doentes para lhes provocar um coma insulínico.” “Isso no sistema nacional de Saúde?”, perguntou a moderadora. “Sim, como é óbvio, não estou a chocar ninguém porque quem nos está a ouvir e trabalha no SNS sabe que estas coisas acontecem. Eu não estou a dizer que as pessoas o fazem, estou a dizer é que temos que falar sobre elas.” A Ordem dos Médicos reagiu com dureza e o Ministério da Saúde solicitou uma inspecção. Compreende-se: a bastonária disse “houve médicos que”, não falou em sugestões de enfermeiros, e isso é o bastante apara acirrar uma disputa corporativa; e o ministério não podia ficar quieto, porque senão o povo fica a pensar que nos hospitais públicos lhe matam os familiares. Claro que a bastonária lamenta ninguém ter chamado o Ministério Público quando ela disse, mal tomou posse, que viu “dois enfermeiros para 57 doentes.” Mas as desgraças do dia-a-dia, como se sabe, comovem menos do que a hipótese de pôr fim à vida de alguém no segredo das paredes de um hospital. Assim, um tema que devia ser discutido com humanidade e nobreza, corre o risco de ser atirado para a mesma prateleira dos crimes do sinistro dr. Mengele. Portugal merecia melhor. Mas nem nisto tem emenda.