Partido Republicano chega desorientado à Super Terça-feira
Os sinais de divisão no interior do partido são cada vez mais evidentes devido ao sucesso de Donald Trump. No Partido Democrata, Hillary Clinton tenta voltar a ser a candidata inevitável.
Quem chegou agora à campanha para a escolha do candidato do Partido Republicano na corrida à Casa Branca pode pensar que se enganou no espectáculo e acordou no meio de um circo, rodeado de palhaços e acrobatas. Se o Donald diz que o Marco tem "o maior par de orelhas" que ele já viu, o Marco responde que o Donald devia processar "quem lhe fez aquilo à cara"; se o Ted diz que ouvir o Donald a falar é mesmo como "ir ao circo ver acrobatas e ursos a dançar", o Donald diz que o Ted é "um mentiroso perverso". E a má notícia é que a campanha a sério só vai começar agora, na tão aguardada Super Terça-feira.
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Quem chegou agora à campanha para a escolha do candidato do Partido Republicano na corrida à Casa Branca pode pensar que se enganou no espectáculo e acordou no meio de um circo, rodeado de palhaços e acrobatas. Se o Donald diz que o Marco tem "o maior par de orelhas" que ele já viu, o Marco responde que o Donald devia processar "quem lhe fez aquilo à cara"; se o Ted diz que ouvir o Donald a falar é mesmo como "ir ao circo ver acrobatas e ursos a dançar", o Donald diz que o Ted é "um mentiroso perverso". E a má notícia é que a campanha a sério só vai começar agora, na tão aguardada Super Terça-feira.
Por mais divertido que seja imaginar uma campanha deste tipo em Portugal, onde um político pode sentir-se ofendido se não o tratarem por doutor ou professor, a verdade é que a campanha do Partido Republicano nas eleições deste ano já ultrapassou todos os limites – o que começou por ser um combate de boxe, violento mas com regras, evoluiu nos últimos dias para uma daquelas competições clandestinas que se vêem em filmes de série C, e de onde só um pode sair vivo.
É com esta sede de sangue que os principais candidatos do Partido Republicano partem para o dia mais importante da campanha até agora, depois das votações em quatro estados que apenas serviram para perceber quem fica no pelotão da frente – Donald Trump, Ted Cruz e Marco Rubio estão na luta, mas John Kasich e Ben Carson pouco mais podem fazer do que ir arrastando as suas candidaturas por mais alguns dias ou semanas.
Perguntas&Respostas: O que é a Super Terça-feira
Por comparação, do outro lado, a campanha no Partido Democrata quase parece a assinatura de um tratado de paz – o senador Bernie Sanders, o fenómeno de 74 anos que tem atraído uma multidão de jovens que até à Europa da década de 1990 poderiam identificar-se com a social-democracia nórdica, tem preferido sublinhar as suas propostas, deixando de lado os ataques pessoais a Hillary Clinton.
Em jogo, esta terça-feira, está a conquista de uma quantidade de delegados em vários estados, que no caso do Partido Republicano representam cerca de metade dos necessários para se obter a nomeação. Com Donald Trump embalado por três vitórias consecutivas no New Hampshire, Carolina do Sul e Nevada, e com o vento das sondagens a empurrá-lo ainda mais para a frente, o Partido Republicano já não esconde a crise em que mergulhou por não ter conseguido chegar a esta fase da corrida sem um claro favorito da ala considerada mais tradicional – Jeb Bush já se foi, agora é a vez de Marco Rubio.
Alguns membros destacados do Partido Republicano não fazem por menos, e falam mesmo numa "escolha existencial" – o momento em que o Partido Republicano tal como o conhecemos pode simplesmente desaparecer do mapa.
"Torna-se cada vez mais difícil de dia para dia quando acontecem coisas como não se condenar o apoio de David Duke e do Ku Klux Klan. Espero que o partido não se autodestrua", disse ao jornal Washington Post o antigo senador do Partido Republicano Norm Coleman, do estado do Minnesota, um apoiante de Marco Rubio nestas eleições. Coleman referia-se ao apoio público a Donald Trump manifestado pelo antigo líder de um dos ramos do movimento racista norte-americano – um apoio que Trump começou por reprovar na passada sexta-feira, mas ao qual se tem referido em termos menos inequívocos desde então.
Quem tem medo de Donald Trump, Donald Trump, Donald Trump?
Mas por cada manifestação de repúdio pelo voto em Donald Trump surge um novo sinal de que o magnata está mesmo a caminho de conquistar os delegados suficientes para vencer as primárias do Partido Republicano. De forma surpreendente, o governador de Nova Jérsia, Chris Christie, decidiu apoiar Trump depois de ter desistido da corrida, e agora surge ao lado do magnata em cada comício, como se já tivesse sido escolhido para candidato a vice-presidente.
Se for preciso mais uma prova de que o fenómeno Trump não tem paralelo na história moderna das eleições nos EUA, aqui está ela: o apoio de Christie não prejudicou nas sondagens a aura de candidato anti-sistema do magnata, que apela a um eleitorado farto de políticos troca-tintas. Poucos dias antes das primárias no New Hampshire, há apenas três semanas, foram estas as palavras que Chris Christie dirigiu a Donald Trump: "Sobre o tipo que está em primeiro lugar nas sondagens. Vocês sabem que aquilo é tudo a fingir, não sabem? Não é a sério. É tudo para a televisão." Na sexta-feira passada, Christie não podia ter representado melhor o papel de um político troca-tintas supostamente tão desprezado por Trump e por grande parte dos seus apoiantes: "Estou absolutamente convencido de que Donald Trump é o melhor candidato a Presidente dos Estados Unidos."
Esta Super Terça-feira é muito importante para Donald Trump, mas pode ser um caso de vida ou de morte política para os senadores Ted Cruz e Marco Rubio. Olhando para as sondagens, ambos têm tarefas complicadas. Cruz precisa de vencer no estado que o elegeu senador, o Texas; terminar pelo menos em 2.º lugar na noite; e esperar que Trump não obtenha 55% ou mais dos delegados em jogo. Rubio não joga em casa esta terça-feira (a sua Florida só vai a votos no dia 15 de Março), mas precisa de sair de terça-feira como o principal rival de Trump e vencer em alguns estados – algo que ainda não conseguiu fazer desde o início das primárias.
Depois das votações no Iowa, no New Hampshire, na Carolina do Sul e no Nevada, as primárias entram agora na fase em que apenas ficar em 2.º não serve de cartão-de-visita a ninguém – é preciso começar a ganhar e a provar que é possível derrotar Donald Trump com votos e não com aquilo a que os americanos chamam o momentum, ou dinâmica de vitória.
Do lado do Partido Democrata, a candidatura de Hillary Clinton estará a pensar que as coisas começam a regressar à sua ordem natural, depois da vitória esmagadora na Carolina do Sul. Esta terça-feira, muitos dos estados que vão a votos são também do Sul, onde Clinton está em vantagem nas sondagens em relação a Bernie Sanders, graças a um maior reconhecimento junto do eleitorado negro. Com o arranque da fase das primárias em que os candidatos dos dois partidos vão ter menos possibilidades de contactar potenciais eleitores porta a porta, é natural que os nomes mais reconhecidos em termos nacionais saiam beneficiados – e nesta corrida poucos nomes têm um reconhecimento público tão alargado como Hillary Clinton e Donald Trump.