Demolição da “Selva” de Calais avança em clima de tensão

Polícia, migrantes e activistas envolveram-se em novos confrontos durante o dia. Organizações criticam forma como demolições estão a decorrer.

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Pelo menos seis tendas foram incendiadas durante as demolições Pascal Rossignol/Reuters

Equipas de demolição apoiadas pela polícia de choque regressaram nesta terça-feira à “Selva” de Calais para continuarem o desmantelamento da zona sul do campo. A tensão entre polícia, migrantes e activistas mantém-se, depois de terem sido registados mais confrontos durante a noite de segunda-feira.

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Equipas de demolição apoiadas pela polícia de choque regressaram nesta terça-feira à “Selva” de Calais para continuarem o desmantelamento da zona sul do campo. A tensão entre polícia, migrantes e activistas mantém-se, depois de terem sido registados mais confrontos durante a noite de segunda-feira.

Activistas no local afirmaram que os habitantes do campo foram forçados a abandonar os seus abrigos ao início da manhã, e alguns começaram um protesto de forma a interromper os trabalhos de demolição no local.

A polícia de choque lançou mais gás lacrimogéneo durante a noite, em resposta a protestos contra a operação que tem por objectivo desmantelar centenas de abrigos temporários. A organização não-governamental britânica Help Refugees afirmou ao jornal The Guardian que seis tendas foram incendiadas e que a polícia impediu várias tentativas para apagar as chamas.  

Não existem relatos de feridos graves, mas pelo menos três pessoas – possivelmente activistas – foram detidas durante os trabalhos de demolição, informação avançada pelo jornal Independent.

Nico Stevens, coordenadora da Help Refugees, afirmou que pelo menos 150 pessoas ficaram desalojadas, mas que muitas continuam no campo, a dormir em tendas ou em locais partilhados. Stevens acrescentou ainda que as autoridades de Calais pretendem demolir todo o campo durante as próximas semanas. “Eles disseram que pretendiam acabar até ao final de Março e parece que isso vai mesmo acontecer”, afirmou.

A activista deixou fortes críticas à forma como estão a decorrer as demolições. “Prometeram que as pessoas seriam tratadas humanamente e com dignidade, mas isso não está a acontecer. Algumas pessoas foram despejadas às cinco ou às seis da madrugada e não tinham para onde ir”, afirmou.

Ginny Howells, da ONG Save the Children, descreveu a situação vivida em Calais como “muito caótica”. “Eles [refugiados e imigrantes] estão todos incrivelmente preocupados e ansiosos. As pessoas estão a mover-se para outros campos, onde a situação ainda é pior”, declarou ao Independent. Howells denunciou ainda que várias crianças abrigadas no centro juvenil da ONG foram atingidas pelo gás lacrimogéneo lançado pela polícia na segunda-feira.

Já as autoridades de Calais têm acusado grupos de activistas como a No Borders de serem os responsáveis pela  tensão que se vive no campo. O gabinete da prefeitura de Pas-des-Calais acusa os activistas de utilizarem tácticas de “intimidação”, acusando-os de manipular os migrantes para que estes não aceitem as propostas do Governo para serem realojados noutros locais.

As autoridades francesas dizem que têm planos para recolocar os habitantes da “Selva” de Calais noutras partes do país – onde poderão requerer asilo –, mas muitos têm resistido à mudança, temendo que isso os possa prejudicar no seu sonho de chegar ao Reino Unido, passando pelo Canal da Mancha.

O número de afectados pelas demolições é uma incógnita, com autoridades francesas e organizações não-governamentais a não se entenderem sequer sobre o número total de habitantes do campo. Para as autoridades francesas, as operações afectam entre 800 a mil migrantes e refugiados, enquanto para as ONG o número real corresponde a 3450 pessoas, incluindo centenas de crianças, muitas delas desacompanhadas. 

Texto editado por Ana Fonseca Pereira