O pano vai voltar a subir no Teatro da Vista Alegre
Sala de espectáculos foi criada, há quase 200 anos, para entreter os trabalhadores da reconhecida fábrica de porcelanas. Acaba de ser requalificada e está prestes a ganhar nova vida.
Podia ser apenas mais uma sala de espectáculos secular a conseguir resistir ao passar dos anos, mas é mais do que isso. A começar, desde logo, pelo propósito com que foi criada: ser ponto de entretenimento e valorização cultural dos trabalhadores de uma unidade fabril. Falamos do Teatro da Vista Alegre, edificado em 1826, no conjunto arquitectónico da reconhecida fábrica de porcelanas, e que marcou várias gerações de trabalhadores e habitantes deste lugar do município de Ílhavo. Em breve, irá reabrir as portas ao público, depois de ter sido alvo de profundas obras de requalificação, na certeza de que manterá a essência de sempre: ser uma sala de espectáculos que vive de e para a comunidade local.
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Podia ser apenas mais uma sala de espectáculos secular a conseguir resistir ao passar dos anos, mas é mais do que isso. A começar, desde logo, pelo propósito com que foi criada: ser ponto de entretenimento e valorização cultural dos trabalhadores de uma unidade fabril. Falamos do Teatro da Vista Alegre, edificado em 1826, no conjunto arquitectónico da reconhecida fábrica de porcelanas, e que marcou várias gerações de trabalhadores e habitantes deste lugar do município de Ílhavo. Em breve, irá reabrir as portas ao público, depois de ter sido alvo de profundas obras de requalificação, na certeza de que manterá a essência de sempre: ser uma sala de espectáculos que vive de e para a comunidade local.
“É um teatro muito especial”, assegura Duarte José, funcionário da Vista Alegre e antigo presidente do grupo de teatro nascido a partir dos trabalhadores da fábrica (Grupo de Teatro Ribalta). Duarte José conhece e sente a sala de espectáculos como muito poucos, atendendo a que começou a frequentar o espaço quando era ainda bebé. “A minha mãe era actriz e eu ia para o teatro num berço”, testemunha. Daí até saltar para o palco não tardou muito. “Sempre que havia um papel para crianças lá ia eu representar”, acrescenta, a propósito da sua iniciação no grupo “que foi responsável por grandes referências no teatro amador”, afiança o antigo dirigente.
E o que torna esta sala de espectáculos tão especial? “Estar inserida numa comunidade fabril e resultar da preocupação de um empresário em proporcionar uma componente cultural ao seus trabalhadores”, responde, de imediato, Duarte José – além de representações teatrais, o teatro acolheu também sessões cinematográficas, bailes e actuações musicais. “O edifício também é muito bonito e o ambiente que se consegue criar em dias de espectáculos é muito especial”, nota ainda o antigo dirigente e actor.
O imóvel, construído pouco depois da fábrica (1824), já foi alvo de cinco intervenções de fundo. A primeira aconteceu no ano de 1851, a segunda ocorreu em 1905 e a terceira no ano de 1970. Em 1998, e por força de ter estado inactivo durante muito tempo, o edifício teve de voltar a sofrer obras para reabrir ao público, e, em Março de 2014, foi iniciada uma nova intervenção de requalificação, que acaba, agora, de chegar ao fim e que, na opinião de Duarte José, conseguiu um resultado positivo. “O teatro ficou bonito e manteve a sua traça”, especifica.
Idêntica opinião tem o actual presidente do Grupo de Teatro Ribalta, João Anjos. “Manteve-se fiel ao original, mas está como novo, com melhores condições e dois novos camarins”, realça o dirigente e actor. “Aquilo que pudemos observar só nos deixa com ainda mais vontade de voltar a subir àquele palco”, reforça João Anjos, ao mesmo tempo que diz ter a expectativa de levar ao Teatro da Vista Alegre a mais recente produção do grupo - a peça “Filinto – o poeta amargurado”, que retrata a vida do poeta Filinto Elísio.
Obra custou mais 700 mil euros
A requalificação do Teatro da Vista Alegre custou cerca de 770 mil euros (com 540 mil euros de apoio comunitário) e foi assumida pela câmara municipal de Ílhavo, entidade que passará, agora, a ficar responsável pela gestão do espaço – ao abrigo de um contrato de comodato assinado com a Visabeira, actual detentora da empresa Vista Alegre. “Queremos que seja mais uma sala de espectáculos do município, funcionando em rede com os actuais centros culturais de Ílhavo e da Gafanha da Nazaré, e o recentemente inaugurado centro sócio-cultural da Costa Nova”, destacou ao PÚBLICO Fernando Caçoilo, presidente da autarquia.
A sala de espectáculos tem capacidade para 194 espectadores – 130 na plateia e os restantes nos camarotes – e, de acordo com Fernando Caçoilo, com esta obra de requalificação, ficou com condições de excelência para acolher pequenos espectáculos, passando também a contar com um novo atractivo. “Durante as obras foi descoberta uma pintura da autoria de Palmiro Peixe, que estava com umas placas de pladur por cima, e decidimos recuperá-la para que possa ser apreciada por todos”, desvenda o edil.
A autarquia ainda não tem data prevista para a inauguração do teatro, uma vez que aguarda a conclusão da obra do Museu da Vista Alegre para agendar uma festa que assinale a requalificação destes equipamentos e a abertura do hotel (a funcionar desde Novembro do ano passado). Por definir está também a programação inaugural da sala de espectáculos. Atendendo a que ainda está em curso o processo de substituição do programador cultural do município – José Pina “transferiu-se” para o concelho de Aveiro – o presidente da câmara ilhavense prefere aguardar. “Faz todo o sentido que o futuro programador tenha uma palavra a dizer em relação ao Teatro da Vista Alegre”, acentuou Fernando Caçoilo.