Mais de 40% dos portugueses afirmam não saber nada sobre a hepatite C

Um estudo apresentado esta quarta-feira revela que os portugueses têm pouco conhecimento sobre a hepatite C – desde a prevenção ao diagnóstico, atitudes e comportamentos, bem como na identificação dos mitos associados à doença.

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Fabricar medicamentos falsos é um delito que, em Portugal, dificilmente levará o infractor à prisão David Cliford/Arquivo

Quando se fala em doenças, apenas 6% dos portugueses referem a hepatite C de forma espontânea. Já no que respeita à cura, 51% diz saber da sua existência. Estes são alguns dos resultados de um estudo sobre o conhecimento da doença, apresentado esta sexta-feira, no auditório do Diário de Notícias, no âmbito da Conferência TSF Retrato da hepatite C em Portugal.

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Quando se fala em doenças, apenas 6% dos portugueses referem a hepatite C de forma espontânea. Já no que respeita à cura, 51% diz saber da sua existência. Estes são alguns dos resultados de um estudo sobre o conhecimento da doença, apresentado esta sexta-feira, no auditório do Diário de Notícias, no âmbito da Conferência TSF Retrato da hepatite C em Portugal.

Os valores mudam quando o leque de patologias é limitado apenas àquelas que são causadas por vírus: aqui a referência à hepatite C sobe para 14%, sendo a terceira doença mais referida, atrás da gripe e da infecção pelo VIH/SIDA, com 40 e 36%, respectivamente.

Apesar de não ser uma doença recordada de imediato pela população, os portugueses têm noção da gravidade da hepatite C. Numa escala compreendida entre 0 e 10, em que 0 representa "Nada Grave" e 10 "Muito Grave", os inquiridos registaram uma média de 8,9, sendo só a infecção pelo vírus da SIDA considerada mais grave.

Entre outras conclusões, a população inquirida mostra-se ainda pouco conhecedora sobre o vírus que provoca a hepatite C – o VHC. Embora quase metade dos portugueses identifique a hepatite C como a principal patologia que afecta o fígado, mais de dois terços mostra-se incapaz de referir aspectos da doença, como sintomas, características ou formas de transmissão. Mesmo assim, metade dos inquiridos sabe que existe cura para o VHC, e 58% afirma saber da existência de um teste de diagnóstico. 

Classificando o grau de informação sobre o vírus, 42% dos indivíduos da amostra consideram-se muito mal informados, enquanto 45% se consideram medianamente informados. Apenas 13% se sentem muito bem informada. Quando questionados sobre o conhecimento da população portuguesa, a percepção piora, com 46% a considerarem a população mal informada, 49% medianamente informada e apenas 5% muito bem informada. 32% afirma conhecer alguém com esta doença. 

Os inquiridos revelaram ainda dificuldades em distinguir o que é verdadeiro do que é mito quando confrontados com várias afirmações sobre a hepatite C. A televisão é a fonte preferencial de informação da esmagadora maioria, 52%. Seguem-se a Internet, os jornais e revistas e, por último, os profissionais de saúde, com apenas 9%.

O preço elevado e a eficácia dos medicamentos associados à doença também foram referidos no decurso do estudo, em que 47% dos inquiridos dizem ter ouvido falar de um novo medicamento para a doença. 

Portugal tornou-se um caso de referência em todo o mundo, uma vez que foi o primeiro país a comprometer-se com a eliminação da hepatite C. Estima-se que cerca de 1300 doentes portadores de hepatite C tenham sido curados. No entanto a eliminação tem ainda importantes passos a dar, sendo a informação um dos aspectos mais importantes.

António Gomes, director geral da empresa responsável pelo estudo, considera que, perante o “conhecimento difuso” que o inquérito revelou, faz “todo o sentido fazer chegar informação à população”. O dirigente avançou que a amostra foi seleccionada com base em critérios que a tornam “indiscutivelmente representativa”, podendo ser extrapolada para a restante população portuguesa. A margem de erro máxima associada, para um intervalo de confiança de 95%, é de 4 pontos percentuais.

A amostra deste estudo teve por base 602 indivíduos, com idades compreendidas entre os 18 e os 65 anos, residentes em Portugal continental. A região da Grande Lisboa foi a que registou mais entrevistas, 27% dos inquiridos, seguida da do Norte Litoral, com 19%. As regiões do Alentejo e do Algarve foram as que registaram menos inquéritos, com 5 e 4%, respectivamente.

Todos os graus de escolaridade foram incluídos, predominando os inquiridos com o 12.º ano, 27%, seguidos dos que completaram totalmente a instrução primária, 22%. As respostas recolhidas foram, em 47% dos casos, fornecidas por inquiridos do sexo masculino. A entrevista telefónica foi o método de recolha de informação utilizado, e as entrevistas foram realizadas em 2015, nos fins-de-semana, entre as 15h e as 22h, e nos dias úteis entre as 17h e as 22h.

A investigação foi desenvolvida pela consultora GfK, em parceria com a Gilead Sciences, empresa norte americana de biofarmacologia. O estudo contou com a parceria da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado, da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, da Associação SOS Hepatites e do Grupo GAT.