Um armazém de almas à espera
O 7 de Março, em Genebra ou na Turquia, deveria ser o início do fim da crise dos refugiados.
É uma espécie de contagem decrescente para Março, mês de todas as decisões. Espera-se. Em Janeiro, Donald Tusk afirmava que a União tinha “dois meses para salvar Schengen”, notando na altura que a chegada de imigrantes não tinha registado um abrandamento por causa do Inverno. Umas semanas depois, o holandês Mark Rutte dizia que a União tinha “seis a oito semanas para resolver um problema que se está a tornar insustentável”. Esta semana, Dimitris Avramopoulos, o comissário da Imigração, dava conta do tiquetaque do relógio: “Nos próximos dez dias, temos de ver resultados claros e palpáveis. Se não, todo o sistema pode ruir.”
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É uma espécie de contagem decrescente para Março, mês de todas as decisões. Espera-se. Em Janeiro, Donald Tusk afirmava que a União tinha “dois meses para salvar Schengen”, notando na altura que a chegada de imigrantes não tinha registado um abrandamento por causa do Inverno. Umas semanas depois, o holandês Mark Rutte dizia que a União tinha “seis a oito semanas para resolver um problema que se está a tornar insustentável”. Esta semana, Dimitris Avramopoulos, o comissário da Imigração, dava conta do tiquetaque do relógio: “Nos próximos dez dias, temos de ver resultados claros e palpáveis. Se não, todo o sistema pode ruir.”
Estão todos a apontar para Março, mês da próxima cimeira europeia, que envolverá a Turquia, e que deverá acontecer no dia 7. Curiosamente no mesmo dia em que em Genebra, se a “cessação de hostilidades” na Síria correr bem, são retomadas as conversações de paz para tentar debelar um conflito que já dura há quase cinco anos e que provocou uma enorme vaga de refugiados, nomeadamente para a Europa.
Na Síria poucos acreditam numa trégua a longo prazo, nomeadamente Obama: “Há muitas razões para estarmos cépticos.” Apesar de alguma descrença, a “cessação de hostilidades”, uma versão menos ambiciosa e mais precária do que um cessar-fogo, terá começado ontem à noite e, a confirmar-se, permitirá sobretudo que a ajuda humanitária chegue a regiões que estão cercadas, sendo alvo de bombardeamentos. A Rússia e o regime de Bashar al-Assad já avisaram que não vão parar os bombardeamentos contra os extremistas do Estado Islâmico ou dos rebeldes sírios da Frente al-Nusra. Como este último grupo está mais disseminado pelo território e mistura-se em muitas regiões com os rebeldes moderados que aceitaram ser representados nas negociações de paz, será uma “cessação de hostilidades” muito difícil de monitorizar.
Enquanto a trégua na Síria não chega, os refugiados continuam a chegar aos milhares às ilhas gregas, numa altura em que, em vez de estar a preparar as soluções para a cimeira de 7 de Março, a Áustria se juntou a nove países dos Balcãs para encerrar as fronteiras da Rota dos Balcãs, quase abrindo um conflito diplomático com a Grécia, que assim assiste a um aglomerar de refugiados junto da fronteira com a Macedónia. Uma decisão que foi tomada sem “convidar” a Grécia, e logo a seguir a um conselho em que os líderes europeus garantiram que não deveriam ser tomadas decisões unilaterais antes de 7 de Março. A Europa no seu pior.
Atenas, em retaliação, já veio recusar a visita ao país solicitada pela ministra do Interior austríaca, e o ministro adjunto grego para a Imigração lançou um aviso: “A Grécia não aceitará tornar-se o Líbano da Europa, um armazém de almas, mesmo que haja dinheiro da UE para isso.” Pode ser que o 7 de Março traga boas notícias a essas almas, vindas da Turquia, ou vindas de Genebra.