O homem dos sorteios da UEFA tornou-se no novo presidente da FIFA

Eleito à segunda volta, Gianni Infantino assumiu a liderança do organismo que tutela o futebol mundial para o período 2016-2019. No discurso de vitória disse que a crise acabou, mas há algumas vozes cépticas.

Foto
Fabrice Coffrini/AFP

Gianni Infantino tornou-se uma cara familiar para os adeptos de futebol quando começou a ser o anfitrião dos sorteios das competições europeias. O advogado de 45 anos, que tem nacionalidade suíça e italiana, é secretário-geral da UEFA desde 2009 e entrou na corrida à presidência da FIFA como plano B — Infantino avançou dado o impedimento do presidente da UEFA, Michel Platini (suspenso pelo comité de ética da FIFA por suspeitas de corrupção), e acabou no trono do futebol mundial. É ele o nono presidente eleito em 112 anos de história da FIFA até 2019, escolhido por 115 das 207 federações nacionais com direito a voto.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Gianni Infantino tornou-se uma cara familiar para os adeptos de futebol quando começou a ser o anfitrião dos sorteios das competições europeias. O advogado de 45 anos, que tem nacionalidade suíça e italiana, é secretário-geral da UEFA desde 2009 e entrou na corrida à presidência da FIFA como plano B — Infantino avançou dado o impedimento do presidente da UEFA, Michel Platini (suspenso pelo comité de ética da FIFA por suspeitas de corrupção), e acabou no trono do futebol mundial. É ele o nono presidente eleito em 112 anos de história da FIFA até 2019, escolhido por 115 das 207 federações nacionais com direito a voto.

Zurique foi o palco de um longo dia para a FIFA. O congresso extraordinário, convocado após a renúncia de Joseph Blatter à presidência do organismo que tutela o futebol mundial, em Junho, devido à detenção de vários dirigentes e à acumulação de suspeitas de corrupção e subornos, esteve reunido durante horas a fio para discutir uma ordem de trabalhos com 12 pontos. O mais aguardado era o penúltimo: a eleição do presidente. Uma a uma, as 207 federações depositaram o voto na urna (Indonésia e Koweit, suspensas, não puderam votar) para escolher uma nova liderança.

A primeira ronda, em que eram necessários dois terços dos votos (138) para haver um vencedor, foi inconclusiva: Infantino recolheu 88 votos, contra 85 do xeque Salman bin Ebrahim al-Khalifa (Bahrein), que era apontado como favorito. O príncipe Al bin al-Hussein (Jordânia) teve 27 votos e o francês Jérôme Champagne sete. O sul-africano Tokyo Sexwale, verdadeiro outsider desta eleição, retirou-se da corrida ainda antes da votação, mas foi dele um dos discursos mais marcantes do dia, a colocar o dedo na ferida com uma pitada de descontracção e outra de seriedade: “A atribuição em simultâneo da organização de dois Mundiais [à Rússia em 2018 e ao Qatar em 2022] não pode repetir-se. Foi isso que nos trouxe aqui.”

O poliglota Gianni Infantino — durante o dia falou em inglês, francês, espanhol, alemão e italiano — vai liderar a FIFA num momento particularmente difícil da vida da instituição. Nos EUA decorre uma investigação ao esquema de subornos, lavagem de dinheiro e fraude na venda de direitos de várias competições, que envolvia responsáveis do futebol continental. Muitos actuais e ex-dirigentes foram detidos e implicados. E as autoridades suíças estão a debruçar-se sobre a atribuição dos Mundiais de 2018 e 2022.

“O futebol e a FIFA passaram por momentos tristes, de crise. Mas esses tempos acabaram. Temos de implementar reformas, melhorar a administração e a transparência”, afirmou Infantino no seu discurso de vitória. Mais tarde, numa curta conferência de imprensa, expressou o desejo de “devolver o futebol à FIFA e a FIFA ao futebol”. “Vamos recuperar a imagem da FIFA. Vão ficar orgulhosos do que vamos fazer pelo futebol”, acrescentou.

Numa eleição em que nenhum dos candidatos era visto como a personificação da mudança radical necessária à FIFA, houve quem se mostrasse pouco optimista com a vitória de Infantino. O FIFPro, sindicato mundial dos futebolistas profissionais, pediu reformas mais radicais e acusou o novo presidente da FIFA de fazer parte “de uma estrutura e de uma cultura de liderança abertas a práticas corruptas.”

“Infantino (...) foi depressivamente hábil ao dirigir-se aos votantes na língua que eles entendem: prometendo-lhes mais dinheiro para as suas federações, para o desenvolvimento, até mesmo um milhão de dólares por ano para despesas com deslocações”, escreveu David Conn no diário britânico The Guardian.

No seu manifesto de candidatura, o novo presidente da FIFA também anunciava um aumento “muito significativo do Programa de Assistência Financeira”, traduzido num mínimo de cinco milhões por federação e 40 milhões por confederação, ao longo de quatro anos, para investimento no desenvolvimento do futebol. “A FIFA tem reservas de 1500 milhões, o errado seria não investir esse dinheiro nas federações”, defendeu-se Infantino. Do seu programa também consta a pouco consensual proposta de alargar o Campeonato do Mundo das 32 equipas actuais para 40.