As ligações inesperadas de Moodymann

Na compilação para a série DJ-Kicks mostra que o que lhe interessa é a preservação da memória e o sentido futurista da música negra.

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O americano Kenny Dixon Jr, mais conhecido por Moodymann, tem vindo a reinterpretar tecnologicamente a música negra

O americano Kenny Dixon Jr, mais conhecido pelo pseudónimo Moodymann, tem vindo a reinterpretar tecnologicamente a música negra desde a segunda metade dos anos 1990. As alusões ao jazz, funk, soul, disco ou hip-hop, sobre base electrónica inspirada na música house, têm sido o núcleo de mais de dez álbuns e muitos máxi-singles e remisturas.

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O americano Kenny Dixon Jr, mais conhecido pelo pseudónimo Moodymann, tem vindo a reinterpretar tecnologicamente a música negra desde a segunda metade dos anos 1990. As alusões ao jazz, funk, soul, disco ou hip-hop, sobre base electrónica inspirada na música house, têm sido o núcleo de mais de dez álbuns e muitos máxi-singles e remisturas.

O seu raio de acção nunca foi a música dançante mais programática. Em todas as suas deambulações há qualquer coisa de misterioso, nocturno, introspectivo e surpreendente. Não admira por isso que ao ser convidado para criar uma compilação para a série DJ-Kicks, tenha optado por uma triagem que não se resume a uma digressão pelo house menos previsível.

Ao longo de 75 minutos e cerca de 30 faixas, Moodymann não desaponta, apresentando uma selecção que vai da soul ao hip-hop, do disco ao house, expondo uma dúzia de recriações da sua autoria, numa selecção que contempla Yaw, Dopehead, Jai Paul, Flying Lotus, Cody Chesnutt ou Nightmares On Wax. Há canções e temas de abstracção rítmica, há consciência afro-americana e procura do prazer, há música climática e utilitária de dança, há uma sensibilidade peculiar guiada pela curiosidade.  

A primeira metade é dominada por temas de batidas preguiçosas, numa espécie de leitura alternativa aos últimos anos do universo R&B e hip-hop. Depois entra-se no território disco e house com uma remistura de Fort Know para Rodney Hunter, mas com algumas surpresas pelo meio, como uma versão orquestral de Our darkness de Anne Clarke, gravada ao vivo.

Independentemente das tipologias, o que sempre interessou a Moodymann é o tratamento do espaço e do tempo, a preservação da memória e o sentido futurista de música, o ondular colectivo dos corpos e o bater pessoal do coração, e tudo isso acaba por ter aqui tradução. Magnífico.