O caso do banco Efisa
Depois do BPN, do BES e do BANIF, a capitalização e venda do banco Efisa é, talvez, o caso onde se torna mais difícil distinguir o negócio da negociata.
Imagine um banco público sem atividade durante quase 6 anos, com um reduzido montante de depósitos, onde o anterior Governo injetou 90 milhões de euros e vendido pelo mesmo Governo por 38 milhões de euros a uma sociedade com poucos dias de vida que conta com Miguel Relvas (ex-número 2 desse Governo) como recém-acionista.
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Imagine um banco público sem atividade durante quase 6 anos, com um reduzido montante de depósitos, onde o anterior Governo injetou 90 milhões de euros e vendido pelo mesmo Governo por 38 milhões de euros a uma sociedade com poucos dias de vida que conta com Miguel Relvas (ex-número 2 desse Governo) como recém-acionista.
É o caso do banco Efisa, sociedade financeira e bancária que pertenceu ao universo do BPN até ao processo da nacionalização deste, em 2008.
Antes da nacionalização, o Efisa foi cliente da KapaKonsult, consultora com a qual colaborava Miguel Relvas, que acumulava este “part-time” com a função de deputado. Digo que colaborava porque não ficou totalmente esclarecido se Miguel Relvas foi mesmo administrador da KapaKonsult. Acrescente-se que o BPN-Efisa era o único cliente da KapaKonsult.
Com a nacionalização, o Efisa passou a ser gerido pela Parvalorem, entidade presidida por Francisco Nogueira Leite, ex-administrador da Tecnoforma com Passos Coelho.
Foi no período da presença de Miguel Relvas no anterior Governo PSD/CDS que se iniciou o processo da venda do banco Efisa.
O passo decisivo foi dado pelo despacho da ex-Secretária de Estado do Tesouro e Finanças, Isabel Castelo Branco, datado de Março de 2014, que determinou a injeção de 90 milhões de euros de dinheiro público no Efisa, sem que alguma vez estivesse em causa a proteção dos depositantes.
Mais tarde, em Outubro de 2015, o ainda Governo de Passos Coelho decidiu vender o Efisa por cerca de 38 milhões de euros à Pivot SGPS, em alternativa a uma outra proposta protagonizada pela Patris (sociedade que adquiriu o Real Vida).
Conhece a Pivot SGPS? É uma sociedade financeira constituída dias antes do prazo limite para a apresentação das propostas para a aquisição do Efisa. É verdade, com poucos dias de vida a Pivot SGPS conseguiu comprar um banco público. A Pivot SGPS foi criada para comprar o Efisa. Acha possível? Foi possível, porventura pelo facto de Miguel Relva ter sido colaborador da consultora contratada pela Pivot SGPS para a aquisição do Efisa.
E se até este ponto está indeciso entre a versão “Miguel Relvas sempre teve uma paixão assolapada pelo Efisa” ou “Miguel Relvas tudo fez para ser dono do Efisa”, fique com mais este episódio, no mínimo, inquietante: Miguel Relvas é o novo acionista da Pivot SGPS, aguardando apenas autorização do Banco de Portugal.
O anterior Governo de Passos Coelho despendeu 52 milhões de euros do erário público num banco que agora é de Miguel Relvas, ex-número 2 do seu Governo. Se não estavam em causa os depósitos, será que este “assalto” ao Efisa terá tido a ver com o facto de este banco ter licença bancária para operar em Portugal, Angola, Moçambique e Brasil? E terá isso levado a que o anterior Governo tenha injetado 90 milhões de euros no Efisa para vendê-lo a “interessados”?
Depois do BPN, do BES e do BANIF, a capitalização e venda do banco Efisa é, talvez, o caso onde se torna mais difícil distinguir o negócio da negociata.
Deputado do PS