Hugh Laurie é “a pior pessoa do mundo” na TV — mas agora em O Gerente da Noite
Depois de House, a minissérie põe o actor no mundo da espionagem e do tráfico de armas ao lado de Tom Hiddleston. A partir de quarta-feira na televisão portuguesa.
Hugh Laurie, um irresistível traficante de armas, contra Tom Hiddleston, um agente infiltrado quase candidato ao lugar de James Bond. O Gerente da Noite adapta para uma minissérie de seis episódios o primeiro romance pós-Guerra Fria de John Le Carré – uma história que escapou a Hollywood e a Brad Pitt e foi parar às mãos de Susanne Bier, que decidiu mudar a visão da série. “O mundo tradicional dos espiões é muito masculino, branco e educado em colégios privados. E o mundo já não é assim”, diz ao PÚBLICO.
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Hugh Laurie, um irresistível traficante de armas, contra Tom Hiddleston, um agente infiltrado quase candidato ao lugar de James Bond. O Gerente da Noite adapta para uma minissérie de seis episódios o primeiro romance pós-Guerra Fria de John Le Carré – uma história que escapou a Hollywood e a Brad Pitt e foi parar às mãos de Susanne Bier, que decidiu mudar a visão da série. “O mundo tradicional dos espiões é muito masculino, branco e educado em colégios privados. E o mundo já não é assim”, diz ao PÚBLICO.
A realizadora dinamarquesa, que tem em casa o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro por Num Mundo Melhor, conseguiu o que queria. E mais ainda. “Sempre tive inveja de quem tivesse a oportunidade de trabalhar com” a escrita de John Le Carré, um dos mais reputados escritores de espionagem e crime, explica. E "trabalhar com Tom Hiddleston e Hugh Laurie era irresistível". Bier estreia-se assim com uma ambiciosa produção da BBC e do canal AMC (com orçamento de 27 milhões de euros) e numa altura em que “a televisão não podia ser mais atraente” – elogia a qualidade dos guionistas e a possibilidade de contar histórias mais longas, “mais complexas”.
A Paramount chegou a ter os direitos do romance O Gerente da Noite (1993) e tinha planos para o entregar a Sydney Pollack. Mais tarde, e já nas mãos de outra produtora, Brad Pitt esteve para ser um dos protagonistas da história, mas o projecto voltou a perder-se nas burocracias de Hollywood. Agora, é a televisão que o recebe, com estreia em Portugal no canal AMC (Meo e Cabovisão) às 22h10 na quarta-feira.
Quatro anos depois de House, Laurie faz mais seis episódios de televisão (no ano passado entrou na comédia Veep) e volta aos ecrãs como “o pior homem do mundo”, como lhe chama Bier, citando por seu turno uma das personagens da série. Espionagem, tráfico de armas, terrorismo – mais um genérico à moda de 007 e uma produção luxuriante. “É incrivelmente relevante para os dias que correm e foi actualizado em relação ao original: o livro passa-se nos anos 1990 e a série foi colocada nos dias de hoje”, precisa Bier ao telefone.
“O que é mais chocante em toda a investigação que fizemos antes de filmar a série, o que foi abundantemente claro”, enfatiza, “é a facilidade com que se traficam armas incrivelmente fatais.” E depois há “o pior homem do mundo, que trafica armas e que o faz com tanta facilidade, tanta elegância e tanta diversão que todos queremos estar no mundo dele; apesar de ser um mundo incrivelmente malvado”, entusiasma-se.
Quando Hugh Laurie conheceu a sua personagem, Richard Onslow Roper, nas páginas de Le Carré e no guião, abominou-o. Mas, ao mesmo tempo, “há algo de inebriante numa pessoa que se pôs para além dos limites da lei, que tem [esse tipo de] confiança, de ousadia, esse tipo de loucura”, disse o actor aos jornalistas na semana passada no Festival de Berlim, onde a série teve a sua antestreia. Gregory House esteve por lá também, em pensamento. “Penso muito nele… acho que vai ficar comigo até morrer”, comentou Laurie sobre a personagem que o define para o grande público.
Já Tom Hiddleston, galã britânico e ícone da Internet, parece ter aqui, como escreveu um crítico americano, uma longa audição para substituir Daniel Craig como James Bond. Na série, é um ex-militar britânico, Jonathan Pine, que tenta entrar no mundo de Laurie, aliás Roper, o perigoso e sedutor traficante de armas. Quem coloca Pine no caminho de Roper no livro “era um homem chamado Burr – um homem bruto, pesado”, conta John Le Carré.
“Mas, em 2015, queremos isto? Um homem branco de meia-idade contra outro homem branco de meia-idade e usando um terceiro homem branco” como arma, questiona o romancista de 84 anos numa carta incluída no material promocional da série. A versão televisiva, escrita por David Farr, conta então com Angela Burr, interpretada por Olivia Colman. Uma agente secreta e não um agente secreto. Susanne Bier é adepta da mudança de perspectiva em prol da diversificação das histórias que se contam no audiovisual americano. “Se queremos fazer uma série com o potencial de ter a audiência contemporânea como alvo, temos de reflectir o mundo como ele é”, diz.