Remessas dos emigrantes em 2015 foram as maiores em quinze anos

Desde o início do século que Portugal não recebia tanto dinheiro, mas o crescimento foi menor do que o de 2012 e 2013.

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Foi de França que veio mais dinheiro Miguel Manso

O dinheiro enviado pelos portugueses emigrados aumentou ao longo de 2015, fazendo com que aquele tenha sido o ano com o maior montante de remessas vindas do estrangeiro desde 2001.

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O dinheiro enviado pelos portugueses emigrados aumentou ao longo de 2015, fazendo com que aquele tenha sido o ano com o maior montante de remessas vindas do estrangeiro desde 2001.

Ao todo, foram transferidos de outros países 3314 milhões de euros, mais 254 milhões do que no ano anterior, o que significa um crescimento de 8%, revelam os números divulgados nesta segunda-feira pelo Banco de Portugal. É uma subida significativa, mas que fica aquém dos saltos nas remessas contabilizadas em 2012 e 2013. Naqueles dois anos, que se seguiram ao empréstimo da troika e nos quais o desemprego, particularmente entre os jovens, disparou, motivando muitos a saírem do país, o envio de dinheiro por parte dos emigrantes tinha crescido 13% e 10%.

As remessas dos emigrantes têm motivações várias. O dinheiro pode ser enviado para ajudar familiares, para uma poupança em bancos em Portugal ou para pagar empréstimos como, por exemplo, o da casa. Este é um encargo que muitas vezes ficou para trás nos casos de quem saiu do país nos últimos anos, durante os quais o crédito bancário apertou e o mercado imobiliário se ressentiu, dificultando vendas apressadas.

Os dados do Banco de Portugal não estão ainda disponíveis para todos os países. Mas mostram que os típicos destinos da emigração portuguesa têm protagonizado aumentos no total das remessas. De França vieram 1033 milhões de euros, uma subida de 17% em relação a 2014, ao passo que da Suíça entraram 842 milhões (mais 4%). Já da Alemanha chegaram 256 milhões (mais 31%), praticamente o mesmo valor que veio do Reino Unido, de onde foram transferidos 255 milhões (mais 26%). Apesar do grande crescimento nos fundos enviados pelos emigrantes nestes dois países, o aumento das remessas enviadas a partir dos EUA consegue ser maior: um crescimento de 32%, para 216 milhões de euros, a que não será alheia uma tendência de valorização do dólar face ao euro.

Por seu lado, Angola continua a ser um país importante nas remessas recebidas, mas a tendência é de queda. É o segundo ano consecutivo em que o montante cai, reflectindo as dificuldades da petroeconomia angolana face à desvalorização do crude e as restrições à saída de dinheiro impostas no país.  Chegaram deste país 218 milhões de euros, menos 30 milhões (ou 12%) do que em 2014. Um ano antes, as remessas tinham totalizado 304 milhões de euros.

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Para as contas do país, o saldo das remessas é positivo, como historicamente acontece. Subtraindo aos 3314 milhões o dinheiro que foi enviado pelos imigrantes que estão em Portugal, o resultado é novamente o melhor desde o início do século. Em 2015, saíram de Portugal 527 milhões de euros, sobretudo para países como o Brasil, França e Espanha, um montante que é uma pequena descida de oito milhões face ao ano anterior. O balanço é, assim, de 2788 milhões, mais 10% do que em 2014.

Como habitual, foram os imigrantes brasileiros que mais dinheiro enviaram a partir de Portugal, embora este montante tenha vindo a cair ao longo dos anos. Em 2015, saíram para aquele país 231 milhões de euros, uma descida de 9%.

Os dois maiores partidos no Parlamento têm, inevitavelmente, leituras contrárias dos números. Em declarações à agência Lusa, o deputado do PS Paulo Pisco argumentou que o aumento das remessas recebidas e o decréscimo das enviadas são um sinal de uma economia menos atractiva. "Tanto num caso como noutro resulta dos anos de austeridade impostos no nosso país, que levaram a uma perda de atractividade da nossa economia", afirmou.

Já o deputado do PSD José Cesário considerou que os indicadores apontam para um aumento da confiança na economia. "Esses dados revelam que os portugueses da diáspora, em 2015, mantiveram uma significativa confiança em Portugal e sobretudo na economia”.