Campanha do "não" já tem o seu cabeça de cartaz: Boris Johnson
Mayor de Londres anuncia que apoia saída britânica da UE. A sua entrada na campanha pode desequilibrar os pratos da balança.
Faltam quatro meses para o referendo à União Europeia, mas a política britânica foi já sequestrada pelo debate que se avizinha. O primeiro-ministro, David Cameron, começou o dia a avisar que a ruptura com Bruxelas, defendida por um punhado dos seus ministros, daria ao Reino Unido apenas a “ilusão de soberania”. Mas horas depois sofreu um duro golpe quando Boris Johnson, mayor de Londres e seu grande rival, anunciou que vai fazer campanha pelo “não”.
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Faltam quatro meses para o referendo à União Europeia, mas a política britânica foi já sequestrada pelo debate que se avizinha. O primeiro-ministro, David Cameron, começou o dia a avisar que a ruptura com Bruxelas, defendida por um punhado dos seus ministros, daria ao Reino Unido apenas a “ilusão de soberania”. Mas horas depois sofreu um duro golpe quando Boris Johnson, mayor de Londres e seu grande rival, anunciou que vai fazer campanha pelo “não”.
Numa declaração à porta de casa, Johnson louvou o esforço de Cameron na negociação com os parceiros europeus, mas desvalorizou o resultado, afirmando que “ninguém pode dizer de forma realista que esta é uma reforma fundamental” da presença britânica na UE – “um projecto que está em risco real de fugir ao controlo democrático”.
“Depois de 30 anos a escrever sobre isto, tenho agora a oportunidade de fazer alguma coisa”, afirmou Johnson, que antes da política foi correspondente do Telegraph em Bruxelas, para explicar uma decisão “agonizantemente difícil”. Revelou, no entanto, que não participará em debates televisivos contra membros do seu partido, dando a entender que não quer liderar a campanha do “não”, e defendeu que Cameron “deve continuar em funções”, seja qual for o desfecho da consulta.
Há meses que Johnson alimentava o tabu, entremeando críticas às intromissões de Bruxelas com o reconhecimento de que a UE foi essencial para transformar Londres na metrópole cultural e financeira que é hoje. Uma indefinição vista por muitos como pouco mais do que frio calculismo. É conhecida a sua ambição de tomar o lugar de David Cameron – seu colega mais novo no colégio de Eton, cuja carreira, à frente dos conservadores e do Governo, pode terminar antes de 2020, se perder o referendo. E o suspense mais não seria do que uma maneira de tentar perceber qual dos campos serve melhor a sua ambição.
Mas Johnson, conhecido tanto pela cabeira loura desalinhada como pela retórica de franco-atirador, é também um dos políticos mais populares do país e a sua entrada na campanha promete dar um forte impulso aos eurocépticos. Uma sondagem conhecida neste domingo adianta que um em cada três eleitores admite ser influenciado por Johnson no que diz respeito à UE, e só Cameron se revela mais influente (cuja posição é importante para 44% dos inquiridos).
A campanha do “não” desfere também um duplo golpe sobre Cameron: por um lado, reabre a brecha no círculo político do primeiro-ministro, que ele julgava ter colmatado depois da dissensão de Michael Gove, seu amigo e ministro da Justiça. Por outro, faz com que nesta campanha tenha pela frente um opositor com igual mediatismo.
Numa derradeira tentativa para o dissuadir, o líder conservador alertou Boris para o risco de “unir as suas armas” às de extremistas como Nigel Farage, líder do partido antieuropeu UKIP. “Digo a Boris aquilo que digo a toda a gente – que estaremos mais seguros, seremos mais fortes e mais prósperos dentro da UE”, insistiu, sublinhando que, no caso de saída, Londres só poderia manter-se no mercado único se aceitasse regras europeias sobre as quais não teria poder de decisão. “Viveríamos uma ilusão de soberania, mas sem poder nem controlo.”
Provando o potencial desestabilizador de um debate que divide o Partido Conservador, os ministros que se afastaram da posição oficial do Governo começaram já a atacar os argumentos de Cameron para defender a permanência na UE. Nenhum foi tão longe como Ian Duncan Smith, ministros dos Assuntos Sociais e eurocéptico da ala mais à direita dos tories, que numa entrevista à BBC afirmou que a “política de portas abertas” está a minar a segurança da UE, o que deixa o Reino Unido mais vulnerável a ataques como os de Paris.