Um concerto para “dar uma oportunidade real” aos sem-abrigo
Concerto neste sábado à noite, na Casa da Música, servirá para Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo do Porto custear tratamentos dentários, dentaduras, óculos e cauções de renda.
Não é um concerto de angariação de fundos para uma instituição de solidariedade social. Neste sábado à noite, na Casa da Música, no Porto, o espectáculo faz-se para que o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) do Porto tenha um fundo para suportar tratamentos dentários, dentaduras, óculos e cauções de renda de casa a pessoas que estiveram na rua e que estão num processo de inclusão social. O actor Rui Spranger, um dos anfitriões do evento, diz que é “para lhes dar uma oportunidade real”.
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Não é um concerto de angariação de fundos para uma instituição de solidariedade social. Neste sábado à noite, na Casa da Música, no Porto, o espectáculo faz-se para que o Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-Abrigo (NPISA) do Porto tenha um fundo para suportar tratamentos dentários, dentaduras, óculos e cauções de renda de casa a pessoas que estiveram na rua e que estão num processo de inclusão social. O actor Rui Spranger, um dos anfitriões do evento, diz que é “para lhes dar uma oportunidade real”.
A partir das 22h30, sobem ao palco Manuel Cruz, As Três Marias, Osso Vaidoso, Cabaret Fortuna, O Incrível Homem Bomba, Plaza, Rui David & Projecto Alarme e o Som da Rua. Os bilhetes custam 10 euros e revertem por inteiro para o NPISA-Porto, rede que é coordenada pela Segurança Social e agrega 68 organizações da cidade – umas públicas, outras privadas, umas formais, outras informais.
São acompanhadas pelo NPISA-Porto 972 pessoas com experiência de rua. Estima-se que haja umas cem a dormir ao relento e umas 400 em prédios devolutos. Como muitos dos que permanecem lá fora têm problemas de saúde mental, a Câmara do Porto está a tentar encontrar um espaço onde possam viver com acompanhamento.
A rede, que nasceu da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo, está organizada em quatro grupos: a plataforma de Triagem e Acompanhamento; a Plataforma de Organizações Voluntárias; a Plataforma + Emprego, que procura sinergias entre empregadores e pessoas em situação de sem abrigo; e As Vozes do Silêncio, destinada a aproximar quem tem e quem não tem abrigo através da arte.
Neste momento, na Plataforma + Emprego estão 45 pessoas aptas para trabalhar, 22 delas já inseridas no mercado social de emprego ou no mercado formal. “A minha expectativa é que se consiga ter uma casa cheia sábado à noite, que seja um bom espectáculo; e que estas 45 pessoas realmente tenham condições parar recuperar”, diz Rui Spranger, fundador da Apuro – Associação Cultural Filantrópica que integra o NPISA-Porto.
Discutiram se não deveria a acção social suprimir tais carências. “Deveria, mas a verdade é que o Estado não tem dinheiro”, exclama o actor. “Não adianta insistir nisso e nada fazer, até porque há certos mecanismos que não estão criados. O Estado pode dar um apoio mensal para a renda. E os dois ou três meses de caução?”
Quem chega à Plataforma + Emprego tem de percorrer um caminho de distância variável até ficar apto para trabalhar, explica Alfredo Figueiredo Costa, da WelcomeHOME, uma Cooperativa de Solidariedade Social dedicada à empregabilidade da população em situação de sem-abrigo na cidade. Às vezes, já só não está em condições porque não tem dentes ou porque precisa de uns óculos.
“Isto tem muito que se lhe diga”, diz o perito em economia social. As ofertas de emprego não abundam. As pessoas têm em média 45 anos e baixa escolaridade. São trabalhadores indiferenciados, amiúde com intermitentes experiências de trabalho, por vezes afastados há anos do mercado laboral.“É preciso trabalhar a motivação”, diz. “Gerir as expectativas das pessoas a longo prazo não é fácil.”
Começaram por sensibilizar as instituições que fazem parte da rede para a importância de dar uma oportunidade a quem está pronto para trabalhar. A Santa Casa da Misericórdia do Porto, por exemplo, recebeu quatro pessoas no ano passado e só não ficou com uma por “inadaptação ao posto de trabalho”. Tentam fazer o mesmo fora do terceiro sector. Comprometem-se a acompanhar cada trabalhador durante os três primeiros anos.