Palmas para a Academia
O problema não é a ortografia, é o sistema de ensino. Voilà!
Talvez muita gente não saiba, mas em finais de 1990, enquanto em Portugal era aprovado o chamado “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” (AO90), um grupo de trabalho em França apresentava também uma reforma ortográfica. A iniciativa, de Michel Rocard, levaria a alterar mais de duas mil palavras. Em países francófonos terá havido alguma adesão, mas não em França. “Poucos franceses, para não dizer nenhum”, aderiram, concluiu em 2010 um inquérito da empresa de correctores ortográficos Cordial.
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Talvez muita gente não saiba, mas em finais de 1990, enquanto em Portugal era aprovado o chamado “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” (AO90), um grupo de trabalho em França apresentava também uma reforma ortográfica. A iniciativa, de Michel Rocard, levaria a alterar mais de duas mil palavras. Em países francófonos terá havido alguma adesão, mas não em França. “Poucos franceses, para não dizer nenhum”, aderiram, concluiu em 2010 um inquérito da empresa de correctores ortográficos Cordial.
Pois bem: anuncia-se agora a introdução dessas alterações nos manuais escolares, o que levou a Academia Francesa a esclarecer dois pontos. Primeiro, participou no tal grupo de trabalho, mas não propôs as alterações, apenas deu algumas como “aceitáveis”. Segundo, como explicou a historiadora Hélène Carrère d’Encausse, secretária da instituição, em entrevista ao Le Figaro de 13 de Fevereiro, isso não implica que devam ser impostas. “A posição da Academia jamais variou num ponto: uma oposição a toda a reforma da ortografia, mas um acordo condicional acerca de um número reduzido de simplificações que não sejam impostas por via autoritária e que sejam submetidas à prova do tempo.”
Outra citação, esta curiosa: “O problema educacional da ortografia, do ensino da língua escrita, não se prende rigorosamente à ortografia, prende-se ao bom ensino de língua, a um desenvolvimento pedagógico (…). As mais complicadas são a inglesa e a francesa, e sabemos que o índice cultural desses dois países mostra que não é por uma reforma ortográfica que o índice cultural de um país vai melhorar.” O seu autor? Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, por sinal um dos paladinos do AO90, ao falar no Congresso Nacional Brasileiro em 21 de Outubro de 2014.
Hélène d’Encausse diz que, contra maus resultados (um em cada cinco alunos franceses sai da escola sem saber ler), “a questão não é dar facilidades aos alunos, conservar ou não o acento circunflexo, mas rever totalmente o sistema educativo [francês]”. Voilà! E palmas para a Academia!