Cameron jogou tudo e descobre agora em Bruxelas se pode reclamar vitória

Merkel diz que permanência do Reino Unido na UE "é do interesse nacional" da Alemanha. Cimeira começa sem certezas de que Londres conseguirá acordo capaz de convencer britânicos a votar "sim" no referendo.

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Em caso de acordo, Cameron pode anunciar já na sexta-feira a data para a realização do referendo Luke MacGregor/Reuters

Ninguém poupa nas palavras: O desfecho da cimeira desta quinta e sexta-feira será determinante para o futuro do Reino Unido na União Europeia e, consequência directa, para o futuro da própria união. Com tanto em jogo, deixaram de se ouvir as críticas a “chantagem britânica” e os líderes europeus insistem que se trabalhará noite dentro e manhã fora para garantir que David Cameron sai de Bruxelas com um acordo capaz de convencer os seus eleitores, sem beliscar os princípios fundamentais da UE e as preocupação vitais dos restantes Estados.

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Ninguém poupa nas palavras: O desfecho da cimeira desta quinta e sexta-feira será determinante para o futuro do Reino Unido na União Europeia e, consequência directa, para o futuro da própria união. Com tanto em jogo, deixaram de se ouvir as críticas a “chantagem britânica” e os líderes europeus insistem que se trabalhará noite dentro e manhã fora para garantir que David Cameron sai de Bruxelas com um acordo capaz de convencer os seus eleitores, sem beliscar os princípios fundamentais da UE e as preocupação vitais dos restantes Estados.

Para ninguém a jogada é tão decisiva como para o primeiro-ministro britânico que, depois de ter aceitado como boa a proposta apresentada no início do mês pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, não pode regressar a Londres com um acordo que dilua ainda mais as exigências que fez em Novembro. Pior, só o fracasso das negociações, o que seria uma prenda para os eurocépticos, a começar pelos do seu próprio Partido Conservador, e um desaire irreparável no esforço para vencer o referendo à permanência do país na UE.

Um cenário intermédio continua em cima da mesa – a realização de uma cimeira de urgência no final do mês, para dar mais tempo aos negociadores de partir as pedras que continuam no caminho de um acordo. Mas com as sondagens a indicarem que há cada vez mais eleitores a pensar votar “não” no referendo à UE (há valores díspares e a fiabilidade dos estudos ainda não recuperou do fiasco das legislativas, mas a média dos inquéritos indica que a vantagem do “sim” se está a estreitar), Cameron precisa rapidamente de um acordo para conseguir realizar a consulta já em Junho – Downing Street agendou uma reunião do Governo para a tarde de sexta-feira, na qual, a haver acordo, será anunciada a data da votação.

Os últimos dias de negociações foram frenéticos – Cameron foi a Berlim, Paris e Bruxelas, Tusk a meia dúzia de capitais que são vitais para um acordo – e o tom das declarações ganhou dramatismo. Nos corredores da diplomacia ficou claro que, apesar do entendimento de que há uma base para acordo, não tinham ainda sido ultrapassadas as divergências sobre aqueles que são os dois pontos mais polémicos da renegociação: os países mais pobres, com os de Leste à cabeça, estão preocupados com os apoios sociais que Londres poderá recusar aos seus emigrantes no país; Paris teme que Cameron obtenha poder de veto sobre as iniciativas para uma maior integração da zona euro ou fique em condições de isentar a City da regulamentação financeira europeia.

A 24 horas do início da reunião, a chanceler alemã foi o mais longe que podia no apoio a Cameron e à imprescindibilidade de um acordo. “Penso que é do nosso interesse nacional que o Reino Unido continue a ser um membro activo numa União Europeia forte e bem-sucedida”, disse Angela Merkel no Bundestag, ao explicar aos deputados aquela que é a posição da maior economia da UE.

A chanceler, que tem sido a principal aliada de Cameron, recusou a tese de que Cameron usou a renegociação apenas para calar os eurocépticos do seu partido, ao afirmar que em Bruxelas não vão estar “apenas os interesses particulares britânicos” e que “vários pontos [levantados por Londres] são justificados e compreensíveis”. Sobre a contenciosa proposta para limitar os apoios aos trabalhadores comunitários, disse ser “evidente que cada país membro deve poder proteger o seu sistema social contra os abusos”. Disse concordar com a afirmação, simbólica para Londres, de que nem todos os países estão obrigados a caminhar no sentido de uma maior integração política e afirmou que não deve existir discriminação nas relações entre os membros da zona euro e os restantes, mesmo que aqueles devam ser capazes “tomar decisões por si só”.

Também o primeiro-ministro francês veio dizer que Paris, apesar das reservas que ainda tem, não consegue imaginar a UE sem o país do outro lado do Canal da Mancha. O “Brexit” “seria um choque para a Europa com consequências difíceis de imaginar”, afirmou Manuel Valls, sublinhando como Merkel que a permanência britânica “é do interesse da Europa, da França e do Reino Unido”. A Leste, há sinais de que pouco mudou: o primeiro-ministro checo, Bohuslav Sobotka, disse que está disponível para chegar a um acordo, mas “não à custa dos cidadãos do país – Praga, como os países vizinhos, quer que os cortes no apoio aos imigrantes se restrinjam ao Reino Unido e não aceita que se apliquem a quem já lá reside.  

Tusk prometeu enviar uma nova proposta de acordo aos Estados-membros ainda na noite desta quarta-feira e agendou um “pequeno-almoço inglês” para a manhã de sexta, antecipando que as negociações não fiquem terminadas durante a madrugada anterior. “Cameron precisa de uma decisão por isso penso que conseguirá alguma coisa”, nem que seja preciso prolongar as negociações até ao almoço, disse à Reuters um diplomata europeu. Uma urgência que o primeiro-ministro finlandês, Juha Sipila, resumiu de forma clara: “Creio que chegaremos à unanimidade. Se o Reino Unido deixasse a UE seria uma catástrofe, em termos económicos e em muitos outros sentidos, para a União Europeia”.