Portugal emite dívida de curto prazo com juros a subir mas próximos de zero

Tesouro obteve no mercado mil milhões. Com o aumento do prémio de risco da dívida, analistas já não esperavam juros negativos na emissão desta quarta-feira.

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O IGCP previa inicialmente que fossem emitidos entre mil a 1250 milhões de euros na emissão desta quarta-feira PATRÍCIA DE MELO MOREIRA

No regresso ao mercado depois do movimento de fuga dos investidores ao risco, o Tesouro português emitiu mil milhões de euros em títulos de dívida pública de curto prazo, com as taxas de juro próximas de zero, subindo ligeiramente em relação à emissão semelhante anterior.

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No regresso ao mercado depois do movimento de fuga dos investidores ao risco, o Tesouro português emitiu mil milhões de euros em títulos de dívida pública de curto prazo, com as taxas de juro próximas de zero, subindo ligeiramente em relação à emissão semelhante anterior.

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) emitiu 300 milhões de euros em títulos de dívida que vencem dentro de três meses e mais 700 milhões de euros em bilhetes com um prazo de 11 meses. Nos títulos com maturidade até Maio, a taxa de juro média foi de 0,008%, o que compara uma taxa negativa de 0,023% na emissão realizada em Dezembro com bilhetes do tesouro a três meses.

No caso dos títulos de dívida a 11 meses, que vencem em Janeiro de 2017, a taxa de juro foi de 0,1%, subindo em relação aos 0,03% registados na emissão a 11 meses de 16 de Dezembro (em Janeiro, quando foram emitidos títulos com prazo de um ano a taxa também tinha sido negativa, de -0,001%). Na dívida a três meses a procura foi de 2,3 vezes a oferta. No segundo caso, superou a oferta 1,52 vezes. “Os números revelam uma queda no interesse pela dívida portuguesa, por parte dos credores internacionais, sendo que no prazo mais alargado a queda foi bastante significativa”, resume Pedro Ricardo Santos, gestor da corretora XTB Portugal, numa análise enviada às redacções.

Com o aumento do prémio de risco da dívida portuguesa, os analistas já esperavam que não se registassem juros negativos na operação lançada nesta quarta-feira pelo IGCP. Inicialmente, este previa no programa de financiamento para 2016 que na emissão desta quarta-feira fossem emitidos entre mil a 1250 milhões de euros, mas o objectivo foi revisto para um intervalo de 750 milhões a mil milhões.

Filipe Silva, director da Gestão de Activos do Banco Carregosa, fala numa “subida ligeira” que se deve “ao movimento da dívida longa”, mas sem que tenha havido sobressaltos. “A nossa dívida a dez anos a semana passada chegou aos 4,5%, embora agora esteja nos 3,5%. É notório que o prémio de risco aumentou desde o início do ano quer para a dívida pública portuguesa, quer para a dívida das empresas portuguesas. O facto de o nosso mercado ser pequeno também  nos penaliza mais quando há algumas vendas maiores. Foi o caso das últimas semanas”, descreve, numa análise enviada às redacções. “Mas é preciso sublinhar que continuamos a financiar-nos a taxas de juro muito favoráveis. A procura esteve dentro da média e tal como se previa não houve qualquer problema na emissão”, ressalva o analista.

É “sem grande surpresa” que Pedro Ricardo Santos, da XTB Portugal, vê o resultado desta operação, que “acabou por ser pior do que os leilões anteriores com o mesmo vencimento”. “As yields para as duas emissões fixaram-se acima de zero, contrastando com os valores negativos observados na primeira operação do ano”. Segundo o analista, “este indicador revela a percepção do risco dos investidores internacionais face às opções do actual Executivo concretizadas na apresentação do Orçamento do Estado para 2016”. Ainda assim, diz, “importa destacar os valores extremamente baixos da taxa de juro, só possíveis devido à intervenção do Banco Central Europeu”.

No clima de aversão ao risco que se registou na semana passada nos mercados internacionais e perdas nas bolsas, Portugal foi um dos países onde as taxas de juro da dívida mais subiram. No mercado secundário de dívida (onde são revendidos títulos de dívida pública), as obrigações com prazo de dez anos chegaram momentaneamente a superar os 4% no final da semana passada, mas entretanto voltaram a descer. Nesta quarta-feira, tanto Portugal como Espanha registam uma subida nos juros em relação a terça-feira, estando as obrigações portuguesas desta maturidade nos 3,505%, segundo dados financeiros da agência Reuters.