DBRS pede a Portugal para evitar “confronto aberto” com Bruxelas
Agência de rating elogia disponibilidade para medidas adicionais, mas diz estar atenta ao risco político que observa em Portugal.
Os sinais de desconfiança que os investidores dos mercados de dívida têm vindo a mostrar em relação a Portugal continuam a ser motivo de preocupação para a agência de rating DBRS – a única que dá uma classificação acima de lixo ao país -, mas a garantia do Governo de que está disposto a tomar novas medidas para evitar uma derrapagem do défice e o facto de se ter evitado até agora um confronto aberto com Bruxelas parecem ser para já motivos suficientes para esperar que o rating atribuído se mantenha estável.
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Os sinais de desconfiança que os investidores dos mercados de dívida têm vindo a mostrar em relação a Portugal continuam a ser motivo de preocupação para a agência de rating DBRS – a única que dá uma classificação acima de lixo ao país -, mas a garantia do Governo de que está disposto a tomar novas medidas para evitar uma derrapagem do défice e o facto de se ter evitado até agora um confronto aberto com Bruxelas parecem ser para já motivos suficientes para esperar que o rating atribuído se mantenha estável.
Numa teleconferência com jornalistas organizada nesta quarta-feira, o director do departamento de dívida soberana da agência teve de justificar mais uma vez porque é que a DBRS continua a ser, entre as quatro agências consideradas pelo BCE para a sua avaliação de activos, a que melhores classificações atribui aos países periféricos da zona euro. Fergus McCormick argumentou com aquilo que acredita ser a força do compromisso dos líderes europeus no projecto da união monetária e com as “barreiras de segurança criadas pelo Banco Central Europeu", que permitem acreditar que quem investiu em dívida pública de um país da zona euro pode acabar por recuperar o seu dinheiro.
É essencialmente graças a estes argumentos que Portugal continua a conseguir da DBRS, ao contrário do que acontece com a Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch, um rating que fica acima do nível “lixo”. Mas, alerta o responsável da DBRS, na actual fase de maior incerteza em que a seguir à apresentação da proposta de OE e da sua discussão em Bruxelas se assistiu a uma subida das taxas de juro da dívida pública portuguesa, a manutenção de uma relação positiva entre Portugal e as autoridades europeias tornou-se ainda mais fundamental para a manutenção do rating.
Fergus McCormick diz que "um confronto aberto com a Comissão Europeia" constituiria um motivo de forte preocupação, que agravaria o actual cenário de risco criado pela subida das taxas de juro, que agora estão perto de 3,4%, mas que na semana passada chegaram a atingir os 4,4%.
O analista considera que há sobretudo um risco político, mas fez contudo questão de deixar claro que, nas recentes negociações entre o Governo e Bruxelas, esse “confronto aberto” não se verificou. E apresentou como factor de confiança o facto de o Governo, nas conversas que manteve com a DBRS, ter assegurado que “há algum espaço para tomar medidas orçamentais adicionais, se for necessário", algo que o executivo garantiu também aos seus parceiros europeus na última reunião do Eurogrupo.
Fergus McCormick não deixou ainda assim de criticar a política seguida pelo novo Governo em Portugal, afirmando que a reversão de medidas de austeridade decidida pelo executivo "não ajudou à confiança dos investidores".
Portugal realizou nesta quarta-feira a primeira emissão de dívida pública depois da apresentação da proposta de OE. A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) emitiu 300 milhões de euros em títulos de dívida que vencem dentro de três meses e mais 700 milhões de euros em bilhetes com um prazo de 11 meses. Nos títulos com maturidade até Maio, a taxa de juro média foi de 0,008%, o que compara uma taxa negativa de 0,023% na emissão realizada em Dezembro com bilhetes do tesouro a três meses.
No caso dos títulos de dívida a 11 meses, que vencem em Janeiro de 2017, a taxa de juro foi de 0,1%, subindo em relação aos 0,03% registados na emissão a 11 meses de 16 de Dezembro (em Janeiro, quando foram emitidos títulos com prazo de um ano a taxa também tinha sido negativa, de -0,001%). Na dívida a três meses a procura foi de 2,3 vezes a oferta. No segundo caso, superou a oferta 1,52 vezes.