Sem interditos, não há grande melodrama
É o problema de Carol: não há mistério, tudo é trazido de volta à terra para ser apenas o que é.
Há uma cena logo ao príncipio com um grupo de personagens a ver o Sunset Boulevard, e o cinéfilo do grupo, que já viu o filme seis vezes, diz que está a identificar a “diferença entre o que as personagens dizem e o que as personagens sentem”.
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Há uma cena logo ao príncipio com um grupo de personagens a ver o Sunset Boulevard, e o cinéfilo do grupo, que já viu o filme seis vezes, diz que está a identificar a “diferença entre o que as personagens dizem e o que as personagens sentem”.
Que Todd Haynes ponha lá este diálogo parece caricatural, mas se calhar é só um lamento dele - dele, de um realizador que, livre dos códigos sociais e de representação do cinema dos anos 50, já não precisa da “sugestão” e está condenado a filmar personagens que dizem exactamente o que sentem. É o problema de Carol: não há mistério, tudo é trazido de volta à terra para ser apenas o que é, e não mais do que é. Sem interditos, o grande melodrama não é possível. Fica, e Haynes atira-se a isso como um artesão afincado, a hipótese do pequeno melodrama, com aquelas que são, porventura, as duas melhores actrizes da Hollywood actual (Blanchett e Mara), e o élan do quarto de hora final, quando o filme já se livrou de toda a ganga “social” e pode ficar só com a história de amor, e acabar com o mais bonito campo/contracampo de entre tudo o que se tem visto ultimamente.