Miguel Relvas, o Efisa e a selva
O Efisa não só é um assunto, como é um assunto muito feio.
Pedro Passos Coelho foi entrevistado no fim-de-semana pelo Jornal de Notícias, e quando questionado acerca da venda do banco Efisa a uma sociedade com ligações a Miguel Relvas, respondeu: “Isso é um não-assunto.” Ora, se o ex-primeiro-ministro considera o tema um “não-assunto”, eu considero meu dever esclarecer-lhe porque é que o Efisa não só é um assunto, como é um assunto muito feio.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Pedro Passos Coelho foi entrevistado no fim-de-semana pelo Jornal de Notícias, e quando questionado acerca da venda do banco Efisa a uma sociedade com ligações a Miguel Relvas, respondeu: “Isso é um não-assunto.” Ora, se o ex-primeiro-ministro considera o tema um “não-assunto”, eu considero meu dever esclarecer-lhe porque é que o Efisa não só é um assunto, como é um assunto muito feio.
Nos últimos dois anos, o Estado, através da Parparticipadas – sociedade anónima criada em 2010 para gerir o processo de reprivatização do BPN –, injectou 90 milhões de euros no Efisa. A última injecção, de 12,5 milhões, foi feita em Janeiro, antes da venda do antigo banco de investimento do BPN à Pivot SGPS. Essa venda terá sido realizada por um valor a rondar os 38 milhões de euros. Segundo o Tribunal de Contas, o preço do BPN para os contribuintes já vai em 2,7 mil milhões, estimando-se que o buraco possa derrapar até aos 5,5 mil milhões.
O Efisa, como explicou ao Diário Económico o fundador e accionista da Pivot Ricardo Santos Silva, possui um trunfo precioso numa época em que se tornou bem mais difícil criar bancos: “uma licença bancária universal, que abre muitas oportunidades”. Oh, se abre – e quando cheira a oportunidades, logo surge Miguel Relvas e o seu oportuno nariz.
Já depois de acordada a venda do Efisa, os jornais deram conta da entrada no capital da Pivot de um pequeno grupo de accionistas, entre os quais Relvas. Miguel Relvas, destacado ex-ministro do Estado, surge a fazer negócios com o Estado, para a compra de um banco. Mais. O actual presidente do veículo estatal Parparticipadas, que vendeu o Efisa à Pivot SGPS, chama-se Francisco Nogueira Leite. O mesmo Francisco Nogueira Leite que trabalhou com Pedro Passos Coelho na administração da Tecnoforma. A mesma Tecnoforma que em 2004 usou e abusou de fundos comunitários geridos pelo então secretário de Estado da Administração Local Miguel Relvas.
E o não-assunto não fica por aqui. Miguel Relvas já havia trabalhado para o Efisa em 2007, prestando consultadoria ao banco no Brasil, numa altura em que era deputado do PSD e líder da Comissão das Obras Públicas. Tudo legal, claro. Até porque, em 2011, Relvas garantiu ao PÚBLICO que nunca recebeu “um cêntimo da Efisa”. Claro que não recebeu. Ele apenas recebeu da empresa Kapakonsult, da qual era administrador, e que na sua curta existência teve um único cliente: o banco de negócios do BPN, Efisa. Vamos então resumir. Relvas trabalhou para um banco que faliu. Trabalhou para o governo que geriu a falência desse banco. E agora recupera o banco devidamente recapitalizado pelo governo de que fez parte – não se está mesmo a ver que isto é um “não-assunto”?
Uma achega final. Há quem recorde o papel de Dias Loureiro no BPN e garanta haver mãozinha sua neste negócio. A mim parece-me mera insinuação, fruto de más línguas. Estou certo que desde que o então ministro Miguel Relvas passou o réveillon de 2012 para 2013 no Copacabana Palace na companhia de José Luís Arnaut e Manuel Dias Loureiro, eles nunca mais voltaram a ver-se. Portanto, só resta à autoridade de supervisão apressar-se a conceder a idoneidade a Miguel Relvas, para que possa exercer com o garbo e a competência reconhecidas a profissão de banqueiro. Depois, é só enviar essa informação para Bruxelas, devidamente assinada por Carlos Costa, Governador do Banco da República das Bananas Anteriormente Conhecida como Portugal.