Eagles of Death Metal regressam esta terça-feira a Paris
Banda que actuava no Bataclan na noite dos atentados terroristas de 13 de Novembro vai também actuar em Lisboa a 5 de Março.
Mesmo se Jesse Hughes diz que este será “um concerto normal de rock”, em que todos se irão “divertir”, sabemos que o líder e guitarrista dos Eagles of Death Metal (EODM) não acredita que a actuação que fará esta terça-feira à noite em Paris será igual às outras que vêm preenchendo a presente digressão mundial da banda norte-americana.
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Mesmo se Jesse Hughes diz que este será “um concerto normal de rock”, em que todos se irão “divertir”, sabemos que o líder e guitarrista dos Eagles of Death Metal (EODM) não acredita que a actuação que fará esta terça-feira à noite em Paris será igual às outras que vêm preenchendo a presente digressão mundial da banda norte-americana.
Esta noite, na famosa sala do Olympia, a banda fundada por Hughes e pelo seu amigo Josh Homme irá de certo modo tentar exorcizar a noite trágica de 13 de Novembro passado, quando a meio do concerto que estavam a fazer no Bataclan um ataque terrorista provocou a morte de 90 espectadores, em simultâneo com uma acção concertada noutros lugares do 11.º bairro de Paris, onde pereceriam mais quatro dezenas de pessoas.
O concerto no Olympia vai ser “uma terapia” para si próprio, admite Jesse Hughes, em declarações à AFP. E o mesmo poderá acontecer para as centenas de sobreviventes e familiares das vítimas dos ataques reivindicados pelo autoproclamado Estado Islâmico que aceitarem o convite para o espectáculo. Não se sabe ainda se a sala irá encher, já que a produção decidiu privilegiar todos aqueles que, directa ou indirectamente, viveram os momentos trágicos daquela noite e as suas consequências.
“Para muitos, será uma decisão de último minuto”, diz à AFP Alexis, membro da associação Life for Paris, que reúne cerca de 500 sobreviventes dos atentados na capital francesa. “Há pessoas para quem isto é importante, faz parte do processo de reconstrução, mas também há muita gente para quem é ainda cedo, ou que não se sente em condições” de enfrentar a situação, acrescenta Alexis. E a AFP cita o testemunho de Clotilde, uma frequentadora habitual e fã do Bataclan, que disse estar ainda “chocada” com a experiência vivida e não querer deslocar-se ao Olympia, apesar de ter recebido convite, e de saber que o concerto vai ser rodeado de cuidadosas medidas de segurança.
Segundo a Prefeitura de Paris, na rua e nos passeios junto à casa de espectáculos vai ser criado um perímetro de segurança, que evitará não só o trânsito e o estacionamento de viaturas, mas também de peões, além daqueles que tenham convites ou bilhetes para o concerto.
O plano de segurança para a actuação dos EODM inclui ainda uma equipa de três dezenas de assistentes, incluindo vários psicólogos que possam apoiar os espectadores, que, nestes casos, correm sempre o risco de reviver a noite traumática de 13 de Novembro, diz Carole Damiani, psicóloga e directora da associação parisiense Apoio às Vítimas.
Sobre o concerto propriamente dito, e o regresso a Paris, Jesse Hughes e Josh Homme desdobraram-se em entrevistas a órgãos da comunicação social franceses, não escondendo a emoção particular de que o espectáculo se vai revestir.
Ao jornal Le Monde, Josh Homme — o fundador da banda que não esteve presente na actuação de Novembro, mas fez agora questão de reunir-se a Hughes, seu amigo de infância, e aos restantes membros da banda — explicou, por exemplo, que o concerto não poderá começar com o retomar de Kiss the devil, a canção que os EODM tocavam no momento em que os terroristas começaram a disparar no Bataclan. “Nós não podemos tocar Kiss the devil. Não sabemos onde se encontra agora essa canção, e também não temos nenhuma razão para ir à procura dela. Mas a verdade é que também nos pediram para não a tocar. E uma pessoa que não quer mais ouvi-la conta bem mais para nós do que uma centena delas que possam querer que a toquemos”, justificou o baterista.
Numa das entrevistas a pretexto do concerto desta terça-feira à noite, Jesse Hughes reafirmou à cadeia de televisão iTélé a sua posição bem conhecida de defesa do uso e porte de armas, realçando que o ataque de 13 de Novembro só veio provar a necessidade de garantir “o acesso universal a armas de fogo” a todos os cidadãos, vivam eles em França, nos Estados Unidos ou no resto do mundo.
Na entrevista ao Le Monde, Hugues reforçou que os acontecimentos de Paris não vieram mudar o seu pensamento sobre aquela questão. Mas, quando o jornalista lembrou as declarações do pré-candidato republicano Donald Trump às eleições presidenciais americanas — que disse trazer sempre uma arma consigo, e que, se estivesse no Bataclan, abriria fogo contra os atacantes —, Josh Homme demarcou-se, considerando-as absurdas. “Sim. [O que Trump disse é] absurdo”. “Mas nós não estamos aqui para fazer política; estamos aqui por aquilo que torna a França formidável: as artes e a cultura, que aqui têm um lugar na vossa vida de todos os dias”, acrescentou o baterista.
O concerto dos EODM no Olympia marca o regresso da banda a Paris, também depois da actuação conjunta com os U2 de Bono, na primeira semana de Dezembro, em Bercy, numa iniciativa de defesa da liberdade e de luta contra o terrorismo. Mas dá também sequência à digressão mundial que a banda norte-americana retomou este ano, que já passou por Estocolmo e Oslo, e vai prolongar-se, até final deste mês, por várias outras cidades europeias: Munique, Zagreb, Budapeste, Viena, Zurique, Bruxelas, Roma, Barcelona..., até chegar a Lisboa, ao Coliseu dos Recreios, a 5 de Março. Segue-se, depois, a América do Sul e do Norte, e a Austrália.