Cenógrafa Cristina Reis vence Prémio da Crítica

Júri do prémio atribuído pela Associação Portuguesa de Críticos de Teatro elogiou “a admirável arquitectura de cena” criada para o espectáculo Hamlet.

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O Prémio da Crítica 2015 distinguiu a cenógrafa Cristina Reis, da Cornucópia, “pela arquitectura de cena que criou para o espectáculo Hamlet", anunciou este sábado a Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.

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O Prémio da Crítica 2015 distinguiu a cenógrafa Cristina Reis, da Cornucópia, “pela arquitectura de cena que criou para o espectáculo Hamlet", anunciou este sábado a Associação Portuguesa de Críticos de Teatro.

O júri, constituído por Emília Costa, Gonçalo Frota, Helena Simões, João Carneiro e Maria Helena Serôdio, decidiu ainda atribuir três menções especiais e uma distinção particular ao Teatro Experimental de Cascais, que celebra 50 anos, e ao seu director, Carlos Avilez.

O comunicado do júri sublinha “a admirável arquitectura de cena” que Cristina Reis concebeu para Hamlet, uma co-produção do Teatro da Cornucópia e da Companhia de Teatro de Almada. “Ainda que integrando-se no projecto criativo do encenador Luís Miguel Cintra, destacou-se não apenas pela expressiva configuração em palco do universo concentracionário, que a peça sugere, mas também pela plasticidade e valor icónico dos elementos cénicos que convocou”, argumenta o júri.

“Jogando com soluções inesperadas e contrastivas”, acrescenta o comunicado, “a cenógrafa criou uma atmosfera de clausura na evocação do poder régio, sobrepondo as ameias de um castelo ao recorte de uma coroa real e trabalhando a geometria no desenho de vários adereços de cena”. Mas o júri também salienta que “esse rigor formal” coexiste com “elementos inesperados de parodização”, enunciando ao mesmo tempo “o brilho e os riscos do exercício do poder”.

A distinção particular ao Teatro Experimental de Cascais (TEC) e a Carlos Avilez, seu director e fundador, é justificada “pela sua actividade em permanência”, com “mais de uma centena de produções ao longo de cinco décadas”. O júri elogiou ainda o “dinamismo e perseverança” do TEC, a “acção experimental e inovadora, nomeadamente na escolha de repertório dramático inédito em Portugal”, o “compromisso social com o município, que conduziu à criação da Escola de Teatro Profissional de Cascais”, e a “aposta nos jovens actores”, que “propiciam a renovação constante de uma companhia que marca o panorama teatral português e se mantém actual e actuante”.

Já as menções especiais distinguem a peça Quatro Santos em Três Actos, de Luísa Costa Gomes e António Pires, o actor João Pedro Vaz, pela sua interpretação em Um Inimigo do Povo e O Animador, e o actor e encenador Elmano Sancho pelo seu trabalho em I Can't Breathe.

“É bem conhecido o trabalho que António Pires tem vindo a desenvolver no que diz respeito à construção de espectáculos de teatro complexos, muitas vezes a partir de materiais artísticos de diversas áreas de criação”, diz o júri. “A narrativa, a poesia, as artes visuais, a música, o movimento”, enumera o documento, “estão presentes naquilo que é, hoje em dia, um conjunto exemplar de realizações”. A peça Quatro Santos em Três Actos, concebida a partir da ópera homónima de Virgil Thomson e Gertrude Stein, “continua esse percurso criativo, levando-o, e com ele os espectadores, a lugares insuspeitados e inexplorados”, concluem os jurados.

No actor João Pedro Vaz, é realçado o “virtuosismo”, confirmado em “duas singulares interpretações, que nos revelam a complexidade humana na sua mais profunda ambiguidade”, afirma o comunicado. “Do cinismo pungente de Archie Rice” – em O Animador, de John Osborne, encenado por Gonçalo Amorim para o Teatro Experimental do Porto – “à generosa manipulação de Peter Stockmann” (o Intendente em Um Inimigo do Povo, a peça de Henrik Ibsen que Tónan Quito levou ao palco do São Luiz Teatro Municipal), “João Pedro Vaz compele-nos à aceitação e identificação, anulando a nossa natural repulsa”, defende o júri.

A terceira menção especial assinala o trabalho de Elmano Sancho na peça I Can't Breathe, estreada em Dezembro no Teatro da Politécnica, em Lisboa. “Tomando por mote um caso de excesso de força policial, o actor, encenador e autor do texto (com assistência à dramaturgia de Rui Catalão) partilha o palco com a ex-actriz pornográfica Ana Monte-Real, obrigando o público a confrontar-se de forma violenta com a sua própria e desconfortável invasão de uma privacidade que não pediu para conhecer”, escreve o júri. “Num mundo em que a intimidade está em crise, em que o privado se confunde com a coisa pública”, I Can't Breathe, observam os jurados, “implica cada indivíduo nessa culpa colectiva e pergunta, sem ficar para ouvir a resposta, o que é feito do mistério e da poesia nas existências que levamos”.

A Associação Portuguesa de Críticos de Teatro não adiantou ainda quando e onde se realizará a cerimónia pública de entrega dos prémios, informação que será divulgada "em breve".