Deixar crianças de 8 anos com tablets? Cuidado
Estudo divulgado esta semana sobre os hábitos de uso de tecnologias digitais por crianças até aos 8 anos deixa alguns avisos e conselhos aos pais. Cuidado com as sugestões de vídeos no YouTube, por exemplo.
Tornou-se comum os pais emprestarem aparelhos tecnológicos aos filhos para os entreter e sossegar. O problema é que isto começa a acontecer cada vez mais cedo e os pais desconhecem os riscos. Duas investigadoras portuguesas, Patrícia Dias e Rita Brito, publicaram na passada terça-feira um estudo – coordenado em 18 países pelo Joint Research Centre da Comissão Europeia – sobre os hábitos de uso de tecnologias digitais por crianças com idades até aos oito anos. A data de lançamento deste relatório, a 9 de Fevereiro, não foi escolhida ao acaso: corresponde ao dia europeu Safer Internet Day (Dia para uma Internet mais segura), que incentiva pessoas a terem mais cuidados no uso que dão a esta ferramenta, sobretudo jovens.
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Tornou-se comum os pais emprestarem aparelhos tecnológicos aos filhos para os entreter e sossegar. O problema é que isto começa a acontecer cada vez mais cedo e os pais desconhecem os riscos. Duas investigadoras portuguesas, Patrícia Dias e Rita Brito, publicaram na passada terça-feira um estudo – coordenado em 18 países pelo Joint Research Centre da Comissão Europeia – sobre os hábitos de uso de tecnologias digitais por crianças com idades até aos oito anos. A data de lançamento deste relatório, a 9 de Fevereiro, não foi escolhida ao acaso: corresponde ao dia europeu Safer Internet Day (Dia para uma Internet mais segura), que incentiva pessoas a terem mais cuidados no uso que dão a esta ferramenta, sobretudo jovens.
O trabalho das investigadoras representa o caso português. Neste relatório, abordam não só os hábitos das crianças e os riscos que estas correm, mas também analisam a atitude dos seus pais. A amostra estudada em cada país incluía dez famílias com crianças de 6 ou 7 anos de idade que utilizavam, pelo menos uma vez por semana, um dispositivo digital.
A primeira conclusão a que Patrícia Dias, da Universidade Católica Portuguesa (UCP), e Rita Brito, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa (Unidade de Investigação e Desenvolvimento em Educação e Formação, UIDEF), chegaram é que é no YouTube que os jovens estão mais vulneráveis. No agregador de vídeos, mesmo que estes estejam a ver vídeos infantis, os perigos encontram-se nas sugestões que surgem ao lado destes, que incluem muitas vezes opções inapropriadas, como paródias ou imitações vulgares dos programas a que estão a assistir.
Para lá do website de vídeos, as investigadoras aperceberam-se ainda que crianças com idades inferiores aos 8 anos costumam sobretudo usar o tablet para jogar. Rita Brito afirma que “as crianças têm uma predisposição natural para jogos”. A escolha do jogo também depende muito do seu género, que tende a ser especialmente violentos no caso dos rapazes. “Há meninos muito jovens a jogarem Grand Theft Auto [um jogo classificado para maiores de 18 anos que tem como objectivo subir no mundo do crime organizado, envolvendo tráfico de droga, redes de prostituição e homicídios]”, exemplifica, acrescentando que estas crianças com menos de 8 anos "ainda estão a aprender o que é real ou não, o que é o bem e o mal”.
O facto de jogarem este tipo de jogos, inadequados para a sua idade, tem efeitos imprevisíveis para o seu crescimento. O problema, segundo a mesma, está na atitude dos pais que “encolhem os ombros”.
Considerando que na maioria dos casos não se trata de um comportamento negligente, Rita Brito acredita que os pais revelam sobretudo alguma ignorância sobre os vários riscos que os seus filhos correm. “Como as crianças ainda estão a aprender a ler, os pais pensam que não há riscos”, explica a investigadora. Os pais tendem a acreditar que o diálogo com os filhos ajuda mais do que o estabelecimento de filtros nos dispositivos, quando nem sempre é o caso.
Sugestão: Instalem aplicações didácticas
Em vez de aproveitar os aparelhos com aplicações educativas e didácticas, as crianças tendem a vaguear pela rede, tal como os adultos. A investigadora revela que “em dez famílias estudadas, apenas uma menina tinha uma aplicação de Inglês para aprender”. A responsabilidade também é do mercado, pois “não há muitas aplicações educativas em português”.
Outra das conclusões surpreendentes do estudo é o modo como as crianças conseguem utilizar as novas tecnologias de forma tão autónoma numa idade tão precoce. “Usam tecnologia sem medo. Exploram e carregam em tudo”, afirma Rita Brito.
No entanto, a responsável pelo estudo rejeita que a solução seja retirar de todo a presença dos aparelhos. Segundo a própria, “há muitos estudos que mostram que a tecnologia ajuda as crianças”. Essa ajuda vem não só com conhecimento. Nos jogos, por exemplo, desenvolve-se a "coordenação motora e reflexos".
O que Rita Brito aconselha é a adopção de medidas de controlo parental, como bloqueios com códigos de acesso ou filtros de conteúdos. Segundo a investigadora, estas restrições não são usadas pelos pais simplesmente porque eles não sabem como o fazer.
Assim, defende a investigadora, deve investir-se na formação nestas matérias não só para os pais, mas também dirigidas "às escolas e aos professores”. “Miúdos de 7 e 8 anos têm tablet em casa, chegam à escola e só têm ardósia e giz”, enfatiza. As próprias escolas é que têm de se adaptar à era digital. Algumas têm feito esforços, mas ainda são escassas, pelo que esta adaptação é uma das recomendações explicitadas no relatório.
No estudo também há recomendações aos fabricantes para que simplifiquem os seus sistemas de controlo parental e para que instalem mais componentes didácticos e lúdicos.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas