Nuno Crato: “Não é por deixar de haver avaliação que os alunos vão saber mais”

Ex-ministro recusa-se a tecer críticas ao seu sucessor no Ministério da Educação, mas deixa o recado: é preciso reflectir sobre o sucesso do que foi feito e continuá-lo.

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Nuno Crato, ex-ministro da Educação Miguel Manso

Cavaco Silva condecora nesta sexta-feira várias personalidades, entre elas dois ex-ministros da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues (PS) e Nuno Crato (PSD/CDS-PP). No mesmo dia em que se soube destas condecorações, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a taxa de abandono precoce desceu. Nuno Crato chama para si e para a sua governação o sucesso destes números. “Exigência” e “rigor” continuam a ser palavras de ordem no vocabulário do professor.

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Cavaco Silva condecora nesta sexta-feira várias personalidades, entre elas dois ex-ministros da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues (PS) e Nuno Crato (PSD/CDS-PP). No mesmo dia em que se soube destas condecorações, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que a taxa de abandono precoce desceu. Nuno Crato chama para si e para a sua governação o sucesso destes números. “Exigência” e “rigor” continuam a ser palavras de ordem no vocabulário do professor.

Esta condecoração é o reconhecimento do trabalho feito enquanto ministro da Educação?
Não me cabe a mim dizê-lo, mas a quem a atribui. Mas fico muito satisfeito, como é evidente.

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) já veio a público  dizer que quer o professor, quer Maria de Lurdes Rodrigues elegeram os professores como “inimigos número um”, contestando a decisão de vos condecorar.
Não tenho resposta para isso. Eu sou um professor, sempre fui e as medidas que foram tomadas tiveram em conta os professores.

O INE revelou que a taxa de abandono precoce caiu de 17,4%, em 2014, para 13,7%, no ano seguinte. Estes números reflectem o trabalho feito durante o seu mandato?
O país todo deve estar muito satisfeito com estes resultados porque são muito positivos, conseguidos num momento muito difícil em que pusemos em prática o alargamento da escolaridade obrigatória [até ao 12.º ano, decidida durante o Governo Sócrates, por Maria de Lurdes Rodrigues] com vias alternativas. Este alargamento foi conseguido pelas escolas secundárias, que receberam mais alunos e souberam dar uma resposta eficiente. E, ao mesmo tempo, aumentámos o rigor do ensino.

Mas estas vias alternativas, o ensino profissional e vocacional, não são formas de promover a desigualdade entre os alunos?
Precisamos de oferecer vias alternativas aos alunos porque nem todos precisam das mesmas respostas. O sucesso das vias profissionais significa que mais estudantes se mantiveram no sistema. E isto está directamente ligado aos números da redução do abandono escolar precoce.

Estas soluções correm o risco de desaparecer?
O básico nunca foi igual para todos. O que havia antigamente é que de forma encapotada, havia percursos alternativos. O que fizemos foi estruturar e recuperar os alunos, permitindo que os cursos tivessem um tronco comum para, caso os alunos quisessem, regressar aos cursos gerais.

Para si, o sucesso da redução da taxa de abandono está aí?
Está aí e no conjunto de soluções criadas para os alunos que mostram ter dificuldades. Os créditos horários dados pelo ministério às escolas são a oportunidade de estas os aplicarem na recuperação dos alunos. Tudo no seu conjunto permitiu que a escolaridade obrigatória fosse alargada com sucesso.

Contudo, Portugal continua a ser um dos países europeus com maiores taxas de retenção. Portanto, nem tudo foi feito na recuperação dos alunos?Precisa de ser combatido, agora uma coisa é passar os problemas para debaixo do tapete, outra coisa é enfrentá-los. É preciso reduzir e temo-lo feito. Os exames e provas finais não aumentaram as retenções. O sistema tem de se adaptar.

O que é preciso mudar?
É preciso prosseguir o caminho de apoio às primeiras dificuldades sem reduzir a exigência. Não é esconder os problemas, mas enfrentá-los. 

O Conselho Nacional de Educação (CNE) mostrou que os exames não contribuem para a retenção e defende que estes deveriam manter-se. Esta quinta-feira, o Conselho das Escolas  também disse que os alunos deveriam fazer exames no 6.º ano. É um erro só fazer provas externas no 9.º e no secundário?
É óbvio que se criámos exames no 4.º e 6.º anos foi porque considerávamos que eram necessários. Existe um exemplo em estatística que diz que não é por se deixar de usar guarda-chuva que a chuva acaba. Não é por deixar de haver avaliação que os alunos vão saber mais. Isso é uma falácia. A avaliação deve ser vista como algo que ajuda todos a melhorar, que estabelece critérios mais uniformes e ajuda todos a ter objectivos e a ultrapassá-los. E as provas finais têm esse grande valor de serem idênticas para todo o país e ajudarem todo o pais a chegar aos mesmos patamares.

Os exames serviam também para avaliar os professores?
A avaliação externa é um apoio ao trabalho dos professores, um trabalho de exigência e que os ajuda a puxar os alunos para patamares mais elevados. Portanto, julgo que os professores sentem que estes são necessários.

Foram feitas várias mudanças desde que este executivo entrou em funções. Como as avalia?
Não quero comentar. Desculpe, mas não quero criticar o que está a ser feito pelo actual Governo, quando tiver de o fazer, faço-o. Julgo que se devia reflectir sobre o sucesso do que foi feito e continuá-lo.