Uma proposta
Se o PS e o PSD alternassem pacificamente no poder, a pobreza da Pátria não os deixaria fazer muito mal, nem muito bem.
O dr. Centeno (e com ele o governo de Costa) parece um maníaco daqueles que mudam o dinheiro de bolso na esperança de que ele cresça. Ainda se houvesse dinheiro suficiente para ficar algum nos bolsos menos fundos, o exercício podia ter um mérito. Mas não há e, no fim do dia, acaba tudo na miséria do costume. Quem conhece a história do Portugal da “Regeneração”, o regime mais comparável ao deste de agora, sabe que a dívida e a trapalhada financeira sempre foram uma das mais nobres características da raça. E quem se quiser rir com as nossas mentiras públicas que leia Ramalho e um bocadinho de Eça. São os dois mais pertinentes do que a retórica por aí anda em curso, tanto a dos cavalheiros que fazem contas, como a dos que não fazem. De resto, no tempo deles, de quando em quando, ainda se escrevia português.
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O dr. Centeno (e com ele o governo de Costa) parece um maníaco daqueles que mudam o dinheiro de bolso na esperança de que ele cresça. Ainda se houvesse dinheiro suficiente para ficar algum nos bolsos menos fundos, o exercício podia ter um mérito. Mas não há e, no fim do dia, acaba tudo na miséria do costume. Quem conhece a história do Portugal da “Regeneração”, o regime mais comparável ao deste de agora, sabe que a dívida e a trapalhada financeira sempre foram uma das mais nobres características da raça. E quem se quiser rir com as nossas mentiras públicas que leia Ramalho e um bocadinho de Eça. São os dois mais pertinentes do que a retórica por aí anda em curso, tanto a dos cavalheiros que fazem contas, como a dos que não fazem. De resto, no tempo deles, de quando em quando, ainda se escrevia português.
De qualquer maneira, a aventura de Costa e dos seus sócios serviu para revelar uma verdade básica: a III República deixou de ter partidos. Tem uns bandos que andam à procura de um emprego ou de popularidade; e tem um museu de Arte Antiga que se chama Partido Comunista Português. As diferenças não passam do seguinte: a esquerda quer aliviar os pobres, por meio de um aumento ridículo do respectivo rendimento; a direita quer tirar aos pobres meia dúzia de tostões mais, para “consolidar as finanças” e contentar os ricos. Infelizmente, nem à esquerda, nem à direita se vêem os meios das políticas que prometeram. E, pior do que isso, Portugal por um lado e a “Europa” por outro não permitem que elas sejam levadas muito a sério ou muito longe. Em substância, sobra odium theologicum, que esse, pelo menos, não falta.
O PS vive hoje na incompreensível ilusão de que é, ou se prepara para ser, um partido radical. O PSD, segundo Passos Coelho, é um partido social-democrata, apenas desviado provisoriamente do seu caminho pela maldade do mundo. Suponhamos que existia um método qualquer, com certeza esotérico, para separar estas magníficas visões da humanidade, a oposição entre elas não justificava com certeza as questiúnculas com que a televisão e a imprensa nos moem o juízo. E a prova está em que acabou por ser preciso arranjar umas tantas querelas dúbias como a TAP ou a eutanásia, para tapar os buracos que a política começava a abrir. Se o PS e o PSD alternassem pacificamente no poder, a pobreza da Pátria não os deixaria fazer muito mal, nem muito bem. E o PCP que lá se divertisse com as suas Câmaras do Alentejo e os seus sindicatos, na paz que se deve à velhice.