Mercado Único Digital na Europa: euforia ou apreensão?
Tal como numa partida de futebol, o talento puro e individual não chega para obter uma vitória.
Se já tiver lido algo sobre a iniciativa da UE para o Mercado Único Digital e a primeira coisa que se formou no seu pensamento foi um ponto de interrogação e é absolutamente normal. Afinal, segundo o estudo Mercado Digital: Euforia ou Apreensão?, apenas metade dos líderes europeus (52%), afirma ter conhecimento deste plano da UE.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Se já tiver lido algo sobre a iniciativa da UE para o Mercado Único Digital e a primeira coisa que se formou no seu pensamento foi um ponto de interrogação e é absolutamente normal. Afinal, segundo o estudo Mercado Digital: Euforia ou Apreensão?, apenas metade dos líderes europeus (52%), afirma ter conhecimento deste plano da UE.
Neste sentido, a questão fulcral a descortinar antes de nos debruçarmos sobre qualquer reflexão é, justamente, entender o que é ao certo o Mercado Único Digital. No fundo, trata-se de uma das prioridades da nova Comissão Europeia, liderada por Jean-Claude Juncker modelada a partir do mercado único tradicional, criado em 1980, para os estados membros da União Europeia.
As medidas que este novo Mercado Único Digital pretende trazer, até final de 2016, são simples mas potencialmente disruptivas: falamos da estandardização das regulações de tal forma que os mesmos conteúdos, produtos e serviços digitais estariam disponíveis pelos mesmos preços em qualquer parte da União Europeia.
Para isto, prevêem-se medidas que abordem directamente as questões do geo-blocking e as leis de proteção de dados, ao mesmo tempo que se potencia a simplificação das regras de IVA, bem como os contratos de e-commerce, para encorajar a venda além-fronteiras. Ou seja, criar as condições necessárias para as empresas europeias com negócios digitais se tornem mais competitivas e participem na criação de riqueza atualmente liderada por Silicon Valley nos EUA.
Boas notícias, certo? Sim e não. Sim, porque os benefícios são por demais evidentes. Para as empresas é a possibilidade de expandirem para novos territórios sem que isso acarrete um gasto demasiado alto e uma flutuação de valores consoante o país. Para o consumidor é a abertura dum leque de opções de escolha muito mais variado, permitindo encontrar produtos e serviços que, por questões geográficas, outrora poderiam estar-lhes vedados.
Não, porque a falta de conhecimento referida logo no primeiro parágrafo poderá tornar esta iniciativa da UE numa enorme dor de cabeça para todas as empresas e sectores que não estejam preparadas para as alterações que a mesma promove. Em Portugal, a percentagem de líderes empresariais com conhecimento desta legislação fica-se pelos 30%, o terceiro valor mais baixo na UE.
O estudo acaba por demonstrar que a preparação para o Mercado Único Digital está muito mais atrasada do que o expectável, a menos de um ano da sua implementação. Assim urge centrarmos o debate na forma como as empresas se podem expandir com sucesso e aproveitar as oportunidades únicas que esta proposta lhes trará. Não em lamentar o atraso, mas em preparar o futuro.
A utilização de sistemas de comunicação mais avançados, de e-invoicing e e-billing é sem dúvida vital para que se consiga potenciar a produtividade, acelerando a conclusão de tarefas, permitindo a alocação de mais tempo por parte dos colaboradores para questões mais produtivas. Um exemplo desta melhoria está na forma como os sistemas de comunicações unificadas permitem às equipas trabalhar de forma mais simples e além-fronteiras através da videoconferência com qualidade e segurança empresarial.
É importante, também, focar-se na melhoria das formas de trabalho, onde a digitalização ocupa um lugar de destaque, estimulando a colaboração entre países. A chave é a estandardização dos sistemas e processos para que se consiga desenvolver eficiências e poupanças de custos, bem como a melhoria na produtividade para potenciar as vantagens competitivas~.
A verdade é que as empresas podem, pura e simplesmente, alocar os seus esforços noutras componentes que considerem, de momento, mais importantes. Contudo, apesar de 88% das empresas europeias apoiarem, após a explicação dos termos, o Mercado Único Digital, 92% não se sentem preparadas para a sua chegada. Em termos latos: milhares de empresas correm sérios riscos de perder negócios e acumular prejuízos daqui a menos de um ano.
Assim que, tal como numa partida de futebol, o talento puro e individual não chega para obter uma vitória. A preparação estratégica minuciosa é fulcral para explorar ao máximo as capacidades e conseguir o melhor resultado para a empresa. Senão, a derrota perante concorrentes melhor preparados poderão ditar uma “goleada” pouco honrosa e, neste caso, uma queda absolutamente evitável.
Director de Marketing da Ricoh Portugal