Produção de petróleo da OPEP volta a aumentar em Janeiro
Relatório da Agência Internacional de Energia diz que risco de descida das cotações do crude aumentou, com excesso de oferta superior ao previsto.
O relatório de Fevereiro da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) deixa antever que não está para breve o momento em que o mercado mundial vai começar a absorver o excesso de oferta de petróleo que existe actualmente.
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O relatório de Fevereiro da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) deixa antever que não está para breve o momento em que o mercado mundial vai começar a absorver o excesso de oferta de petróleo que existe actualmente.
A produção continua a crescer, impulsionada pela Organização dos Países Produtores (OPEP), e a procura a encolher, pelo que o potencial de queda das cotações do crude (que já desvalorizaram cerca de 70% no último ano e meio) se mantém, explica o organismo internacional no documento divulgado esta terça-feira.
Segundo as contas da IEA, no primeiro semestre, a oferta global de petróleo deverá exceder a procura em 1,75 milhões de barris/dia, acima dos 1,5 milhões estimados no mês passado. Na análise, a IEA revela que a produção dos países da OPEP aumentou em 280 mil barris/dia em Janeiro, para um total de 32,63 milhões de barris, com a Arábia Saudita, o Iraque, mas também o Irão (que este ano se viu liberto das sanções internacionais e regressou ao mercado exportador) a justificarem o aumento.
Segundo dados da Agência citados pela Bloomberg, a produção do Irão subiu em 80 mil barris/dia (para um total de 2,99 milhões de barris) e a do Iraque atingiu novo recorde, com um aumento de 50 mil barris diários, para 4,35 milhões. A Arábia Saudita, o líder do cartel, produziu mais 70 mil barris, para um total de 10,21 milhões de barris, contribuindo para que a produção da OPEP ultrapassasse em 900 mil barris diários as quotas definidas para este ano.
Este ano, segundo a IEA, a procura mundial de petróleo deverá encolher para cerca de 1,2 milhões de barris/dia (que compara com o recorde de cinco anos atingido no ano passado, nos 1,6 milhões de barris), arrastada pelo menor consumo na Europa, mas principalmente na China e Estados Unidos.
Por isso, ainda que em Janeiro a produção dos países de fora do cartel (onde se incluem os Estados Unidos) tenha sido de menos 500 mil barris diários face ao mês anterior, em termos líquidos, a oferta global diminuiu apenas 200 mil barris/dia, para cerca de 96 milhões de barris/dia. Segundo a IEA, a produção extra-OPEP deverá reduzir-se este ano em cerca de 600 mil barris/dia, para algo como 57,1 milhões de barris/dia. Mas isso em pouco contribuirá para um equilíbrio entre a oferta e a procura (e a recuperação dos preços do petróleo).
“Partindo do pressuposto — talvez optimista — de que a produção da OPEP se mantém estável nos 32,7 milhões de barris dia no primeiro trimestre, haverá lugar a um aumento de reservas de dois milhões de barris/dia no primeiro trimestre, e de 1,5 milhões no segundo trimestre”, refere a IEA.
Os dados da oferta e da procura para a segunda metade do ano “sugerem que os stocks vão continuar a crescer”. Assim, “com o mercado já inundado de petróleo, é difícil perceber como é que os preços do petróleo podem subir no curto prazo”, nota a agência. Aliás, a percepção da IEA é precisamente a contrária — a de que, no curto prazo, "o risco de descida [das cotações] aumentou”.
Esta terça-feira, o barril de Brent estava a negociar nos 32 dólares em Londres.