15 anos de música que faz tremer
Neste mundo pronto-a-usar, o punk é uma lufada de ar fresco, uma inocência desobediente perdida, onde os amigos pegam em instrumentos, puxam uns acordes e fazem qualquer coisa de novo. O punk diverte, o punk faz abanar as ancas, o punk emancipa. E é isso que os Parkinsons sempre fizerem com o seu público
Portugal é um país exótico no panorama musical ocidental. Em Inglaterra, nos E.U.A, em França ou na Alemanha há blues, há rock n´roll, punk, pós-punk, industrial, dance rock ou garage; em Portugal há fado, pimba e a música do não aquece nem arrefece.
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Portugal é um país exótico no panorama musical ocidental. Em Inglaterra, nos E.U.A, em França ou na Alemanha há blues, há rock n´roll, punk, pós-punk, industrial, dance rock ou garage; em Portugal há fado, pimba e a música do não aquece nem arrefece.
Como os Parkinsons são daquelas bandas que aquecem muito, em 2000 foram para Inglaterra acelerar os ingleses, que lhes deram aquilo que Portugal não dá aos grandes músicos desobedientes: um grupo de fãs fiel e grandes destaques na comunicação social.
Como o bom aluno que não percebe nada da matéria, mas que copia tudo, a imprensa portuguesa imitou os destaques da imprensa internacional e pôs os Parkinsons em relevo nas páginas dos jornais. Depois, como os hábitos são muito difíceis de mudar, voltaram a encher os artigos com a música do assim-assim, que vende bilhetes para festivais de música de gente muito bem comportada, que só come o que as grandes empresas lhes põem na mesa. É o mundo do continua assim, a comprar-me tudo, que eu ainda tenho muitas roupas, "gadgets", e outras coisas muito "trendy" para te vender, e essa gente do rock porco, sujo e mau, que só gosta da música pela música, não me compra nada e só destabiliza. Enquanto isso, a banda de Victor Torpedo, um dos mais brilhantes músicos portugueses, Afonso Pinto, Pedro Chau e de nove bateristas diferentes (agora, Paula Nozzari), tocavam em grandes festivais europeus e enchiam salas no Japão.
O punk e os Parkinsons são daquelas raridades em Portugal em que as pessoas se reúnem à volta da música porque adoram música e não para serem ricos ou famosos. Claro que se pudessem viver da música, seria perfeito. Pagariam as contas a fazer o que mais amam. Mas não é por isso que fazem música, porque se fosse, não o fariam, já que, na maioria das vezes, perdem mais dinheiro do que aquele que ganham. Em Portugal, só quem está associado a grandes empresas pode ganhar dinheiro com a sua arte e ser dignificado pela comunicação social. E isto tem consequências muito profundas na cultura de um país. Uma cultura que não é livre é uma cultura que mutila o desenvolvimento humano e impede a sua emancipação. Como músico em Portugal, não posso criar o que quero, dizer aquilo que penso das grandes corporações, nem de tudo o que está à sua volta, porque são elas que me editam os meus discos, escrevem sobre os meus concertos, expõem os meus quadros ou publicam os meus livros.
Neste mundo pronto-a-usar, o punk é uma lufada de ar fresco, uma inocência desobediente perdida, onde os amigos pegam em instrumentos, puxam uns acordes e fazem qualquer coisa de novo. O punk diverte, o punk faz abanar as ancas, o punk emancipa. E é isso que os Parkinsons sempre fizerem com o seu público. No sábado passado, em Coimbra, num Salão Brazil a abarrotar de gente, completamente esgotado, mostraram aquilo que são, uma grande banda que incendeia o público e põe toda a gente a vibrar. Cantaram os clássicos, como a "Bad Girl", a "Angel in The Dark" e a "Primitive", cuja letra deu origem ao documentário "A Long Way to Nowhere", sobre a sua história, a ser exibido agora em Portugal; e as mais recentes, dos álbuns da Garagem , uma editora a não perder de vista. Há 15 anos a tocar música que faz tremer. É disto que Portugal precisa.