Primeiro cinema de Braga, fechado há 20 anos, dá lugar a uma área comercial
O edifício do São Geraldo será recuperado, mas do velho cinema pouco mais restará do que a fachada. Haverá lojas, restaurantes e um hotel. Há também a promessa de manter alguma oferta cultural.
Depois de mais de 20 anos de abandono, o cinema São Geraldo, em Braga, vai reabrir, no final deste ano. O local que os bracarenses vão conhecer a partir de Dezembro será, porém, muito diferente daquele que as gerações anteriores se habituaram a frequentar para ver filmes. Do edifício vai restar pouco mais do que a fachada. O projecto de reabilitação apresentado esta semana prevê a criação de lojas, restaurantes e um hotel, reduzindo o espaço para a programação cultural, ainda que haja a promessa de que esta será mantida e terá regularidade.
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Depois de mais de 20 anos de abandono, o cinema São Geraldo, em Braga, vai reabrir, no final deste ano. O local que os bracarenses vão conhecer a partir de Dezembro será, porém, muito diferente daquele que as gerações anteriores se habituaram a frequentar para ver filmes. Do edifício vai restar pouco mais do que a fachada. O projecto de reabilitação apresentado esta semana prevê a criação de lojas, restaurantes e um hotel, reduzindo o espaço para a programação cultural, ainda que haja a promessa de que esta será mantida e terá regularidade.
O eixo central do projecto de reabilitação do edifício do São Geraldo consiste na criação de um mercado urbano no interior do antigo cinema, cuja área central será destinada à restauração. Nessa praça coberta haverá lugar para mais de 20 restaurantes, ao jeito de outros mercados gastronómicos que existem nas grandes cidades, com uma oferta de cozinha internacional e gastronomia tradicional portuguesa. Nesta área, que será explorada por um investidor particular, haverá ainda lugar para algumas lojas de artesanato ou de moda.
Será no interior do mercado urbano do São Geraldo que se prevê que haja programação artística. Os promotores prometem ter uma agenda cultural permanente, que funcione como factor de atracção para aquela área comercial, contando, para isso, “com sessões de cinema, mas também com música e teatro num mesmo local”, anunciou o arquitecto responsável pela reabilitação do edifício, António Fontes, durante a apresentação do projecto, na semana passada.
Ou seja, a projecção de filmes deixará de ter um papel central no novo uso do edifício, passando a ter lugar apenas no contexto do espaço comercial que substitui a sala de cinema.
O edifício São Geraldo pertence à Arquidiocese de Braga, que é a responsável por este projecto de reabilitação, mas a intervenção proposta será executada em parceria com um conjunto de empresas. O arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, sublinha a intenção de manter “a cumplicidade com a cultura” na nova fase da vida do antigo cinema, mas os responsáveis pelo projecto entendem que seria inviável que o edifício depois de recuperado fosse sustentável apenas com uma função cultural, optando, por isso, por este projecto multifuncional.
O antigo cinema fica no centro da cidade, no largo Carlos Amarante, e era há muito indicado como um dos edifícios prioritários da estratégia de regeneração do centro de Braga. Situado nas traseiras do Theatro Circo, os dois equipamentos podiam constituir um quarteirão de artes, uma ideia que chegou a ser discutida na cidade e constava, por exemplo, da proposta que recentemente venceu o concurso de ideias para a Avenida da Liberdade. Entre os dois equipamentos culturais existe o Shopping Santa Cruz, um centro comercial de primeira geração, privado, para o qual ainda não há um projecto de regeneração.
O cinema São Geraldo foi inaugurado em 1950 e foi a primeira sala de cinema de Braga. O projecto actual tem um custo estimado de 6 milhões de euros. As obras arrancam em Abril e a parte central da intervenção deverá estar terminada até ao final do ano. O projecto contempla a recuperação da fachada original do edifício, prevendo-se para isso a intervenção num prédio contiguo, o chamado Pé Alado, construído nos inícios dos anos 1990 e cuja estética é divergente.
Além da vertente cultural e comercial do novo São Geraldo, o projecto da Arquidiocese de Braga prevê também a criação de um hotel de 4 estrelas, com 35 quatros, a que se juntam 14 apartamentos T1 destinados a aluguer de curta duração. A oferta será de “qualidade”, mas com “preços acessíveis”, promete Mário Paulo Pereira, presidente da Sociedade de Hotéis do Bom Jesus, que gere várias unidades hoteleiras na estância de montanha que também está ligada à Igreja Católica, e que agora vai explorar a nova unidade hoteleira de Braga.
De toda a intervenção prevista no São Geraldo, a concretização do hotel será a última a ficar concluída, prevendo-se a sua entrada em funcionamento apenas em Abril do próximo ano. Em aberto está ainda a possibilidade de o edifício passar também a acolher os serviços da junta de freguesia de São Lázaro. No entanto, esse assunto não está ainda encerrado, decorrendo negociações para decidir em que moldes seria feita a utilização do espaço pela autarquia local.