“Não vim incomodar a senhora Merkel com o OE português; já tem de se preocupar com o seu”

António Costa defendeu a solidariedade europeia, necessária tanto no caso da coesão económica como na resolução do problema dos refugiados. A chanceler alemã concordou que é preciso “mais competitividade”.

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Costa e Merkel lado a lado, na sua primeira conferência conjunta REUTERS/Fabrizio Bensch

Na sua primeira conferência de imprensa com a chanceler alemã, em Berlim, António Costa exibiu uma estratégia subtil. Não foi pedir apoio, nem tentar convencer a mais influente governante da União Europeia (UE) dos eventuais méritos da sua política económica, expressa no Orçamento do Estado  aprovado pelo colégio de comissários em Bruxelas. Pelo contrário, Costa desvalorizou o tema e insistiu naquele que concentra as maiores preocupações do Governo de Berlim, e afecta a popularidade de Angela Merkel, e sobre o qual trazia propostas concretas. “Não vim naturalmente incomodar a senhora Merkel com o Orçamento português, porque já tem de se preocupar com o seu próprio orçamento.”

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Na sua primeira conferência de imprensa com a chanceler alemã, em Berlim, António Costa exibiu uma estratégia subtil. Não foi pedir apoio, nem tentar convencer a mais influente governante da União Europeia (UE) dos eventuais méritos da sua política económica, expressa no Orçamento do Estado  aprovado pelo colégio de comissários em Bruxelas. Pelo contrário, Costa desvalorizou o tema e insistiu naquele que concentra as maiores preocupações do Governo de Berlim, e afecta a popularidade de Angela Merkel, e sobre o qual trazia propostas concretas. “Não vim naturalmente incomodar a senhora Merkel com o Orçamento português, porque já tem de se preocupar com o seu próprio orçamento.”

Foi com um sorriso rasgado que o primeiro-ministro português fez este comentário, em resposta a uma das perguntas. O que Costa trazia, de novo, para o encontro com Merkel era outra ideia. “Temos é de trabalhar em conjunto a questão dos refugiados. A Europa tem um dever para com a sua história de proteger os valores humanitários.”

Com isso, Costa trouxe Merkel para um terreno diferente. Mais do que o de “avaliadora” do desempenho português, a chanceler sublinhou a importância de uma ideia cara ao executivo de Lisboa: “O que o primeiro-ministro diz é muito importante: temos de melhorar a competitividade.” No entanto, a chanceler alemã fez questão de lembrar o legado de Passos Coelho. "O antecessor de António Costa conseguiu coisas impressionantes", elogiou.

Sobre o orçamento português, as palavras foram curtas: “A Comissão Europeia faz uma avaliação de todos os orçamentos de todos os Estados-membros. É muito importante que Portugal possa continuar no caminho de mais crescimento e mais emprego.” Ou, mais à frente, noutra resposta: “Temos o pacto de estabilidade que todos aceitámos, que tem critérios de flexibilização e regras claras. Vamos esperar pelo que a Comissão vai dizer.”

Costa também deixou de lado a “ansiedade” pela resposta da Comissão Europeia. “Nós temos uma política económica que se contém dentro das regras da UE e estou confiante de que a apreciação da Comissão o dirá em breve”, afirmou o primeiro-ministro. Costa garantiu ainda que o orçamento é “responsável”, “cria condições para o crescimento, para o emprego e para mais justiça social” e permite “uma redução mais sustentada do nosso défice e da nossa dívida pública”. Defendeu ainda os seus pontos políticos: o “aumento do rendimento disponível das famílias”, a necessidade de ter um “sistema financeiro sólido”, de haver “empresas mais capitalizadas” e, claro, ou não estivesse em Berlim, a capital do gigante económico europeu, “mais investimento alemão”.

Sempre que pôde, Costa exibiu a sua solidariedade com a Alemanha sobre os refugiados. “É muito injusto fazer recair sobre a Alemanha ou a senhora Merkel a responsabilidade de responder a este problema”, criticou, deixando no ar a ideia de que a solidariedade europeia precisa de ser reforçada. Tal como na economia. “Para fortalecer a zona euro é preciso reduzir as assimetrias”, afirmou, explicando que o problema económico português não é recente, nem endémico. Dividiu os 30 anos da adesão portuguesa à União em dois períodos. Um, inicial, de 15 anos, em que houve uma aproximação aos níveis de vida europeus e um aumento do crescimento nacional, e os últimos, em que os problemas se manifestaram.

“Desde o início do século, a economia portuguesa tem tido dificuldade em lidar com o triplo choque”, que Costa atribui à criação do euro, ao alargamento da UE aos países do Leste e à entrada da China no acordo de comércio internacional.

E ainda deu tempo para mostrar como um pequeno país endividado do Sul pode exibir pergaminhos diplomáticos na crise criada pela possibilidade de saída do Reino Unido da União Europeia: “Temos a mais antiga aliança diplomática que existe em todo o mundo. Não somos sequer capazes de conceber como conseguimos viver na UE sem a presença do Reino Unido.”