Frutuoso de Melo já viu Marcelo a escrever com as duas mãos
Futuro chefe da Casa Civil foi escolhido pelo Presidente eleito pelo “longo curriculum” que o actual director-geral tem “ao serviço de Portugal e das instituições europeias”.
Fernando Frutuoso de Melo já trabalhou com Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República eleito em Janeiro. Fê-lo como chefe de gabinete, entre 1981 e 1983, era Marcelo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e, depois, ministro dos Assuntos Parlamentares.
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Fernando Frutuoso de Melo já trabalhou com Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República eleito em Janeiro. Fê-lo como chefe de gabinete, entre 1981 e 1983, era Marcelo secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e, depois, ministro dos Assuntos Parlamentares.
No livro Marcelo Rebelo de Sousa, do jornalista Vítor Matos, Frutuoso de Melo conta o episódio de um telefonema do então primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão para Marcelo enquanto este lhe estava a escrever um discurso: “Agarrou no telefone e continuou a escrever, depois pegou noutra folha e, com o telefone preso no ombro, começou a tirar notas da conversa com Balsemão sem deixar de escrever o discurso. Estava a escrever com as duas mãos e a falar ao telefone.” Frutuoso de Melo viu.
Os títulos e alguns artigos que foram saindo na imprensa ao longo dos anos não enganam sobre o currículo e o percurso do homem que Marcelo Rebelo de Sousa escolheu para Chefe da Casa Civil: “Portugueses que mandam em Bruxelas”, “Frutuoso de Melo dirige serviço que nunca dorme”, escrevia no ano passado o Jornal de Notícias. Ao Observador, Frutuoso de Melo, actualmente director da Cooperação e Desenvolvimento da Comissão Europeia, chegou a dizer, sobre o facto de receber emails 24 horas por dia e trabalhar fora de horas: “O sol aqui nunca se põe.”
Mas o trabalho que faz desde 2013, como director da Cooperação e Desenvolvimento, compensava – o combate à pobreza, a promoção da democracia, da paz, da segurança, dos direitos humanos. “Aqui sabemos que, quando aprovamos um programa que permite fazer escolas e colocar crianças numa escola, daqui a uns meses vamos ver crianças nessa escola. Quando financiamos um programa de saúde, daqui a uns meses vamos ver mulheres grávidas terem apoio médico no seu parto, e crianças com assistência médica”, dizia na mesma entrevista.
Começou o percurso em Bruxelas em 1987, onde já ocupou vários cargos – já trabalhou nas áreas dos Recursos Humanos, das Pescas, já foi chefe de gabinete adjunto do comissário Olli Rehn, então responsável pelo alargamento da União Europeia. Também já trabalhou, entre 2009 e 2012, com o antigo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso.
Numa entrevista ao Diário de Notícias da Madeira, chegou a dizer o seguinte: "Enquanto acreditarmos que a solidariedade entre os europeus é um valor fundamental e central da construção europeia, a reunificação do continente continuará a ser possível e desejável. Se um dia não acreditarmos nisso, a própria ideia de Europa correrá sérios riscos de regresso aos egoísmos nacionais e aos conflitos.”
Voltar a Lisboa
Ao Diário Económico, Frutuoso de Melo recordou também, a propósito da adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia em 1985, a sua própria chegada a Bruxelas: “Naquele início de 1987 Portugal era um recém-chegado à União Europeia, olhado de soslaio por muitos funcionários e diplomatas do microcosmos da ‘Europa europeia’.”
Frutuoso de Melo explicava que, “para muito bom diplomata ou funcionário internacional, a imagem” que existia de Portugal “tinha parado” em 1960. Era a imagem de “um país pobre, atrasado, sujeito até há pouco a uma ditadura terceiro-mundista, muito católico e muito conservador.” Era, dizia ainda, difícil que vissem os portugueses “de outra forma, mesmo aos eurofuncionários”.
Isso motivava muitas “perguntas”, muitas “surpresas”, continuava nesse depoimento ao Diário Económico: “Como era possível ver tantas mulheres nas delegações portuguesas nas reuniões com o Conselho ou com a Comissão? Tantas portuguesas funcionárias, tantos portugueses com estudos universitários e pós-universitários, a falarem tão bem francês e inglês, ou mesmo alemão? O quê? Em Portugal as mulheres podiam ter contas bancárias sem autorização dos maridos?”
Frutuoso de Melo, madeirense, conta que ele e os colegas levaram “meses ou mais” a explicar que Portugal tinha dado um salto e que a adesão à então CEE era uma “esperança de consolidar esse progresso”. Com o tempo, foram-se afirmando: “Somos tão bons como os outros, por vezes melhores, trabalhamos tão bem como eles e até temos muitas vezes um espírito mais aberto e mais inovador.”
Durante o tempo em que esteve em Bruxelas, chegou a fazer um intervalo e regressou a Portugal. O Expresso contava que, em 1992, tirou uma licença sem vencimento e voltou a Lisboa, na companhia da mulher, a belga Rita Steyaert, que conheceu na Comissão Europeia, para se dedicar à advocacia. Contava então à Revista Única: “O período lisboeta obedeceu a dois tempos: um primeiro de euforia, ao rever os amigos de sempre; e um segundo de saudades do estilo de vida cosmopolita e internacional de Bruxelas, da qualidade de vida, da ausência de trânsito...”
Mas, quatro anos depois, mete-se a caminho de Bruxelas novamente. Fê-lo sobretudo pela filha, por considerar que era mais fácil educá-la lá, beneficiando de um outro sistema de ensino, de saúde, de transportes públicos. De espaços verdes, de outro nível salarial. Estes foram só alguns dos aspectos que Frutuoso de Melo e Rita Steyaert enumeravam.
Agora, Fernando Frutuoso de Melo – nascido em 1955, licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa – deixará Bruxelas para ser o Chefe da Casa Civil de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi o próprio Presidente eleito que o comunicou à agência Lusa, através de uma nota na qual destacava o “longo curriculum” que o actual director-geral tem “ao serviço de Portugal e das instituições europeias”.