Cai a fonte de Boliqueime, regressa o poço pré-cavaquismo mas fica a seco

As obras de requalificação da Estrada Nacional (EN) 125 ditaram a morte da fonte de Boliqueime. O camartelo está no terreno, a derrubar a fonte dos anos 60.

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Boliqueime vai perder a “fonte” de que tanto se falou nos tempos em que Cavaco Silva era primeiro-ministro, com maioria absoluta. A ligação ao passado, quando havia um poço que dava de beber à aldeia, regressa mas de forma simbólica. A alteração da rotunda à entrada de Boliqueime e o derrube da fonte resulta das modificações do projecto de requalificação da Estrada Nacional (125), que só na freguesia de Boliqueime, numa distância de seis quilómetros vai ter cinco rotundas. O presidente da junta de freguesia, Rui Mogo, PSD, acha que a fonte que nesta quinta-feira começou a ser demolida não passa de “um mamarracho, sem interesse histórico”, construída em 1967.

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Boliqueime vai perder a “fonte” de que tanto se falou nos tempos em que Cavaco Silva era primeiro-ministro, com maioria absoluta. A ligação ao passado, quando havia um poço que dava de beber à aldeia, regressa mas de forma simbólica. A alteração da rotunda à entrada de Boliqueime e o derrube da fonte resulta das modificações do projecto de requalificação da Estrada Nacional (125), que só na freguesia de Boliqueime, numa distância de seis quilómetros vai ter cinco rotundas. O presidente da junta de freguesia, Rui Mogo, PSD, acha que a fonte que nesta quinta-feira começou a ser demolida não passa de “um mamarracho, sem interesse histórico”, construída em 1967.

O projecto de requalificação da EN 125, datado de 2009, sofreu uma profunda alteração com vista à diminuição dos custos. O projecto que deu entrada na câmara de Loulé, no passado mês de Outubro, apenas para conhecimento, ainda contemplava a fonte, com uma grande rotunda. Porém, há cerca de duas semanas a autarquia foi confrontada pela empresa Rotas Litoral do Algarve (RAL) com outra proposta. O diâmetro da rotunda foi reduzido para 3,5 metros e a fonte desaparece, embora ainda haja água no subsolo. A demolição começou nesta quinta-feira. O poço, garante Rui Mogo, “vai manter-se, com a construção de uma réplica, no meio da nova rotunda”. Assim, diz, “não se perde o simbolismo”, ainda que sem pinga de água.

O autarca concorda com a solução que foi encontrada pela RAL, subconcessionária da Infraestruturas de Portugal. “Vem de encontro à vontade da população”, diz. O que estava previsto, explica, era uma “enorme rotunda, que iria retirar uma parte dos estacionamentos dos estabelecimentos na zona envolvente”. Além disso, acrescenta, “colidia com o parque de estacionamento do supermercado AldI”, que abriu há pouco mais de um ano e não foi previsto no projecto das Infraestruturas de Portugal. 

A falta de diálogo entre o poder local e a administração central, acusa o presidente da câmara de Loulé, Vítor Aleixo, PS, “espelha-se nesta obra — fazem o querem”, observa, acrescentando que a RAL vai repavimentar o troço da EN 125, de Boliqueime às Quatro Estradas, com ligação a Vilamoura “sem se preocupar com o projecto de saneamento básico que a câmara está a desenvolver para esta zona”.

Sobre a origem do nome “Poço ou Fonte" de Boliqueime, Rui Mogo, diz: “Sempre foi poço, mas a determinada altura começaram a chamar-lhe fonte”. O próprio Aníbal Cavaco Silva, quando tinha 21 anos, num requerimento (que consta dos arquivos municipais) dirigiu-se ao então presidente da câmara de Loulé, apresentando-se como residente no Poço de Boliqueime, para pedir isenção de propinas. A passagem do lugar a “fonte” coincidiu com o período áureo do cavaquismo, gerando algumas criticas e comentários. Agora, o presidente da junta de freguesia, devolveu ao povo a decisão toponímica. “Depois da reunião com a RAL, onde se discutiu a alteração do projecto da rotunda, quis ouvir as pessoas e todos concordaram”.

O projecto inicial, recorda, “vinha do tempo das vacas gordas, quando não se falava em crise”. O projecto previa a construção de uma estrada com quatro faixas até às Quatro Estradas, com perfil de avenida. O investimento foi reduzido a menos de metade do que estava previsto, prevendo apenas duas faixas e nove rotundas para facilitar o acesso às habitações e estabelecimentos que ladeiam a via. Com as obras em curso na EN 125, dizem os empresários, complica-se ainda mais a mobilidade na região. Por isso, as seis principais associações empresariais do Algarve vieram nesta quinta-feira, em comunicado, reclamar do Governo a suspensão das portagens na Via do Infante durante o período do Carnaval e Páscoa alegando “constrangimentos graves” um pouco por toda a região.os graves” um pouco por toda a região.