Quatro em cada dez doentes têm de voltar à farmácia para ter os medicamentos

Problemas de stock justificam a esmagadora maioria dos regressos. Em muitos casos são doentes crónicos que ficam sem os fármacos, indica estudo pedido pela Associação Nacional de Farmácias.

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Mais de metade das pessoas recorre à farmácia quando tem dúvidas sobre um medicamento Paula Abreu

Quatro em cada dez pessoas que vão a uma farmácia acabam por ter de regressar mais tarde para conseguir aviar todos os medicamentos de que precisam. A situação acaba por ter mais peso quando em 62% das situações os problemas de stock afectaram doentes crónicos e, por isso, com medicação que não pode ser interrompida. Há também 14% de utentes que admitem que deixaram de comprar algum medicamento receitado pelo médico, pelos mais variados motivos: de não conseguir encontrar o produto numa farmácia a achar que não precisam, várias são as razões apontadas por um grupo de inquiridos para um estudo sobre a realidade deste sector.

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Quatro em cada dez pessoas que vão a uma farmácia acabam por ter de regressar mais tarde para conseguir aviar todos os medicamentos de que precisam. A situação acaba por ter mais peso quando em 62% das situações os problemas de stock afectaram doentes crónicos e, por isso, com medicação que não pode ser interrompida. Há também 14% de utentes que admitem que deixaram de comprar algum medicamento receitado pelo médico, pelos mais variados motivos: de não conseguir encontrar o produto numa farmácia a achar que não precisam, várias são as razões apontadas por um grupo de inquiridos para um estudo sobre a realidade deste sector.

Os dados fazem parte do estudo Um Novo Modelo de Farmácia – Inquérito Domiciliado à População Portuguesa, feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa, a pedido do Centro de Estados e Avaliação em Saúde (CEFAR) da Associação Nacional de Farmácias (ANF). O trabalho contou com um inquérito presencial a 1114 pessoas com mais de 18 anos e a residir nas várias zonas do Continente. O erro da amostra é de 2,9% para um grau de confiança de 95% e os dados foram recolhidos em Setembro de 2015.

Quando surge um problema menor de saúde, antes mesmo dos centros de saúde, 36% das pessoas dirigem-se em primeiro lugar a uma farmácia. Apesar disso, um em cada cinco portugueses não procura aconselhamento em lado nenhum. Quanto a ir em primeiro lugar à farmácia, este comportamento é mais comum nas pessoas entre os 55 e os 64 anos, seguindo-se a faixa etária entre os 35 e os 44 anos e, num empate a 39%, as pessoas entre os 25 e os 34 e entre os 45 e os 54 anos. É entre os inquiridos de Lisboa que existe uma proporção maior daqueles que consultam a farmácia em primeiro lugar, seguindo-se a zona Centro, Norte, Alentejo e só por fim Algarve.

Sempre que há uma dúvida directamente relacionada com medicamentos, a farmácia volta a surgir no topo da lista, ainda com mais força: é a escolha de 54% dos inquiridos. Só 16% das pessoas contactam o centro de saúde e 3% o hospital. É nas pessoas entre os 35 e os 44 que a farmácia mais surge como uma primeira opção, com 63% dos participantes nesta idade a indicarem-na como resposta.

Regra geral, entre a amostra, mais de metade das pessoas foi à farmácia seis ou mais vezes nos últimos seis meses e 30% entre três a cinco vezes. Só 1% dos inquiridos não foram de todo a estes estabelecimentos. A frequência da farmácia é mais comum entre as mulheres, nas pessoas acima dos 65 anos, entre os reformados, viúvos e doentes crónicos.

Mesmo com problemas de stock, 94% dos inquiridos que foram a uma farmácia pelo menos uma vez no último ano dizem estar satisfeitos com o desempenho das farmácias e dos seus profissionais. Quanto à forma como encaram o futuro do sector, o trabalho feito a pedido da ANF indica que para 69% das pessoas os serviços que existem nas farmácias estão adequados às necessidades existentes e só 29% consideram que estes estabelecimentos de saúde poderiam alargar o seu leque de serviços. Renovação automática de receitas para doentes crónicos, mais serviços ao domicílio e mais análises ou administração de vacinas, assim como acesso nas farmácias a medicamentos que até agora apenas são disponibilizados nos hospitais são algumas das hipóteses admitidas pelos utentes que defendem um alargamento dos serviços.

Algumas destas ideias vão, aliás, ao encontro de algumas propostas da Ordem dos Farmacêuticos (OF), que na terça-feira defendeu que a renovação da prescrição de medicamentos de doentes crónicos passe a ser feita na farmácia, para reduzir a congestão dos serviços de saúde e evitar desistências da terapêutica. Num documento com 30 recomendações para o Uso Responsável do Medicamento, citado pela Lusa, a OF sugeria a implementação do serviço farmacêutico de renovação da prescrição dos medicamentos dos doentes crónicos controlados, “em estreita colaboração com o médico”.

“A prestação deste serviço pressupõe a comunicação ao médico das renovações realizadas, assim como a referenciação à consulta médica quando os resultados clínicos não correspondem ao expectável”, indicava o documento. A adesão à terapêutica e a gestão da toma simultânea de vários remédios seriam as melhorias alcançadas com esta medida. A Ordem propõe também que seja revista a lista dos medicamentos de uso exclusivo hospitalar, considerando que uma deslocação do doente ao hospital pode comprometer o acesso e adesão à terapêutica.