Beber leite é tão natural… como o poder de escolha
Os tempos em que as instituídas “seitas sistémicas” jamais eram questionadas nas altas instâncias, estão a terminar.
São tempos interessantes para uma reflexão sobre o sistema democrático. E como muitos autores têm dito ao longo da história, e eu concordo, por vezes mais do que encontrar as respostas correctas, eficaz é aprender a colocar as questões mais acertadas. Será que todos concordamos que a democracia beneficia efetivamente com a diversidade de perpectivas informadas e com o direito à diferença?
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São tempos interessantes para uma reflexão sobre o sistema democrático. E como muitos autores têm dito ao longo da história, e eu concordo, por vezes mais do que encontrar as respostas correctas, eficaz é aprender a colocar as questões mais acertadas. Será que todos concordamos que a democracia beneficia efetivamente com a diversidade de perpectivas informadas e com o direito à diferença?
Aproveitando as reacções do sector de leite à manifestação de uma posição política do PAN, tão válida como qualquer outra, proponho-me a incorrer numa reflexão sobre o direito dos cidadãos à escolha informada.
Ora “o seu a seu dono” e, apesar de estudarmos aprofundadamente esta matéria, vamos deixar as considerações sobre o valor do leite enquanto alimento, para os investigadores, médicos, nutricionistas, um sem fim de entidades credíveis, que questionam, com base em evidências científicas muito consistentes, os tão aclamados benefícios do leite.
Diabolizar ou sacralizar o valor nutritivo do leite é uma polémica tão explorada que chega a esgotar-se em si mesma, entre estudos e argumentos elaborados com a finalidade de se contradizerem entre si e que só servem para confundir os cidadãos que pretendem fazer escolhas esclarecidas acerca da sua dieta e da sua saúde.
O que o PAN vem defender é apenas, e sem enaltecer preocupações imberbes com a suposta tendência radical da nossa aproximação a estes temas mais audaciosos, um direito fundamental: O da liberdade de escolha estando na posse de toda a informação existente.
Os tempos em que as instituídas “seitas sistémicas” jamais eram questionadas nas altas instâncias, estão a terminar. Os tempos em que as máquinas do marketing assentes exclusivamente numa folha de cálculo criavam necessidades e mitos ao serviço do lucro das mais variadas indústrias, estão gradualmente a ser suplantados por uma nova realidade, legitimada pelos claros sinais de mudança política, um pouco por toda a Europa, e do qual Portugal faz parte.
O consumo de leite é um fenómeno cultural e industrial passível de ser analisado ao longo da história das civilizações e, do meu ponto de vista, o mito criado sobre o leite ser um “super-alimento”, pode ser facilmente desconstruído. Não tão fácil será trazer ao debate político a objectividade que permita analisar o desafio central, político e económico, que temos aqui: reconverter ou resistir? É possível começar a pensar na reconversão realista de um sector em crise ou continuar em negação deliberada e resistir a enfrentar uma premissa incontestável no que respeita à produção de leite em Portugal e no mundo - os consumidores querem cada vez mais alternativas ao leite!
“Nós por cá”, conscientes do âmbito de acção ainda bastante limitado, mas com um potencial de crescimento salutar, reconhecemos a existência, nesta Assembleia, da esquerda à direita, de muita qualidade política, técnica e, acima de tudo, humana. E, voltando ao tema que, me inspirou a este artigo gostaríamos que os cidadãos portugueses pudessem usufruir do direito fundamental da escolha consciente, não apenas na questão do consumo de leite, mas também sobre o cultivo e consumo de Organismos Geneticamente Modificados (OGM’s), sobre a concessão de plataformas de exploração de petróleo e gás natural e sobre tantos outros assuntos que um crescente número de cidadãos pede para ver discutido na casa da democracia.
Se a “liberdade de informação é um direito fundamental essencial”, referido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1946, como a pedra basilar sobre o qual assentam todas as liberdades, deixemos que aqueles que, primeiro são cidadãos e só depois consumidores, façam as suas escolhas, sabendo que existem alternativas e se ainda assim, pretenderem consumir produtos de origem animal ou quaisquer outros, pois que seja, louvamos as escolhas individuais informadas, sejam quais forem. Só assim caminhamos rumo a novas opções políticas que defendam o direito à verdade em confronto com diferentes modelos de sociedade.
Porta-voz e Deputado do PAN, Pessoas – Animais – Natureza