O que é o caucus?

As primárias nos EUA arrancam hoje, mas o estado do Iowa escolhe os seus candidatos em assembleias onde se discute muito antes de se votar.

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O Iowa oferece 30 delegados aos candidatos do Partido Republicano e 52 aos candidatos do Partido Democrata JIM WATSON/AFP

Como são escolhidos os candidatos à Casa Branca?

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Como são escolhidos os candidatos à Casa Branca?

Numa primeira fase, geralmente entre Janeiro e Junho (este ano entre 1 de Fevereiro e 14 de Junho), eleitores dos 50 estados norte-americanos mais a capital federal e cinco territórios administrados pelos EUA fazem as suas escolhas entre os vários candidatos de cada partido em eleições primárias e assembleias (caucus) – apesar de haver duas formas de escolha, é habitual chamar-se apenas "primárias" a esta fase.

Em vez de ser uma votação directa, em que o voto vai para um candidato e o processo fica concluído nesse momento, os eleitores de cada partido estão na verdade a contribuir para que o seu candidato preferido acabe a noite com mais delegados do que os opositores. Estes delegados – homens e mulheres politicamente activos nas suas áreas, que são escolhidos e distribuídos de acordo com critérios como a dimensão do estado e os resultados de eleições anteriores –, vão depois às convenções nacionais dos seus partidos, em Julho, onde declaram as escolhas em nome dos eleitores que votaram nas primárias. Os candidatos vão disputando esses delegados em cada estado, e normalmente o nomeado é conhecido meses antes de as primárias chegarem ao fim.

Quantos delegados estão em jogo a nível nacional?

Ao todo, o Partido Republicano tem 2472 delegados; para um candidato ser nomeado terá de conquistar 50%+1, ou 1237 delegados. O Partido Democrata tem 3635 delegados, mas para além disso tem ainda 700 superdelegados, seleccionados entre líderes partidários, governadores e senadores, e que têm total liberdade de voto na convenção nacional – o que pode prolongar a incerteza no caso de as primárias serem particularmente renhidas.

Qual é a importância do Iowa para estas contas?

Pouca em termos aritméticos, mas muita em termos simbólicos e psicológicos, ao ponto de poder destruir sonhos e forjar heróis, principalmente em conjunto com os resultados das primárias no New Hampshire, que vão decorrer na próxima semana. Com apenas três milhões de habitantes num país de 320 milhões, o Iowa oferece 30 delegados aos candidatos do Partido Republicano e 52 aos candidatos do Partido Democrata, o que ronda apenas 1% do total em ambos os casos.

A importância do Iowa resulta do facto de ser o primeiro estado a ir a votos, e é lá que todos os olhos estão postos à espera de um sucesso retumbante ou de um falhanço catastrófico – por exemplo, se Donald Trump não ficar entre os três mais votados no Partido Republicano, a aura de forte candidato que foi construindo nos últimos meses pode cair por terra e prejudicá-lo na votação no estado do New Hampshire; se Jeb Bush terminar entre os três primeiros, pode relançar a sua candidatura por ter conseguido um resultado muito acima do esperado.

Para além disso – também por serem os dois primeiros a ir a votos –, o Iowa e o New Hampshire costumam separar as águas entre os candidatos com hipóteses de se manterem na corrida (mesmo que não sejam os mais votados) e os que acabam por desistir depois de um resultado sem expressão.

O Iowa foi sempre o primeiro estado a ir a votos?

Não. O New Hampshire era o primeiro desde 1920, mas tudo mudou em 1972, quando o Partido Democrata teve de alterar as datas por causa de conflitos de calendário com a sua convenção nacional.

A campanha e o bom resultado do senador George McGovern nesse ano atraiu a atenção dos media, e os líderes do Partido Democrata no Iowa empenharam-se em garantir que, a partir daí, o seu estado seria sempre o primeiro a votar.

O Partido Republicano juntou-se em 1976, e desde então o Iowa fez tudo para não perder a atenção do país durante a pré-campanha e o arranque das primárias – se um outro estado tentar passar à sua frente, o Iowa tem uma lei que lhe permite antecipar os caucus e voltar a ser o primeiro.

Qual é a diferença entre caucus e primárias?

Enquanto nas primárias os eleitores dirigem-se a um local de voto a qualquer hora do dia, fazem a sua escolha de forma secreta e voltam para casa (como nas eleições em Portugal, por exemplo), um caucus é uma reunião de eleitores registados ou simpatizantes de um determinado partido, que devem estar presentes num determinado sítio a uma hora certa – geralmente às 19h locais.

O processo é mais simples no caso do Partido Republicano – os eleitores chegam, podem discutir entre si e tentar convencer outros a mudar o sentido de voto, mas no final fazem a sua escolha de forma secreta, entregando um boletim com o nome do seu candidato preferido.

No Partido Democrata o processo é muito mais complicado e moroso – em vez de entrarem e saírem rapidamente de um local de voto, os eleitores que escolhem os seus candidatos num caucus do Partido Democrata juntam-se numa escola ou numa igreja, ou até mesmo numa casa particular, e são convidados a dividirem-se em grupos de acordo com as suas preferências.

É feita uma primeira contagem, e os candidatos que não tiverem pelo menos 15% de apoiantes em relação ao número total de pessoas que estão no local são considerados "inviáveis". A partir daí, os apoiantes dos outros candidatos têm algum tempo para tentarem levar para os seus campos a maioria dos que ficaram sem candidato. Depois deste processo é feita a contagem final.

Quem pode votar nas primárias e nos caucus?

Depende. Nos estados que têm primárias, há primárias abertas (não é preciso estar registado num partido para votar); primárias fechadas (só pode votar quem está registado num partido, sendo que em alguns casos os eleitores podem registar-se no dia das eleições); e primárias semi-fechadas (os eleitores independentes podem escolher no dia das eleições em que partido vão votar). Nos estados que têm caucus, como o Iowa, só podem votar eleitores registados nos respectivos partidos.

Quem ganha no Iowa acaba por ser nomeado em Junho?

O Iowa pode dar alento a candidatos que estão mal colocados nas sondagens e provocar pesadelos aos mais populares, mas o facto de receber uma atenção eventualmente exagerada por parte dos media não o transforma num oráculo. Ainda assim, é habitual dizer-se nos Estados Unidos que quem fica entre os três primeiros no Iowa acaba por obter a nomeação. No Partido Democrata é isso que acontece desde 1972, com uma notável excepção em 1992: um então relativamente desconhecido governador do Arkansas chamado Bill Clinton ficou em 4.º lugar com apenas 2,8% dos votos. No Partido Republicano a excepção foi John McCain, em 2008 – também terminou em 4.º, com 13,1%, mas acabou por vencer as primárias. Quanto a Presidentes, o Iowa conseguiu prever a eleição de três, com vantagem para o Partido Democrata: Jimmy Carter (1976), George W. Bush (2000) e Barack Obama (2008).