As desgraças do PCP
A agonia do comunismo irá com certeza produzir uma guerra na esquerda, que pode levar o regime à ruína.
O prestígio do Partido Comunista Português começou a diminuir depois da guerra, com as purgas de Estaline aos judeus da Rússia e aos “desviacionistas” da Hungria a da Checoslováquia. Sem a ameaça de Hitler, as barbaridades do Generalíssimo já não eram engolidas com a mesma credulidade. O PCP não percebeu isto e nem sequer seriamente notou como estava a ser tratado pelos seus próprios “simpatizantes”, que desprezavam a orientação dos funcionários e lhes chamavam batatulinas*. Claro que o “Partido” (só havia aquele) ainda exercia uma considerável influência sobre a vida cultural do país (pelo que ela valia) e pouco a pouco ia infiltrando e dominando o movimento estudantil. Mas já Cunhal tinha de protestar contra os movimentos “pequeno-burgueses” de “fachada socialista”, que apareciam na Universidade e um pouco fora dela.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O prestígio do Partido Comunista Português começou a diminuir depois da guerra, com as purgas de Estaline aos judeus da Rússia e aos “desviacionistas” da Hungria a da Checoslováquia. Sem a ameaça de Hitler, as barbaridades do Generalíssimo já não eram engolidas com a mesma credulidade. O PCP não percebeu isto e nem sequer seriamente notou como estava a ser tratado pelos seus próprios “simpatizantes”, que desprezavam a orientação dos funcionários e lhes chamavam batatulinas*. Claro que o “Partido” (só havia aquele) ainda exercia uma considerável influência sobre a vida cultural do país (pelo que ela valia) e pouco a pouco ia infiltrando e dominando o movimento estudantil. Mas já Cunhal tinha de protestar contra os movimentos “pequeno-burgueses” de “fachada socialista”, que apareciam na Universidade e um pouco fora dela.
O “25 de Abril” permitiu que o PC se apoderasse de umas dúzias de oficiais, que ele catequizara a tempo na clandestinidade ou que genuinamente se julgavam “revolucionários”. Isto que naquele tempo serviu para envolver o país numa aventura sem sentido, no fim não chegou para mais do que para legar à democracia uma constituição programática e absurda. De 1975 em diante o PC arrastou uma existência mesquinha e acabou reduzido a umas Câmaras no Alentejo, com uma população envelhecida e sem qualquer importância estratégica e a uma dúzia de sindicatos do funcionalismo público e de companhias do Estado. A sua morte natural parecia próxima.
Só que o PCP é uma máquina financeiramente pesada e, para se sustentar, precisou de uma aliança tácita com o PS. Suponho que entre os velhos militantes ninguém desculpará a Jerónimo de Sousa essa cedência ao inimigo histórico do Partido e que a gente mais nova deixou de ter qualquer razão ideológica ou sentimental para morrer agarrada a um cadáver. Chamar, como Jerónimo, uma “rapariga engraçadinha” a uma adulta de 40 anos mostra que ele passou para lá da mais modesta compreensão do mundo real. Se o PC se vai esfumar sossegadinho no seu canto ou se vai arrastar o PS na sua queda (como os “duros” querem) é o que resta apurar. Seja como for, a agonia do comunismo irá com certeza produzir uma guerra na esquerda, que pode levar o regime à ruína.
* Infelizmente, não sei a origem desta palavra, mas sei que significava “fanático burro”.