Venda da Corbis à China cria receios sobre emblemática colecção de fotografia
Envolvidos no negócio asseguram que imagens como as dos protestos de Tiananmen vão continuar disponíveis como até agora.
Bill Gates vendeu a Corbis, detentora de um dos maiores arquivos de fotografia do mundo, à Visual China Group (VCG) e com o negócio milionário transitaram para a companhia chinesa alguma das mais emblemáticas imagens do século XX. A venda fez franzir muitos sobrolhos, tanto mais que entre o enorme espólio se encontram algumas das raras fotografias que testemunham o massacre da Praça de Tiananmen, que Pequim nunca permitiu que fossem vistas no país.
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Bill Gates vendeu a Corbis, detentora de um dos maiores arquivos de fotografia do mundo, à Visual China Group (VCG) e com o negócio milionário transitaram para a companhia chinesa alguma das mais emblemáticas imagens do século XX. A venda fez franzir muitos sobrolhos, tanto mais que entre o enorme espólio se encontram algumas das raras fotografias que testemunham o massacre da Praça de Tiananmen, que Pequim nunca permitiu que fossem vistas no país.
“E se a VCG, sendo o novo dono dessas imagens que pertenciam à Corbis, decidir que algumas delas não são apropriadas para ser vendidas a ninguém no mundo?”, questionava-se Christoph Rehage, escritor e artista plástico com vários trabalhos sobre a cultura chinesa, ouvido pela CNN. Um receio que, diz Xiao Qiang, fundador de um grupo que monitoriza a censura na China, não é descabido. “Ninguém se deveria surpreender se as decisões e as acções de uma empresa chinesa se alinharem com as políticas e as práticas do governo chinês”, disse Xiao ao New York Times.
Os envolvidos no negócio – cujo montante não foi revelado – garantem, no entanto, que os receios são infundados e que as cem milhões de fotografias e os mais e 800 mil vídeos que integram a colecção da Corbis vão continuar disponíveis, ainda que possam ser censuradas na China. Numa resposta enviada por email ao jornal norte-americano, a VCG, que é já o maior distribuidor de fotografias online na China, diz-se “totalmente empenhada em ser um bom guardião” do espólio que adquiriu. E à CNN, um porta-voz da Corbis afirmou que no negócio “foi cuidadosamente ponderada a futura guarda das imagens”.
Em paralelo com a aquisição da Corbis, a empresa chinesa assinou uma parceria com a Getty Images, principal rival da empresa fundada por Gates, que ficará responsável pela distribuição e licenciamento das imagens fora da China. O site especializado em fotografia digital PetaPixel adianta que nos próximos meses todo o espólio da Corbis será migrado para a Getty, criando um arquivo online com mais de 200 milhões de imagens.
Ouvido pelo New York Times, Craig Peters, vice-presidente da Getty, assegurou que a VCG não terá qualquer palavra a dizer naquilo que a sua empresa “produz, representa ou disponibiliza nos mercados onde trabalha”. “O nosso nível de decisão editorial e de integradide está 100% intacto”, afirmou. O responsável sublinha ainda que muitas das imagens existentes no arquivo são propriedade de fotógrafos particulares ou de agências de notícias e a Corbis (tal como a Getty) gere apenas o seu licenciamento. “A Corbis paga os direitos ao autor. E quando um contrato expira o seu proprietário pode retirá-las do banco de imagens”, assegurou um porta-voz.
O jornal norte-americano sublinha ainda que um dos ícones da repressão de 1989 – mostrando um homem enfrentando sozinho uma coluna de tanques na praça de Tiananmen – existe nos arquivos da Corbis, mas a versão mais difundida é a que pertence à agência Reuters.
Criada no mesmo ano dos protestos, a Corbis foi lançada pelo fundador da Microsoft para disponibilizar imagens para os ecrãs interactivos que ele que acreditava viriam a ser usados nas empresas, escolas e residências. Essa visão não se concretizou, mas a Corbis foi adquirindo colecções, incluindo o famoso arquivo da antiga agência Sygma, e detém fotografias que são parte do espólio da humanidade, como a da saia esvoaçante de Marilyn Monroe, a da explosão do dirigível alemão Hindenburg, em 1937, ou a que mostra Albert Einstein de língua de fora.