Israel divulga pedido de clemência do nazi Adolf Eichmann: "Não fui responsável"

"Fui um mero instrumento" e "como tal não me sinto culpado" pelos crimes do Holocausto, escreveu o criminoso de guerra que foi raptado pela Mossad na Argentina.

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Adolf Eichmann foi um dos arquitectos da "solução final" DR

Dois dias antes da sua morte, por enforcamento, o conhecido criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann, que foi capturado por agentes da Mossad na Argentina, tentou evitar a execução entregando um pedido de clemência ao então Presidente de Israel, no qual se descrevia como “um mero instrumento” forçado a cumprir a política de extermínio do regime de Hitler e não um dos arquitectos do Holocausto.

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Dois dias antes da sua morte, por enforcamento, o conhecido criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann, que foi capturado por agentes da Mossad na Argentina, tentou evitar a execução entregando um pedido de clemência ao então Presidente de Israel, no qual se descrevia como “um mero instrumento” forçado a cumprir a política de extermínio do regime de Hitler e não um dos arquitectos do Holocausto.

“Não fui eu o responsável e como tal não me sinto culpado”, escreveu Eichmann, para quem o tribunal sobrestimou o seu papel na morte de milhões de pessoas nos campos nazis. “Na sua avaliação da minha personalidade, os juízes cometeram um erro porque foram incapazes de simpatizar com a situação em que eu me encontrei durante anos”, alegou. “Nunca servi com uma patente tão elevada que me permitisse ter poderes de decisão independentes. Nunca dei uma ordem em nome próprio, limitei-me a agir no cumprimento de ordens que me foram dadas”, justificou, num derradeiro protesto da sua inocência.

O prisioneiro recorda que forneceu, voluntariamente, informação previamente desconhecida sobre “os horrores infligidos aos judeus” que testemunhou. “Quero dizer, tal como fiz em tribunal, que desprezo estes crimes abomináveis, e concordo que os responsáveis por esses horrores sejam levados à justiça”, lê-se na petição escrita por Eichmann – que recusa considerar-se culpado dos crimes de guerra de que foi acusado e pelos quais nunca pediu perdão.

A declaração, um manuscrito de duas páginas redigidas em alemão, foi divulgada pela primeira vez esta quarta-feira, o dia em que se assinala o 71º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, consagrado como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. Juntamente com outros textos semelhantes escritos pela família de Eichmann – a sua mulher, Vera, e os seus cinco irmãos –, com documentos oficiais do processo judicial, pedidos de perdão apresentados por intelectuais judeus e ainda com a carta do Presidente com instruções para a recusa da petição, os papéis do caso foram publicamente apresentados numa cerimónia na residência oficial do Presidente Reuven Rivlin, em Jerusalém, onde ficaram expostos.

Adolf Eichmann foi um dos participantes na infame conferência de Wannsee em 1942, onde foi decidida e planeada a aniquilação da população judaica. O regime nazi matou seis milhões de judeus e outras minorias étnicas em diversos campos de extermínio na Europa.

No final da Segunda Guerra Mundial, foi detido num campo para prisioneiros de guerra na Alemanha, do qual conseguiu escapar em 1950 e fugir para a Argentina, onde se refugiou e viveu com um novo nome até ser localizado pelos serviços secretos israelitas, em 1960. Numa das mais célebres acções da Mossad, foi raptado em Buenos Aires e transportado clandestinamente para Israel, onde foi acusado de crimes contra o povo judeu, contra a humanidade e crimes de guerra e condenado à morte.

“Foi o processo de Eichmann que rompeu o muro de silêncio”, sublinhou o Presidente Reuven Rivlin esta manhã. “A captura do criminoso nazi pelo Estado judaico trouxe um novo sentimento de segurança e justiça aos sobreviventes do Holocausto”, considerou, lembrando que Israel continua a tentar localizar e trazer à justiça todos os participantes no genocídio nazi.