Óscares, racismo estrutural

Lição nº 1: nada disto é sobre os Óscares. É sobre racismo estrutural. Bendito boicote. Quanto às pessoas brancas racistas, nada têm que aprender, está tudo sabido

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A 28 de Fevereiro, em Los Angeles, Califórnia, realiza-se a 88ª cerimónia dos Óscares. Este ano tem existido muito drama, comédia e ficção mas fora da tela. Tudo começou com um “era uma vez” um boicote à cerimónia dos Óscares devido à falta de diversidade étnica. Spike Lee, Will Smith, Jada Pinkett Smith anunciaram o boicote à cerimónia. Como figuras carismáticas que são, chamaram a atenção, por um lado, do público no geral, por outro lado, da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e igualmente de vários actores e actrizes pelo mundo fora. A Academia já se manifestou e pretende aplicar medidas que visem uma maior representatividade do número de mulheres e de pessoas de outras etnias – negras, latinas, asiáticas. Em suma, tornando uma história longa em curta: protesto, boicote, agitação, promessas e a ver vamos. O espectáculo continua.

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A 28 de Fevereiro, em Los Angeles, Califórnia, realiza-se a 88ª cerimónia dos Óscares. Este ano tem existido muito drama, comédia e ficção mas fora da tela. Tudo começou com um “era uma vez” um boicote à cerimónia dos Óscares devido à falta de diversidade étnica. Spike Lee, Will Smith, Jada Pinkett Smith anunciaram o boicote à cerimónia. Como figuras carismáticas que são, chamaram a atenção, por um lado, do público no geral, por outro lado, da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, e igualmente de vários actores e actrizes pelo mundo fora. A Academia já se manifestou e pretende aplicar medidas que visem uma maior representatividade do número de mulheres e de pessoas de outras etnias – negras, latinas, asiáticas. Em suma, tornando uma história longa em curta: protesto, boicote, agitação, promessas e a ver vamos. O espectáculo continua.

Fora da tela, alguns actores e actrizes fizeram o que melhor sabem fazer: filmes. Temos assistido a drama, comédia, ficção baseada em factos verídicos. Qual o tema escolhido: racismo e algures na Europa e Estados Unidos. O elenco é diversificado: pálido, desmaiado, descorado, desbotado, branco. Também temos uma variedade de sotaques, o que ajuda na compreensão da mensagem a passar, que consegue ser diferente de interlocutor para interlocutor. Todavia, tudo é dito de forma simples e educativa. E para quem são estas mensagens puras e ‘claras’? Para as pessoas negras. Finalmente, a diversidade teve o que merecia: destaque.

Michael Caine, ‘Sir, yes, Sir’, pede aos negros para terem paciência, afirma que quando começou ele era o ‘preto’ lá do sítio. Conheço a sensação, ‘Sir, yes, Sir’. Quando eu comecei, há 40 anos, também era a ‘preta’ lá do sítio. Bem, não na mesma dose pesada do ‘Sir,yes, Sir’. Lá em casa éramos oito. E nada odiosos, mas, confesso, alguns eram um pouco chatos, ‘tipo’ Spike Lee. Refilões.

Charlotte Rampling diz que o pedido de diversidade étnica nos Óscares é racismo contra os brancos, quer dizer, racismo inverso, tomei nota. Continua a sua lição acrescentando que talvez a questão seja esta: as pessoas negras no mundo do cinema não têm talento suficiente. Percebemos a dica. Spike Lee, esta era para ti, meu caro: “Do the right thing”, o.k? O.K. E eis que chega a curta-metragem mais aguardada, realizada e protagonizada por Julie Delpy. No painel organizado por "The Wrap" no Sundance Festival, Delpy diz: “I sometimes wish I were African American because people don’t bash you afterward.” Hélas, duvidar de Delpy. Gostaria de ter a oportunidade de perguntar à actriz quando é que deseja ser afro-americana, ‘antes do amanhecer ou depois do anoitecer’? Ajudava que fosse mais específica. Essa ‘coisa’ do ‘I have a dream’ parece um pouco foleira. Nunca ouvi tal coisa e não me parece grande lema de vida. Talvez de morte.

Realmente, as pessoas negras têm muito para aprender. Lição nº 1: nada disto é sobre os Óscares. É sobre racismo estrutural. Bendito boicote. Quanto às pessoas brancas racistas, nada têm que aprender, está tudo sabido. Façam-nos é um favor: não partilhem o que sabem. São pérolas. Preciosas. Escrevam um livro. Um dia ainda vou ter uma casa com lareira. Sir, yes, Sir!