Acabar com a classe política
Políticos somos todos, com cargos ou sem cargos, tal como os ditos políticos de classe e profissão também são cidadãos
Somos um dos povos mais desconfiados da Europa e, provavelmente, de todo o mundo. Os nossos níveis de empatia social andam lá por baixo. Diz-se que sabemos receber, mas, dificilmente, confiamos nos nossos, muito menos se forem políticos.
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Somos um dos povos mais desconfiados da Europa e, provavelmente, de todo o mundo. Os nossos níveis de empatia social andam lá por baixo. Diz-se que sabemos receber, mas, dificilmente, confiamos nos nossos, muito menos se forem políticos.
Estamos sempre em crise, até aqui nada de novo. Uma delas é a crise de confiança, que leva à falta de esperança. Podíamos escrutinar as causas e encontrar muitas justificações históricas e sociológicas para o fenómeno, mas vamos aos efeitos.
Seremos ainda uma sociedade de marcadas e vincadas classes sociais? Talvez sim, pelo menos na linguagem que usamos. Um desses exemplos é a expressão: "Classe política". Que sentido tem esta expressão em democracia? Quem assume a liderança política será de uma classe social à parte? Nada poderia ser mais antidemocrático e contribuir para criar afastamento e desconfiança.
Os ditos políticos são cidadãos tão bons e maus como todos os outros. É urgente exterminar a classe política, porque de facto essa separação não pode existir, mesmo que seja apenas um mero recurso de comunicação. Quem assume cargos políticos não pode ser visto, tratado ou comportar-se como se fosse de uma classe social à parte, porque tem de governar e decidir próximo e em consonância com as necessidades dos seus concidadãos, dos seus iguais.
Um dos recursos que mais falta nos faz é a empatia, entre classes que se querem esbatidas.
Políticos somos todos, com cargos ou sem cargos, tal como os ditos políticos de classe e profissão também são cidadãos. Sem quebrar estas denominações, que têm significados para além da mera estilística comunicativa, dificilmente cumpriremos os princípios de um Estado democrático. Mordomias e afastamentos são hábitos por quebrar. Sem igualdade não há democracia, nem confiança que gere empatia e as condições necessárias para nos desenvolvermos democraticamente, que é o mesmo que dizer: desenvolvermos através do exercício da política positiva.
Quando andamos todos contra todos não se criam condições de confiança e dificilmente avançamos juntos. Exercer política em democracia é o único modo conhecido e testado de lidar com essas dificuldades e desígnios coletivos.