Maria de Belém perde e o PS e a esquerda são arrastados para a derrota
A ex-presidente do PS obteve um resultado muito fraco. Alberto Martins não poupa a direcção do partido mas para já não quer falar de uma “noite de facas longas”.
Eram 20h42 quando Maria de Belém desceu para assumir a derrota, “uma derrota que, nas palavras de dois pesos pesados socialistas, Alberto Martins e Manuel Alegre, atinge o PS e a esquerda em geral”. E o próprio ministro da Cultura, João Soares, presente no quartel-general da candidata, em Lisboa, reconhecia que “não se pode disfarçar o indisfarçável, Maria de Belém sofreu uma derrota”.
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Eram 20h42 quando Maria de Belém desceu para assumir a derrota, “uma derrota que, nas palavras de dois pesos pesados socialistas, Alberto Martins e Manuel Alegre, atinge o PS e a esquerda em geral”. E o próprio ministro da Cultura, João Soares, presente no quartel-general da candidata, em Lisboa, reconhecia que “não se pode disfarçar o indisfarçável, Maria de Belém sofreu uma derrota”.
Na sua curta declaração na sede de candidatura, sem direito a perguntas, Maria de Belém nunca falou do PS, centrando-se na importância da eleição presidencial e na necessidade de se fazer uma reflexão sobre o efeito da abstenção nestas eleições, que se situou na ordem dos 50%. Os ataques ao partido já os tinha feito durante a campanha, mas as críticas mais violentas vieram de Francisco Assis, no último dia, no Porto. O eurodeputado disparou sobre a “direcção do PS, o presidente do partido, a secretária-geral adjunta, o núcleo duro do Governo, por apoiar Sampaio da Nóvoa”.
O fraco resultado que Maria de Belém obteve nestas eleições - na altura em que falava as projecções davam-lhe apenas 4% - ofereceu-lhe uma margem muito curta para pedir contas ao partido liderado por António Costa, que esteve do outro lado da barricada contra António José Seguro, a quem Maria de Belém apoiou na disputa interna das eleições primárias que deram a vitória ao actual primeiro-ministro.
Na hora de prestar contas aos apoiantes, Maria de Belém declarou: “Pela minha parte, assumindo a derrota eleitoral, procurei durante a campanha dar o meu contributo para o debate político e o aprofundamento da democracia”. Agradeceu depois a todos os que estiveram consigo nesta campanha eleitoral. E sublinhou: “Estivemos sem demagogia e sem populismos à altura das nossas responsabilidades, conscientes do valor da liberdade que partilhamos”. E terminou com vivas à República e a Portugal.
Alberto Martins quer "análise crítica" no PS
“O PS foi derrotado e quando se é derrotado é porque não se jogou para a vitória, isso aconteceu – houve um erro do Partido Socialista”, declarou Alberto Martins, logo após Maria de Belém ter feito uma declaração. “Eu tive oportunidade, em tempo, de dizer que o PS devia fazer primárias para escolher um candidato da sua área que apoiava, isso não foi feito – foi explicado numa comissão politica que não havia tempo para o fazer – o resultado está á vista”, atirou Alberto Martins.
O ex-ministro da Justiça disse que, depois desta “grande derrota” para a esquerda em geral e para o PS, o partido deve fazer uma “análise crítica das consequências” do que aconteceu. ”Neste momento a democracia tem um Presidente da República. Há algumas dimensões da democracia que são preocupantes como é o alastramento da abstenção, isso obriga-nos a reflectir sobre a legitimação democrática, a necessidade de aproximar os cidadãos dos eleitores “, sublinhou. O agora deputado lamenta que o PS não aprenda com os erros do passado – uma questão que foi trazida para a campanha por Jorge Coelho -, entregando a Presidência da República a uma personalidade da direita”. E voltou a dizer: “O PS tem de reflectir pelo facto de ter sido derrotado nestas eleições”. A derrota foi pesada, mas Alberto Martins recusou falar de “uma noite de facas longas”
O histórico Manuel Alegre, que na campanha acusou a direcção do PS de estar a fazer “batota” por apoiar um candidato quando tinha decidido não apoiar ninguém na primeira volta, disse que a derrota eleitoral “é um assunto para ser discutido entre socialistas”.
Quem se mostrou “surpreendido” com os resultados “extremamente negativos” foi Marçal Grilo, o mandatário nacional de Maria de Belém. “Os resultados são para a doutora Maria de Belém extremamente negativos, temos que o assumir e temos que compreender aquilo que os eleitores decidiram”, disse em declarações aos jornalistas.
Antes de os resultados serem conhecidos, o deputado Sérgio Sousa Pinto dava um remoque ao PS à chegada ao quartel-general da candidatura. Ao comentar o nível de abstenção, o deputado atirou que, quando os partidos que não participam nos actos eleitorais, isso reflecte-se na abstenção.
Vera Jardim, porta-voz da candidatura de Maria de Belém, assume que os resultados significam falhar o objectivo da candidata de disputar uma segunda volta - “Os resultados que se perspectivam, embora constituam só projecções, permitem-nos afirmar que a candidatura da doutora Maria de Belém Roseira terá ficado muito aquém do que se pretendia: alcançar a segunda volta e bater o candidato da direita”, declarou o porta-voz na sede de candidatura pouco depois de serem conhecidas as primeiras projecções dos resultados.
“A entrada em campanha de uma vaga de populismo demagógico cavalgada e incentivada pelos outros candidatos [sobre o caso das subvenções vitalícias dos políticos] teve efeitos enormes na capacidade da candidatura de consolidar e melhorar os resultados das sondagens até efectuadas”, afirmou Vera Jardim, perante uma plateia de apoiantes em que se destacava o ministro da Cultura, João Soares.
Remetendo para mais tarde a análise aos resultados finais, o ex-ministro apontou o dedo à direcção do PS. “Não se pode ignorar igualmente que a tomada de posição pública de muitos dos principais dirigentes do Partido Socialista e membros do Governo foi interpretada como sendo a posição oficiosa do PS, ao arrepio da decisão da comissão política”, declarou. “Maria de Belém teve a coragem de opor a pedagogia democrática ao populismo fácil e demagógico”, sublinhou, notando que a ex-presidente do partido “tentou uma campanha de temas, preocupou-se em aprofundar o papel do Presidente da República na defesa do prestígio das instituições do país. Deu testemunho das causas que defenderia, recusou-se, no entanto, como fizeram outros candidatos, prometer o que não pode fazer. O Presidente da República não governa, mas é inspirador de causas”.