Oposição síria recusa negociar antes do fim dos bombardeamentos russos
Mais de 90 civis mortos em raides atribuídos à aviação de Moscovo. Forças leais a Bashar al-Assad ganham terreno.
As muito aguardadas conversações de paz sobre a Síria, que pela primeira vez deveriam juntar à mesa os rivais sauditas e iranianos, continuam previstas, mas já ninguém acredita que comecem no dia marcado, segunda-feira. Um dos principais opositores no exílio, George Sabra, exige que os russos ponham fim aos seus bombardeamentos no país antes de se sentar à mesa com os representantes do regime de Bashar al-Assad.
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As muito aguardadas conversações de paz sobre a Síria, que pela primeira vez deveriam juntar à mesa os rivais sauditas e iranianos, continuam previstas, mas já ninguém acredita que comecem no dia marcado, segunda-feira. Um dos principais opositores no exílio, George Sabra, exige que os russos ponham fim aos seus bombardeamentos no país antes de se sentar à mesa com os representantes do regime de Bashar al-Assad.
Sabra lembra que na resolução aprovada pelo Conselho de Segurança a 18 de Dezembro se enumeram uma série de medidas a tomar antes do arranque das conversações, incluindo o fim dos cercos a zonas com civis e a libertação dos presos políticos. “Os bombardeamentos de civis pela aviação russa têm de terminar”, diz Sabra.
Ainda no sábado, ataques que a oposição diz terem sido lançados pelos russos mataram pelo menos 47 civis (a Reuters fala em 63), incluindo nove crianças, na vila de Khasham, a 20 quilómetros da cidade de Deir Ezzor, no Nordeste do país. Ao todo, durante o fim-de-semana morreram mais de 90 civis em raides aéreos atribuídos aos russos na região.
Deir Ezzor é a cidade onde o Daash (Estado Islâmico) lançou há uma semana uma operação contra os bairros que o regime ainda controla. Desde então, mais de 500 pessoas morreram nos combates entre jihadistas e milícias pró-regime, nos bombardeamentos russos e sírios ou executados pelos radicais. Estes têm ainda 130 civis feitos prisoneiros na cidade.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, insiste que “com boa vontade as conversações vão começar nos próximos dias em Genebra”, mesmo que com atraso, mas os obstáculos são muitos.
Os russos recusam um dos representantes propostos pelo Alto Comité de Negociações, formado na Arábia Saudita, membro de um grupo que Moscovo considera terrorista. Os turcos recusam que a oposição curda esteja representada. E ninguém arrisca dizer se o Irão sempre estará presente, tendo em conta a subida de tensões recente com Riad. O representante da ONU para o conflito, Staffan de Mistura, afirma que não enviará convites a nenhum país antes de as negociações terem, facto, começado.
O regime de Bashar al-Assad diz-se pronto para começar a falar, enquanto avança no terreno com a colaboração dos bombardeamentos russos e de membros do Hezbollah libanês no terreno. Este domingo, tomou a cidade de Rabia, último bastião do Daash na região estratégica e costeira de Latakia (capital do chamado país alauita, a minoria xiita a que pertence Assad), anunciou a televisão estatal. E nos últimos meses, desde a entrada dos aviões russos no conflito, tem somado vitórias contra grupos rebeldes nas províncias de Alepo (Noroeste) e Deraa (Sul).
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, a ONG próxima da oposição que tenta contabilizar as vítimas do conflito, mais de mil civis morreram debaixo de bombas russas desde que Vladimir Putin decidiu entrar directamente no conflito, no fim de Setembro do ano passado. Ao todo, pelo menos 260 mil pessoas foram mortas na Síria desde o início da revolta pró-democrática contra Assad, em Março de 2011. A ONU já registou 4,4 milhões de sírios como refugiados e diz que há outros seis milhões de deslocados internos.