Em clima de violência, Haiti cancela segunda volta das presidenciais
Candidato da oposição desistira de fazer campanha alegando irregularidades na votação da primeira volta. O país esteve um ano sem Parlamento - também se realizaria a segunda volta das legislativas - a ser governado por decretos presidenciais.
As eleições de domingo no Haiti foram canceladas devido aos riscos de haver uma escalada na violência. Segundo o presidente da comissão eleitoral, Pierre Louis Opont, a segunda volta eleitoral, presidencial, legislativa e municipal, que já tinha sido adiada por duas vezes, também não se realizará agora, mas não foi adiantada uma nova data.
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As eleições de domingo no Haiti foram canceladas devido aos riscos de haver uma escalada na violência. Segundo o presidente da comissão eleitoral, Pierre Louis Opont, a segunda volta eleitoral, presidencial, legislativa e municipal, que já tinha sido adiada por duas vezes, também não se realizará agora, mas não foi adiantada uma nova data.
O anúncio, feito na sexta-feira à noite, motivou manifestações de contentamento por parte de grupos da oposição que defendiam a não realização das eleições na data prevista. A oposição promoveu, na última semana, acções de desobediência civil que transformaram as ruas da capital, Port-au-Prince, num campo de batalha. Os protestos estenderam-se ainda a outros pontos do país.
Mas o ambiente de festa acabou rapidamente quando a polícia investiu contra os manifestantes, como já tinha acontecido ao longo da semana. Ouviram-se disparos, relata a Reuters.
Com este adiamento, as autoridades esperam baixar o clima de grande tensão que se vive neste país de dez milhões de habitantes que está em ruínas. Além de não se ter conseguido reconstruir depois do terramoto de há seis anos que matou 300 mil pessoas, o Haiti está empobrecido e mergulhado numa profunda crise institucional.
Os analistas disseram que estas eleições iriam agravar - não resolver - a crise política neste país que se debate com dificuldades para estabelecer uma democracia legítima desde que terminou a ditadura da família Duvallier, em 1986. Sucessivos golpes de Estado e eleições fraudulentas enfraqueceram as instituições e impediram o funcionamento normal do país.
Na semana passada, o candidato da oposição que passou à segunda volta das presidenciais nas eleições de Outubro do ano passado, Jude Celestin, retirou-se da corrida, acusando o partido no poder (o Tet Kale) de ter manipulado os resultados e de ter cometido fraude generalizada a favor do seu candidato, Jovenel Moïse. Este é, por seu lado, acusado de não passar de um fantoche do Presidente em fim de mandato, Michel Martelly, que não pode recandidatar-se mas que não quer abdicar do poder. Para agravar a crise, continuam sem existir condições para o arranque do trabalho legislativo do Parlamento, que foi dissolvido em Janeiro de 2015 por ter sido ultrapassado o prazo legal de validade dos mandatos dos deputados sem que tivessem sido convocadas eleições. Durante todo o ano, o Presidente governou por decreto.
"O facto de a comissão eleitoral ter sido forçada a desistir desta farsa eleitoral é uma vitória para o povo haitiano", disse Jean-Charles Moïse, outro candidato da oposição na primeira volta que disse que a fraude eleitoral o afastou da segunda volta.
O Governo reuniu-se para planear "acções que garantam a ordem pública e a segurança das pessoas e das prioridades", anunciou em comunicado o gabinete do primeiro-ministro, sem dar mais pormenores. No seu anúncio de adiamento, a comissão eleitoral referiu que na sexta-feira muitos centros de voto foram incendiados e que vários locais, alguns ligados à candidatura de Jovenel Moïse, foram atacados, incluindo por homens armados.
Jovenel Moïse tinha-se manifestado a favor da realização da eleição, mesmo sendo ele o único candidato a fazer campanha, dizendo que era essa a vontade do povo.
Nesse mesmo dia milhares de pessoas manifestaram-se em Port-au-Prince gritando frases contra o partido no poder. A polícia interveio para dispersar o protesto. "O rumo que Martelly deu ao país não é bom. Dizemos não a esse regime. A eleição foi uma fraude", disse à Reuters um dos manifestantes, Rolando Joilcoeui.