Rajoy recusa ser nomeado por Felipe VI para tentar formar governo

Ao contrário do que defendia o próprio líder do Partido Socialista, o candidato mais votado declinou a oferta para tentar ser investido pelo Congresso. Próxima ronda de audiências dos partidos começa na quarta-feira, dia 27.

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Mariano Rajoy à chegada nesta sexta-feira ao Palácio da Zarzuela para o encontro com o rei REUTERS/Andres Ballesteros

O último dia das audiências do rei Felipe VI com os partidos eleitos para o Congresso espanhol nas legislativas de 20 de Dezembro começou com uma surpresa – Pablo Iglesias a oferecer-se como vice-presidente do líder socialista, Pedro Sánchez – e acabou com outra ainda maior, quando o monarca decidiu nomear o ainda primeiro-ministro em funções e candidato mais votado, Mariano Rajoy, e este recusou a investidura.

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O último dia das audiências do rei Felipe VI com os partidos eleitos para o Congresso espanhol nas legislativas de 20 de Dezembro começou com uma surpresa – Pablo Iglesias a oferecer-se como vice-presidente do líder socialista, Pedro Sánchez – e acabou com outra ainda maior, quando o monarca decidiu nomear o ainda primeiro-ministro em funções e candidato mais votado, Mariano Rajoy, e este recusou a investidura.

No final de um encontro de uma hora e meia com o líder da direita, o monarca chamou o presidente do Congresso, Patxi López, ao Palácio da Zarzuela para lhe comunicar a sua decisão. "Terminámos esta ronda", comentou Felipe ao líder conservador, enquanto posavam para os fotógrafos. A frase foi interpretada tendo em conta a impossibilidade de Rajoy ser eleito na primeira votação no Congresso. Afinal, não há candidato nomeado e a próxima ronda já tem data marcada para começar  a próxima quarta-feira, dia 27 de Janeiro.

Nunca na história da democracia espanhola um candidato escolhido pelo monarca recusou apresentar-se à sessão de investidura. Mas também nunca tinha sido eleito um Congresso tão fragmentado, fruto da irrupção da esquerda do Podemos e do partido de centro-direita Cidadãos.

"Sua majestade ofereceu-se para me nomear como candidato. Agradeci-lhe o gesto mas disse-lhe que hoje, neste momento, não estou em condições de apresentar-me. Não só não tenho uma maioria de votos a favor, tenho uma maioria de votos contra", afirmou Rajoy ao início da noite, numa conferência de imprensa na sede do governo. O líder conservador disse acreditar "ter uma opção, a opção da moderação, que teria 252 deputados e a maioria do Congresso, e que responde ao sentir maioritário dos cidadãos".

Estas são as contas de uma coligação de governo ou de apoio parlamentar que juntasse os 123 deputados do PP, aos 90 do PSOE com os 40 dos Cidadãos (menos o próprio Rajoy). "Pedro Sánchez quer uma coisa diferente do que eu proponho. Quer um pacto com o Podemos, com os catalães e com a Esquerda Unida. Isso não convém a Espanha", defendeu Rajoy. "Eu proponho um acordo entre PP, PSOE e Cidadãos. É o mais sensato e moderado."

Acusando Sánchez de se ter recusado a falar consigo, Rajoy repetiu várias vezes que é o "representante do principal partido de Espanha, que tem sete milhões de votos".

Rajoy sabe que nunca obteria a maioria de 176 votos no hemiciclo de 350. Conseguir uma maioria absoluta à esquerda também é quase impossível, mas é mais fácil aos socialistas reunirem mais votos contra do que a favor, o que é suficiente para a investidura a partir da segunda votação.

Assumir responsabilidades
Horas antes, o líder do PSOE dissera ao rei que Rajoy deveria tentar formar governo, mas garantiu que votaria contra. O mesmo fariam os 69 deputados eleitos pelo Podemos ou em coligações apoiadas pelo partido de Iglesias, assim como formações mais pequenas como a Esquerda Unida ou os vários partidos nacionalistas catalães e bascos.

Recebido pelo monarca ao final da manhã, Sánchez afirmou que "a democracia tem tempos e este é o momento de Rajoy" se apresentar. "Tem de ir a votos. Se falhar, nós estaremos aqui para assumir as nossas responsabilidades. O Partido Socialista fará tudo para formar um governo progressista e estenderemos a mão à esquerda e à direita", disse.

O dia tinha começado com uma surpresa preparada pela direcção do Podemos. Iglesias informou o rei que está pronto para entrar num "governo de mudança" que reverta as políticas de austeridade do executivo de direita de Rajoy, defendendo uma coligação de esquerda e um governo que tenha Sánchez como presidente, a si próprio como vice, e conte ainda com o apoio da Esquerda Unida e "de outras forças parlamentares necessárias".

"Decidimos assumir a iniciativa e dar um passo em frente. Este não é um momento para meias medidas. Ou se defende a mudança ou se está do lado do imobilismo e do bloqueio", disse Iglesias.

O líder socialista explicou depois que foi o próprio monarca a informá-lo da proposta de Iglesias. "Entrei na Zarzuela sem um governo e pelos vistos já tenho ministros e tudo", ironizou, numa conferência de imprensa. "Sinceramente, agradeço a proposta de Pablo Iglesias", disse um pouco depois, lembrando que PSOE e Podemos "partilham muito do diagnóstico dos problemas do país, a necessidade de lutar contra a desigualdade, contra o desemprego entre os jovens, de enfrentar a crise [independentista] na Catalunha".

Num só dia, Sánchez acaba encostado à parede pela sua esquerda e pela direita e agora será obrigado a tomar a iniciativa. Vários dirigentes do PP acusaram-no nos últimos dias de se querer "salvar a si próprio às custas do país". As mesmas acusações poderão ser agora feitas a Rajoy. Sendo certo que outros partidos recusarão coligar-se com o PP se ele se mantiver na liderança e que muitos no seu partido o querem ver afastado no congresso previsto para quando esteja formado governo, Rajoy sabe que só sobreviverá com uma nova ida a votos.