Milhares protestam na Moldova contra novo Governo pró-europeu
Defensores de uma maior integração europeia no pequeno país de Leste enfrentam graves suspeitas de corrupção. Em 2014 desapareceram quase mil milhões de euros dos bancos moldavos.
À volta de oito mil pessoas protestavam esta quinta-feira diante do Parlamento moldavo contra a nomeação do terceiro primeiro-ministro desde as eleições legislativas de 2014. Desta vez será Pavel Filip, antigo ministro da Tecnologia, a chefiar a mais recente tentativa de um Governo pró-europeu no pequeno ex-satélite soviético, há anos dividido entre a aproximação a Bruxelas e o renovar de laços com Moscovo.
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À volta de oito mil pessoas protestavam esta quinta-feira diante do Parlamento moldavo contra a nomeação do terceiro primeiro-ministro desde as eleições legislativas de 2014. Desta vez será Pavel Filip, antigo ministro da Tecnologia, a chefiar a mais recente tentativa de um Governo pró-europeu no pequeno ex-satélite soviético, há anos dividido entre a aproximação a Bruxelas e o renovar de laços com Moscovo.
Os manifestantes exigem eleições antecipadas e rejeitam um novo Governo liderado pelas mesmas figuras que nos últimos anos têm estado sob fortes suspeitas de corrupção. O caso do desaparecimento de quase mil milhões de euros do sistema bancário moldavo – perto de um oitavo do Produto Interno Bruto do país – provocou a detenção de um antigo primeiro-ministro da coligação pró-europeia e, no mesmo mês de Outubro, a queda do último Governo da aliança, por força dos grandes protestos na capital.
A Moldova é governada desde 2009 por uma aliança instável entre Liberais-Democratas, Democratas e Liberais Reformistas. Juntos, estes três partidos são responsáveis pela recente aproximação do pequeno país de Leste à União Europeia. O último passo neste sentido, dado no Verão de 2014, poucos meses antes da burla milionária, resultou num acordo de associação que facilita o comércio europeu e a autorização de vistos para cidadãos moldavos.
Mas a aproximação europeia da Moldova tem sofrido com os vários tipos de escândalos que atingiram os últimos governos da aliança – mesmo que todos os chefes de Governo tenham prometido duras campanhas contra a corrupção. Ainda antes do escândalo bancário e queda do segundo Governo, o então primeiro-ministro Chiril Gaburici demitiu-se por suspeitas de que o seu diploma universitário era falso.
Aliança parlamentar e Presidente, Nicolae Timofti, resistem aos apelos por eleições antecipadas por receio de perderem para a oposição de esquerda pró-Rússia, galvanizada pelos escândalos de corrupção. Tanto assim é que Pavel Filip é já a terceira escolha para primeiro-ministro desde que o último Governo caiu. Conseguiu na quarta-feira o voto de 57 dos 101 deputados – a maioria depende de um grupo de dissidentes dos Liberais Reformistas que, oficialmente, não estão na coligação.
A oposição boicotou o voto e não estava no Parlamento quando Filip foi empossado, já à meia-noite e contra as indicações do porta-voz da presidência, que anunciara que a cerimónia aconteceria apenas esta quinta-feira. Como resultado, milhares de manifestantes juntaram-se no exterior do edifício e dezenas de pessoas conseguiram furar o cordão policial e invadir o Parlamento, causando dezenas de feridos entre polícia e manifestantes. O porta-voz do Presidente demitiu-se.
Poucos acreditam que o novo Governo moldavo resista à turbulência. É não apenas uma escolha de último recurso, já que o Presidente pró-europeu tinha até dia 29 de Janeiro para investir um novo primeiro-ministro, como é também uma figura próxima do polémico milionário Vladimir Plahotniuc, cujo nome foi também sugerido para chefiar o Governo nas últimas semanas. Os manifestantes desta quinta-feira dividiam-se entre defensores de uma aproximação à Rússia e pró-europeus anticorrupção. “Plahotniuc, não te esqueças que a tua casa é na prisão”, gritou-se, segundo o correspondente da Reuters em Chisinau.
Sondagens citadas pela Radio Free Europe indicam que a oposição pró-Rússia conseguiria a maioria num cenário de eleições antecipadas, o que, segundo prometem, resultará numa renegociação do acordo de associação com a UE e em laços mais fortes com Moscovo. A Rússia tem cerca de mil soldados em missão de paz na república separatista de Transnístria, na fronteira entre a Moldova e a Ucrânia, um Estado apoiado pelo Kremlin mas não-reconhecido pelas Nações Unidas.